Apesar de seu indiscutível sucesso de audiência (casa dos 40 pontos) e de suas qualidades (muitas atuações impecáveis, trilha sonora atrativa, cenários magníficos, agilidade pós-fase inicial, entre outras), O Outro Lado do Paraíso tem grandes erros, os quais prejudicam sua avaliação geral. Nesse sentido, esta coluna elencou e analisou os cinco maiores erros do folhetim de Walcyr Carrasco.
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Sabe-se que por se tratar de um produto assistido por todos os públicos, uma novela precisa ter linguagem acessível, de fácil entendimento e compreensão. Entretanto, seu roteiro não necessariamente tem de ser simplista. Os diálogos da trama das 21h passam longe de qualquer grau de sutileza. Joga-se na cara do telespectador frases de efeito, expressadas sem contexto tão apropriado; além disso, tudo é sempre didático ao extremo, o que constrange os bons ouvintes.
Por falar em roteiro, este espaço analítico destaca também os furos inverossímeis presentes no roteiro da novela dirigida por Mauro Mendonça Filho e André Felipe Binder. Para não alongar demasiadamente a coluna, destacam-se alguns: Patrick (Thiago Fragoso) é um dos melhores advogados do país, porém não conseguiu tirar a tia-avó Beatriz (Nathália Timberg) do hospício; Renato (Rafael Cardoso) casou-se com Lívia (Grazi Massafera), mesmo amando Clara, e não procurou ter certeza sobre o paradeiro desta após a fuga do hospício; com a nova fase, Clara usa roupas chiques (de saídas) até dentro de casa; Raquel (Erika Januza), uma moça tão correta, íntegra, juíza, ficou várias vezes com Bruno (Caio Paduan), embora saiba que ele é casado; Samuel (Eriberto Leão) roubava calcinhas da esposa Suzy (Ellen Roche), mesmo sendo mais lógico comprar; por fim, teria sido mais vantajoso Natanael (Juca de Oliveira) matar ao invés de forçar Elizabeth/Duda (Gloria Pires) a se passar por morta.
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Por conta da pressão dos resultados do grupo de discussão realizado antecipadamente pela Globo e do próprio público de casa, em suas manifestações nas redes sociais, a produção de O Outro Lado do Paraíso teve que ampliar o espaço para o humor, com o objetivo de dar leveza ao folhetim pesado. Porém, personagens ou núcleos que deveriam ser tratados com seriedade ganharam contornos humorísticos. Como exemplos, o núcleo do médico gay enrustido (Samuel) e da preconceituosa Nádia (Eliane Giardini). Fica até difícil rir com tais núcleos. Apesar de ambos tratarem de assuntos delicados, a produção preferiu transformá-los em esquetes do antigo Zorra Total. A cena em que Suzy (Ellen Rocche) descobre a verdade sobre a sexualidade de seu marido nem precisa ser comentada para argumentar as afirmações anteriores. Por sua vez, Nádia tem enveredado pela comédia tanto nas cenas no salão como nas preliminares com seu marido. Como ter empatia e rir com uma personagem explicitamente mau caráter?
Ainda sobre núcleos, ressalta-se a quantidade de tramas chatas presentes no folhetim da Globo. Em uma novela é comum não gostar de um núcleo ou outro, incomum é mais de dois núcleos indigeríveis. Deve ser raridade alguém que goste das seguintes tramas: Mercedes (da sempre fenomenal Fernanda Montenegro) e suas visões que ou não dizem nada ou não muda o que já se sabe; Diego (Arthur Aguiar) e sua namorada; quem também enjoou vendo aquela sequência gigante dos policiais os perseguindo? Não vi nada além de merchandising ali; Estela (Juliana Caldas) e seu vitimismo irritante. Por sinal, poderia estar no tópico do parágrafo anterior. O assunto é sério e relevante, mas preferiram humorizar, romancear exageradamente e tornar intragável a personagem Estela.
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Para fechar os cinco erros, enfatiza-se o subaproveitamento de bons atores. São muitos, mas Zezé Motta (Mãe), Bárbara Paz (Jô) e os veteranos Nathália Timberg (Beatriz), Lima Duarte (Josafá) e Juca de Oliveira (Natanael) merecem destaque. Não adianta apenas incluir nomes de peso em uma trama. Nesses casos, faz-se necessário desenvolver e coroar a escalação com personagens à altura de cada ator, com a devida valorização artístico-profissional. Sem mais!
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