Farmácia tradicional de São Paulo, após anos de existência, acabou se envolvendo em escândalo de falsificação e acabou amargando fim e falência, gerando um grande choque entre consumidores
Em sua maioria, as farmácias desempenham um papel multifacetado na sociedade, indo muito além de simplesmente fornecer medicamentos. Vistas como comércios de primeira necessidade, os seus pontos oferecem tanto auxílio à saúde, como também abrangem cuidados pessoais, aconselhamento e suporte valiosos para as pessoas, contribuindo para o bem-estar geral e a qualidade de vida de todos.
Dada a sua importância, é até difícil de acreditar que um empreendimento tão necessário quanto esse possa vir a falir não é mesmo? Mas infelizmente não é bem assim … Só para ter uma noção, segundo dados da SincoFarma, os fechamentos de farmácias atingem 37 a cada 100 lojas só aqui no Brasil.
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Inclusive, esses dados não afetam apenas as menores como gigantes do setor também. Como ocorreu no ano de 2014 com a Botica Ao Veado d’Ouro, fundada ainda em 1958 e considerada nº1 e uma das mais tradicionais do centro histórico de São Paulo, cujo fim foi decretado após um escândalo que chocou o país.
Tradição
De acordo com o portal Wiki, o estabelecimento começou como um comércio, o qual vendia produtos de papelaria, livros e algumas miudezas, ou seja, nem de longe lembrava o que viria a ser uma farmácia.
O comércio originalmente abriu na rua São Bento, que na época era uma das principais ruas da capital. Mas com o passar do tempo, este pequeno comércio decidiu mudar o ramo e passou a investir em produtos farmacêuticos, o que foi uma das suas escolhas mais acertadas.
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Curiosamente, quando a Botica Ao Veado d’Ouro abriu em São Paulo a cidade possuía apenas 30 mil habitantes. Atualmente, São Paulo possui aproximadamente 12,3 milhões de habitantes, considerada a maior cidade do Brasil e, inclusive, é uma das mais populosas do mundo.
Mas na época, como a cidade ainda era muito pequena quando comparada ao contexto atual, surgiu a necessidade de atender grande parte desta população com esse tipo de produto, tendo em vista que São Paulo possuía apenas quatro farmacêuticos formados cujos quais poderiam atender essa demanda.
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Escândalo e morte
Ainda de acordo com o portal mencionado, o fundador da Botica Ao Veado d’Ouro foi Gustavo Schaumann, cujo qual tinha como pretensão criar uma rede de farmácias de alto nível para suprir essas mesmas necessidades.
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O emblema do estabelecimento era o brasão da família Schaumann, com a adição de uma escultura de veado dourado no centro.
No entanto, com o passar dos anos, o controle da farmácia passou para o filho de Gustavo, Henrique Schaumann. A nível de curiosidade, a cidade de São Paulo possui uma famosa avenida com o nome de Henrique.
Após um longo período, outros empresários começaram a ter interesse no negócio familiar e passaram a tomar o controle da empresa. Mas fatalmente, ainda no ano de 1998, a farmácia se envolveu em um escândalo estratosférico e que ficou conhecido a nível nacional.
Isso porque a farmácia foi acusada pela falsificação do medicamento Androcur (destinado essencialmente ao tratamento de câncer de próstata).
Segundo investigações realizadas à época, a Botica produziu cerca de um milhão e trezentos mil comprimidos de placebo e para piorar o cenário. Segundo o Jornal Folha de S.Paulo, naquele mesmo ano, a farmácia já havia sido fechada pela Vigilância Sanitária por não estar em condições adequadas de funcionamento.
Vale dizer que a fabricação de placebo em si não é ilegal, desde que observadas as quantidades permitidas para cada fabricante bem como o fim a que se destina.
Quando retirados e levados para outro endereço, os comprimidos-placebo eram embalados e recebiam um rótulo falsificado do Androcur.
Além disso, de acordo com o portal Notícias Concursos, a polícia confirmou à época pelo menos 11 mortes relacionadas ao caso de falsificação por parte da farmácia. As mortes dos homens foram causadas por um quadro acelerado de câncer de próstata, atribuído ao uso do medicamento falsificado; Veja a investigação completa no vídeo abaixo:
Quando a Botica Ao Veado d’Ouro faliu de vez?
Como era de se esperar, o escândalo marcou a Botica Ao Veado d’Ouro de forma irremediável, sendo o evento ainda lembrado por muitos paulistanos por décadas depois.
No ano de 2008, diante da sua queda e praticamente sem nenhuma entrada de receita suficiente para se manter de pé, a Botica precisou encerrar suas atividades, tendo seus funcionários e donos realocados para a farmácia de manipulação Medida Exata, que ficava no bairro paulistano de Pinheiros e que, segundo o Wiki, também fechou em 2014.
Em dezembro de 2015, 17 anos após o escândalo, os sócios Edgar Helbig e Daniel Eduardo Derkatscheff Vera foram condenados a 13 anos de prisão mas se defenderam alegando que os comprimidos eram produzidos a pedido de um cliente e que, da porta do estabelecimento para fora, desconheciam a destinação dos mesmos.
Porém, de acordo com o portal UOL, o juiz responsável pelo processo em primeira instância afirmou na sentença condenatória de 2003 que os réus: “revelaram torpeza, perversão, malvadez, cupidez e insensibilidade moral, posto que agiram única e exclusivamente visando ao ganho fácil, sem se importarem com o destino de milhares de pessoas”.
Seus advogados entraram com uma série de recursos no Judiciário para tentar anular a sentença. O último recurso, que manteve a condenação, foi julgado em abril de 2015, mas o mandado de prisão, conforme a polícia, só foi expedido em outubro.
Investigadores sabiam que ele recebia dinheiro da aposentadoria e montaram uma campana em uma agência do Brooklin. Quando entrou para receber o benefício, ele foi preso.
Segundo o delegado Osvaldo Nico Gonçalves, o empresário era procurado havia dois meses. A principal dificuldade era que ele não tinha uma rotina definida. O delegado contou que Derkatscheff ficou surpreso com a prisão.
Não foram encontradas manifestações oficiais de representantes da farmácia sobre seu fim especificamente falando, apenas as defesas mencionadas acima dos sócios diante da prisão. Porém é sempre bom lembrar que o espaço permanece aberto caso os mesmos queiram expor a sua versão dos fatos quanto ao fechamento da farmácia.