A Radiografia da Teledramaturgia, Parte 1 – Por Arthur Vivaqua

03/02/2012 às 10h12

Por: TV em Foco

A RADIOGRAFIA DA TELEDRAMATURGIA

 

PARTE 1

 

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RECORD

 

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Analisaremos a Teledramaturgia de cada Emissora em 3 Etapas: Ontem, Hoje e Amanhã. A primeira Emissora a ser radiografada será a Record.

 

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ONTEM

Em 2004, a Record dava início à “Nova Era” de sua teledramaturgia, com a estreia de A Escrava Isaura.

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Isaura, escrita por Tiago Santiago, tornou-se um sucesso de crítica e Ibope, tornando-se o principal baluarte do lendário sloganA Caminho da Liderança“.

De lá para cá, a Emissora conseguiu atrair grandes atores e atrizes, formando um casting de respeito, além de equipe técnica experiente (em sua maioria Ex-Globo), mesclando jovens autores como Tiago Santiago a profissionais já renomados como Lauro César Muniz.

Todas as novelas, sem exceção, mantiveram a vice-liderança em sua Média Geral.

Alguns sucessos deste período são memoráveis:

Essas Mulheres – Pouco Ibope, mas inegavelmente a novela de maior qualidade já produzida fora da Globo. Texto profundo, atuações históricas e cenários impecáveis tornaram a novela de Marcílio Moraes um sucesso de crítica.

Prova de Amor – Um dos maiores sucessos da História da Emissora, a novela de Tiago Santiago foi o primeiro produto da História a arrancar a Liderança do Jornal Nacional por alguns minutos.

Vidas Opostas – Com um enredo polêmico e repleto de violência, a novela alcançou imensa repercussão e Ibope, consagrando diversos atores, como Marcelo Serrado na pele do implacável Delegado Nogueira. Vidas conquistou o Troféu Imprensa de Melhor Novela de 2007.

Caminhos do Coração – Mais um sucesso de Tiago Santiago, dividida em incríveis 3 Temporadas. A Primeira, e de melhor qualidade, ficou diversas vezes em primeiro lugar no Ibope, principalmente às quartas-feiras. A Segunda temporada estreou com impressionantes 24 Pontos de Ibope.

Amor e Intrigas – Atuação histórica de Renata Dominguez na pele da vilã Valquíria, a novela chegou a alcançar picos de 23 Pontos em sua reta final, chegando a obter média de 17 pontos em diversos dias de suas últimas semanas.

Chamas da Vida – Último grande fenômeno da Record, Chamas consagrou Lucinha Lins como a vilã Vilma e André Di Mauro como o pedófilo Lupe. A novela alcançava com frequência os 18 Pontos de média, sendo sucesso de repercussão. 

Salvo algumas derrapadas (Como Luz do Sol, Alta Estação e Promessas de Amor), a Record conseguiu manter em sua Dramaturgia um elevado nível de sucesso e qualidade, chegando a exibir 3 novelas inéditas simultaneamente, prática antes adotada somente pela Globo.

Suas novelas conquistaram um público fiel, mantendo índices quase sempre acima de dois dígitos.

Este cenário animador, no entanto, começou a se deterioram em 2009, quando a Emissora deixou de priorizar suas novelas para promover seus realities (Leia-se A Fazenda), programas popularescos e a estreia do recém-contratado Gugu.

A Grade, antes estável, tornou-se tão imprevisível quanto o futebol de Ronaldinho Gaúcho. Estratégias equivocadas de horário afundaram boas novelas como Poder Paralelo e Bela, a Feia.

O planejamento a longo prazo foi substituído por uma visão imediatista e em 2010, a mesma Emissora que chegou a produzir 3 novelas, dedicou-se por um ano apenas a Ribeirão do Tempo, trama chata, sonolenta e sem nenhuma repercussão na mídia.

Em 2011, uma verdadeira evasão de seus principais nomes desfalcou o casting da Emissora. Foram embora Marcelo Serrado, Gabriel Braga Nunes, Lavínia Vlasak, Tássia Camargo e muitos outros.

Ninguém do mesmo nível destes atores foi contratado para repôr as perdas.

Os picos de 20 pontos foram embora desde 2009. Os vários minutos na Liderança também.

Com uma sucessão de erros, a Record plantou e acabou colhendo seus frutos…

 

HOJE

Atualmente, a Emissora exibe Rebelde, que, vítima de constantes mudanças de horário, raramente chega aos 10 Pontos, chegando a patinar nos 6 em alguns dias.

O rótulo de “Teen” só é mantido por aqueles que não assistem à novela, que merece elogios pela qualidade e capricho de sua Produção.

Com uma Edição ágil, cheia de truques e efeitos bacanas, interpretações excelentes do Elenco Adulto e surpreendentes desempenhos do Elenco Jovem, Rebelde é uma novela agradável e dona de um texto com diálogos inteligentíssimos, claramente inspirados em Séries como Friends, The OC, Gossip Girl & Cia. 

Seu título (homônimo da versão mexicana na qual se baseia), porém, não serviu como trunfo, mas como obstáculo. Rebelde despertou a ira dos fãs mais ardorosos da chamada “Versão Original”, que boicotaram a novela e declararam guerra nas Redes Sociais. Com isso, a trama precisou conquistar um público novo, o que adiciona mérito à sua audiência.

No quesito “Qualidade”, Rebelde é superior à atual temporada de Malhação. Seu estigma de “novela fútil”, no entanto, desperta o preconceito e impede que seus índices cresçam.

Outro fator que milita contra a Novela é o fato de que a Record pouco buscou aproximar-se do Público Jovem ao longo de sua História. A Emissora, que investe no Jornalismo e nos Shows, não possui perfil para atrair a fatia de público à qual Rebelde se destina, transformando a Novela numa ilha rodeada de Programas que em nada contribuem para alavancar sua Audiência.

Vidas em Jogo tinha a Missão de apagar a péssima impressão deixada por Ribeirão do Tempo.

Cristianne Fridman, autora do sucesso Chamas da Vida, apostou em mais uma trama repleta de ação, filão este em que a Record costumava obter bons resultados.

A Premissa da trama era excelente, mas a “Vitória no Bolão” demorou demais para acontecer, fazendo com que as primeiras semanas da Novela fossem lentas (principal defeito de sua antecessora) e se tornassem uma introdução desnecessária. Não ter exibido a “Vitória no Bolão” logo em sua primeira semana foi um erro crucial de Fridman e sua Equipe.

Um outro fator afugentou parte da Audiência tradicional: Vidas em Jogo não possui um casal específico de protagonistas. Na novela, todos os participantes do Bolão são igualmente importantes e a falta do “Mocinho” e da “Mocinha” prejudicaram a identificação do telespectador com a trama. Guilherme Berenguer e Julianne Trevisol tentaram assumir o papel, mas, enquanto o rapaz conseguiu, a moça fracassou, “obrigando” Fridman a investir em tramas secundárias.

O resultado de tudo isto é que Vidas em Jogo, mesmo sendo uma boa Novela, demorou nove longos meses para decolar no Ibope e finalmente sair da casa dos 11 Pontos.

A verdade, porém, é que apesar de ter a mesma autora e um ótimo Elenco, Vidas em Jogo não conseguiu reconquistar os índices de Chamas da Vida (Até agora, o Placar é 14×11 para Chamas na Média Geral).

Quando um Produto semelhante apresenta uma queda brusca, pode-se chegar a uma única conclusão:

Parte do público fiel se debandou para outros lugares. Cerca de 25% de seus antigos telespectadores abandonaram as novelas da Record.

Obviamente, a Emissora ainda está muito acima do SBT no quesito Dramaturgia. A distância para a Globo, porém, parece ter aumentado significativamente nos últimos três anos…

 

AMANHÃ

Em 2012, a Record apostará em Máscaras, Novela do consagrado autor Lauro César Muniz, dono de um texto impecável e que sempre conta com o brilhantismo de Paloma Duarte (maior salário entre os atores da Record) em seu Elenco.

Os primeiros capítulos de Máscaras terão um transatlântico como cenário, o que, a princípio, surge como um diferencial interessante.

Muniz é especialista em criar personagens complexos, que fogem do lugar-comum, e levam o telespectador a pensar. Suas novelas, porém, possuem um preocupante traço em comum: São sucesso de crítica, mas não costumam brilhar no Ibope.

Foi assim com Cidadão Brasileiro e Poder Paralelo, novelas do autor na Record. Ambas possuíam tramas excelentes, atuações dignas de aplauso, mas seus Ibopes raramente ultrapassavam a barreira dos 11 Pontos.

O grande perigo da Dramaturgia Recordiana em 2012, porém, está na 2° Temporada de Rebelde. A Record, como já dito pela Coluna, tem se mostrado especialista em transformar sucessos em fracassos por esticá-los demais.

O ideal era que Rebelde desse um intervalo de um mês para ganhar fôlego, plantar a semente da Saudade em seus telespectadores, e voltar com novos personagens e tramas reformuladas, uma espécie de “O que aconteceu enquanto eles estavam fora do ar?”, no melhor estilo das Séries Americanas.

A Record, porém, costuma achar absurdo perder o Ibope de HOJE para otimizar os índices de AMANHÃ. A (triste) tendência é que a 1° temporada de Rebelde termine numa sexta e a 2° temporada se inicie logo na segunda-feira.

Este erro grave pode causar bizarrices. A 2° temporada não deveria simplesmente ser uma emenda da primeira. Seria preciso reciclar personagens, criar novos ambientes e renovar o fôlego desta boa trama.

Resta saber se a Record saberá administrar Rebelde como ela merece…

 

CONCLUSÃO

Para voltar aos seus 20 Pontos e às suas memoráveis quartas-feiras, a Record possui apenas uma alternativa:

Voltar a oferecer salários milionários e contratar novos rostos.

O ar de “Nova Globo” que imperava nos bons anos de 2005 a 2007 precisa voltar à telinha. Jovens talentos e alguns nomes consagrados precisam ser trazidos, nem que seja a qualquer preço.

O grande Desafio da Dramaturgia da Barra Funda é resgatar a Record que surpreendia seu telespectador.

 

EM BREVE: A Radiografia da Teledramaturgia do SBT

 

Twitter: @ArthurVivaqua

E-Mail: [email protected]

 

A “Culpa” é exclusivamente minha -> As opiniões desta Coluna não refletem a Opinião do Site TV Foco.

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