Multa astronômica e ataque a Silvio Santos: a polêmica transferência de Ratinho da Record para o SBT


Ratinho no comando do programa Ratinho Livre, da Record. (Foto: Divulgação)
Ratinho no comando do programa Ratinho Livre, da Record. (Foto: Divulgação)

Em 1998, o SBT tirou Ratinho da Record, mas enfrentou uma série de problemas com isso

Quem nasceu a partir dos anos 2000 e hoje vê Ratinho consolidado na audiência e como um dos principais nomes do SBT, mal pode imaginar que o apresentador explodiu mesmo na TV na principal concorrente da emissora de Silvio Santos, a Record, e sua transição entre os dois canais foi das mais polêmicas, algo comparado a um grande jogador de futebol, que decide trocar o seu atual time pelo principal rival.

Carlos Massa, o Ratinho, despertou a atenção da Record em 1996, quando comandou o 190 Urgente, programa policial da CNT, canal paranaense. O estilo irreverente e sem papas na língua, inspirado no seu mentor, o saudoso radialista Luiz Carlos Alborghetti, fez com que Ratinho ganhasse sua primeira oportunidade em rede nacional cedo, em 1997, apresentando o Ratinho Livre, na Record.

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Explorando casos bizarros e briga de casais, no maior estilo popularesco, o Ratinho Livre foi um estouro de audiência na Record, chegando, por vezes, a derrotar a Globo no horário nobre, algo que era comemorado no ar e sem muito pudor pelo apresentador, que dançava em cima da sua bancada ao som da vinheta do Jornal Nacional.

O sucesso de Ratinho na Record fez com que outra emissora ficasse de olho no seu passe: justamente o SBT. Silvio Santos insistia em contar com o apresentador, mesmo que a negociação fosse bastante complexa e sofresse resistência dentro do próprio SBT.

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“DETALHE” DE R$ 43 MILHÕES

Apesar do estilo irreverente do seu programa, Ratinho ainda demonstrava insatisfação com a falta de liberdade na Record, e decidiu abrir conversas com o concorrente. A proposta de Silvio Santos era para lá de tentadora: Ratinho comandaria um programa nos mesmos moldes do seu na Record; teria a liberdade que tanto almejava e receberia mais que o dobro do salário: R$ 800 mil fixos mais merchandising, podendo chegar a R$ 1 milhão no total — na Record, seus ganhos eram de cerca de R$ 400 mil mensais.

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No meio de tudo isso, havia um “pequeno detalhe”: a multa rescisória de Ratinho na Record, que girava em torno de R$ 43 milhões. Para se ter uma ideia da expressividade desse valor, que é considerado astronômico ainda para os dias atuais, o bispo Edir Macedo efetuou a compra da Record, em 1990, por R$ 45 milhões. Ou seja, ao decidir adquirir o passe de Ratinho, o SBT teria de desembolsar um valor que poderia comprar a Record inteira.

De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, os executivos do SBT, Luciano Callegari e Guilherme Stoliar, se mostravam contrários a essa negociação, por envolver valores tão altos, e que caía em contradição, pelo momento delicado da emissora, que no ano anterior, havia demitido mais 200 funcionários para cortar gastos, especialmente no departamento de jornalismo, que nunca foi visto com bons olhos por Silvio Santos.

Ratinho ao lado de Silvio Santos. (Foto: Reprodução)
Ratinho ao lado de Silvio Santos. (Foto: Reprodução)

LEVOU, ENTÃO PAGUE!

E após uma semana de negociações, no dia 27 de agosto de 1998, veio a notícia de que Ratinho havia assinado contrato com o SBT, contrariando Callegari e Stoliar, que revoltados, decidiram pedir demissão. Mas isso era apenas o início de uma novela que ganharia vários capítulos.

A Record demonstrou absoluta revolta com a situação. Isso porque, Silvio Santos, em mais um dos seus negócios duvidosos, acertou com Ratinho, mas não havia pagado a multa de rescisão ao concorrente, e nem fazia menção para isso. A emissora dos bispos decidiu então entrar na justiça para cobrar a multa de R$ 43 milhões, além do reembolso de um adiantamento no valor de R$ 5 milhões que havia pagado a Ratinho.

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No mesmo dia do anúncio, o SBT realizou uma coletiva de imprensa com Ratinho para tentar esclarecer a situação, e empolgada, fez questão de gravá-la e exibi-la praticamente na íntegra em sua programação. No encontro com os jornalistas, Ratinho ressaltou que a falta de liberdade na Record foi o motivo primordial para sua transferência, e chegou a se autodenominar “picareta”.

“Sou um picareta. Mas não um picareta no mau sentido. Sou um daqueles que fazem ‘rolos’, que trabalham em várias coisas. Nunca tive carteira assinada”, declarou. “Principalmente no último mês, não vinha tendo liberdade na produção de meu programa. Isso foi um dos motivos que me levou a sair”, concluiu.

https://www.youtube.com/watch?v=3jH_SXfheZI

O descontentamento da Record com esse acordo foi exposto publicamente. Nos intervalos da última edição do Ratinho Livre, que exibiu trechos gravados com melhores momentos da semana, a emissora dos bispos passou a divulgar um comunicado, em que criticava a postura de Ratinho, e chegou a atacar o próprio Silvio Santos.

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“Ratinho e SBT, em conluio, fogem do cumprimento da elementar obrigação contratual, sobre o pagamento da multa rescisória à Record, amplamente divulgada pela imprensa”, diz a emissora em um trecho do comunicado. “O senhor Silvio Santos, que tanto apregoa a honestidade e obediência aos princípios da justiça, neste episódio, não deu o ar de sua anunciada responsabilidade como empresário”, disparou em outro trecho.

Gilberto Barros foi escalado para substituir Ratinho na Record. (Foto: Montagem/Reprodução)
Gilberto Barros foi escalado para substituir Ratinho na Record. (Foto: Montagem/Reprodução)

CORRERIA

A Record teve de se apressar para definir um substituto, e elegeu Gilberto Barros, que passou a comandar o Leão Livre, programa que tinha praticamente o mesmo estilo e formato do Ratinho Livre, e que foi lançado às pressas, apenas quatro dias após o início de toda essa polêmica.

Ratinho, por sua vez, estreou oficialmente no SBT cerca de uma semana depois, em 8 de setembro de 1998, apresentando o Programa do Ratinho, que teve seu lançamento antecipado, depois que a Record entrou com uma liminar para tentar impedir a divulgação da nova atração.

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A batalha judicial entre Record e SBT pelo pagamento dos valores envolvidos nessa transferência se arrastou por cerca de um ano. Os rumores que circulavam nos bastidores davam conta de que o SBT não tinha a menor condição de pagar a multa de Ratinho. O valor então caiu de R$ 43 para R$ 26 milhões, mas Silvio Santos conseguiu diminuir ainda mais, e finalmente acertou a dívida desembolsando “apenas” R$ 14 milhões.

No SBT, Ratinho não chegou a alcançar os mesmos índices dos seus tempos de Record. O programa permaneceu no ar ininterruptamente até 2006, quando foi cancelado após enfrentar uma crise de audiência. Porém, acabou sendo resgatado três anos depois, em um acordo diferente, de sociedade, no qual Ratinho passa a arcar com parte das despesas de produção. Vale dizer que o apresentador também tornou-se um empresário bem sucedido, dono de um grupo de comunicação.

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E hoje, mais de 20 anos depois da sua estreia no SBT, e apesar dos altos e baixos, Ratinho tem consolidada uma ligação estreita com a emissora. No ano passado, em entrevista ao extinto programa Poder em Foco, ele revelou que, justamente por essa forte ligação que possui com o SBT, teme ser demitido pelo canal.

“Corro do Silvio Santos o máximo que posso. Tenho medo dele me mandar embora. Onde eu vou trabalhar? Record vai me querer? Globo vai me querer? Band? RedeTV!?”, disparou o apresentador. “Quero sair daqui em uma cadeira de rodas, carregado para o cemitério. Quero morrer na televisão. Televisão pra mim não é trabalho, é um parque de diversões. Se eu pudesse morar no trabalho eu faria uma casa e moraria aqui dentro”, finalizou.

Programa do Ratinho permanece no ar no SBT. (Foto: Divulgação)
Programa do Ratinho permanece no ar no SBT. (Foto: Divulgação)

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Formado em jornalismo, fui um dos principais jornalistas do TV Foco, no qual permaneci por longos anos cobrindo celebridades, TV, análises e tudo que rola no mundo da TV. Amo me apaixonar e acompanhar tudo que rola dentro e fora da telinha e levar ao público tudo em detalhes com bastante credibilidade e forte apuração jornalística.