“Verdades Secretas”, nova e primeira novela inédita da faixa das 23h da Globo, estreou nesta última segunda-feira (08). Foi necessário acompanhar a semana inteira da trama, para realizar uma análise mais apurada desta estreia do folhetim.
Antes de abordar a novela, vale destacar a boa decisão da Globo em apostar em tramas inéditas para o horário, e não mais remakes. Esta tática da emissora, aliás, preza por certo conforto, já que uma trama inédita não corre o risco de cair nas velhas e inevitáveis comparações às quais os remakes sempre são submetidos.
A história de Walcyr Carrasco tem início no interior de São Paulo, onde a protagonista Arlete (Camila Queiroz), sonha ser uma modelo famosa, ao mesmo tempo em que sua mãe Carolina (Drica Moraes), uma dona de casa batalhadora, descobre que o marido Rogério (Tarcísio Meira), tem outra família. O casal se separa, e Carolina e Arlete se mudam para a capital.
A trama tem prosseguimento com Arlete sofrendo bullying em um colégio frequentado por ricos, com meninas populares que se julgam no direito de humilhar outros estudantes de classe inferior. Os elementos que o autor usou para retratar a situação e o ambiente, fugiu um pouco da realidade brasileira, e pareceu algo semelhante ao que acontece em escolas norte-americanas. O clima mais familiar também foi perdido a partir daí. O foco do enredo na personagem em seu ambiente escolar e em festas jovens, com algumas cenas intercaladas de sexo, deu à trama um ar extremamente juvenil, algo que poderia ser comparado à uma espécie de “Malhação” para adultos.
A fotografia e produção têm que ser exaltada, tudo bem caprichado. A direção idem. Mais um ótimo trabalho de Mauro Mendonça Filho, que também teve um bom desempenho a frente da série “Dupla Identidade”. O diretor tem uma certa mania de inovações, e assim como fez na série de Glória Perez, excluiu as indicações “estamos apresentando” e “voltamos a apresentar” nas saídas para o intervalo. A exclusão é interessante, mas para “Verdades Secretas”, que se trata de uma novela, a decisão não caiu muito bem. Quem acompanha a trama, sabe que o tipo de arte utilizada na saída para o break, pode confundir com o término do capítulo, e acarretar numa perda de público antes do capítulo chegar ao fim.
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Sobre as atuações, o que há para destacar é o bom desempenho de Drica Moraes, Marieta Severo e Rainer Cadete. Camila Queiroz vai bem para uma atriz ainda inexperiente, que vem encarando o desafio de interpretar uma protagonista que se submete à cenas ousadas. No entanto, ainda não chega a surpreender. O tema “universo da moda”, no qual já está ambientada – ela que é modelo – lhe beneficiou bastante para a composição da personagem. A protagonista, aliás, é lançada com o famoso clichê de jovem humilde, ingênua, que chama atenção pela beleza, e terá que lidar com o poder, perversidade e inveja que existe em um universo paralelo ao seu. Características dignas de protagonista de folhetim mexicano, e que é visto por alguns como uma forma de “apelação” dos autores para provocar uma identificação maior do público com a personagem.
Drica Moraes já vinha de um desempenho bastante elogiado em “Império”. A sua boa atuação em “Verdades Secretas” ressalta o rótulo de ótima atriz, afinal, interpretou uma vilã na trama de Aguinaldo Silva, e agora dá vida a uma dona de casa batalhadora, e se sai muito bem em ambos os papéis. A boa sintonia com Camila Queiroz em cena também é um ponto positivo. Vale lembrar que Drica foi chamada às pressas para substituir Deborah Secco, que teve que deixar o elenco do folhetim em virtude da gravidez.
Marieta Severo conseguiu se desapegar da imagem de dona Nenê de “A Grande Família”, personagem que interpretou durante 13 anos. Agora, dando vida à uma dona de agência de modelos, com cenas bem mais ousadas, a veterana atriz vem se sobressaindo e fazendo uma ótima incorporação de personagem.
Rainer Cadete assumiu um papel já saturado em novelas: o de gay caricato. Apesar de alguns exageros, que muitas vezes é característica “obrigatória” do personagem, o ator vem conseguindo passar um bom realismo dentro das características do papel. Para efeito comparativo de péssimas atuações de personagens gays, pode ser citado Paulo Betti, interpretando o jornalista Téo Pereira em “Império”.
“Verdades Secretas” vem na contramão da onda do conservadorismo. O horário é propício para a utilização de elementos e temas mais espinhosos, algo que vem blindando a novela de possíveis boicotes e razão que pode explicar a liberdade que recebeu da emissora para isso. O tema “universo e bastidores da moda” é bem interessante e uma ótima sacada de Walcy Carrasco. No entanto, a trama poderia ter ganhado mais volume, principalmente nestes primeiros capítulos, que são os responsáveis por prender o telespectador. Sabemos que este tipo de falha vem se tornando cada vez mais comum em novelas. As tramas vêm perdendo “movimento” e se tornando cada vez mais conceituais.
A novela de Walcyr Carrasco é boa, mas não confunda com ótima, marcante ou surpreendente. O folhetim tem potencial para ir além, mas até o momento, vem deixando a desejar. Os ganchos (incluindo os dos intervalos e os finais) estão fraquíssimos. A trama juvenil poderia perder mais espaço, enquanto que a adulta deveria ganhar mais atenção. Tomara que o “Secretas” do título esconda um enredo com mais volume, que vai ser posto em prática logo. Alguns quesitos estão de acordo, já outros precisariam de ajustes imediatos.
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