Há quem concorde que os principais “derrotados” dessas eleições gerais foram parte da grande mídia e de artistas considerados influenciadores. Mesmo na era das redes sociais, onde as estrelas se fazem muito presentes e têm canais de comunicação direta com o público, campanhas movidas a rodo, como o “#EleNão”, contra o candidato à presidência Jair Bolsonaro, mostraram na prática terem pouco influenciado no primeiro turno das eleições, com o presidenciável do PSL, que mesmo não sendo eleito de primeira, terminou na liderança, com uma votação expressiva e ampla vantagem sobre o segundo colocado, Fernando Haddad, do PT.
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Esses resultados podem ter indicado que essa parte da mídia e das celebridades, especialmente as globais, que em outros tempos tinham o poder necessário para influenciar a grande massa, hoje parecem ter perdido a força de persuasão sobre o público, que passou a ter mais autonomia sobre seus conceitos, pelo menos em relação às questões políticas.
Apesar de vivermos em uma época onde aparentemente exista um maior fortalecimento de ideologias liberais e de quebras cada vez maiores de tabus sociais, o Brasil não perdeu a essência do conservadorismo em sua massa, sendo prova disso a própria popularização de Bolsonaro, um grande defensor de valores tradicionais.
Porém, mesmo com esse fato em vista, a Globo segue demonstrando cada vez mais audácia para ir à contramão dessa essência e investir em atrações que a faz receber rótulos pejorativos como o de “esquerdista” e “lacradora”, remetendo justamente a ideologias liberais e progressistas. Atrações como o Encontro com Fátima Bernardes e o Amor & Sexo, além da própria dramaturgia da emissora, parecem preocupadas em levantarem bandeiras ligadas a isso, em um tom quase escancarado de militância.
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A emissora costuma utilizar como termômetro para suas ações às próprias redes sociais (leia-se o Twitter). Mas será que essas ferramentas ilustram realmente a opinião do público em sua maioria? É evidente que há um crescimento considerável de usuários nas redes sociais, mas ainda poderia carecer de mais cautela para colocá-las como elemento primordial para tomada de decisões, levando em conta o fato de que o Twitter, em especial, considerada a rede de maior relevância, ainda possui a concentração de um público pouco diversificado que opina sobre TV. A decisão de investir em determinado conteúdo e comprovar sua aceitação através das redes sociais pode ser ilusória, com um discurso para um público já “convertido”, e nem sempre havendo a conquista da maioria ou de novos telespectadores, recebendo assim apenas a ovação daqueles que já são favoráveis ao conteúdo que é feito para eles. Não há como ignorar a web, mas também pode ser uma utopia crer que as opiniões que surjam ali sejam parâmetro suficiente para ditar os rumos de conteúdo de alguma produção e mudar a própria filosofia da empresa.
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De forma oficial, a Globo se mantém isenta e não se posicionou contra ou a favor de algum candidato ou ideias políticas, mas os movimentos que realiza atualmente sobre o seu conteúdo, além da posição assumida de grande parte de seus artistas, fazem com que determinada ideologia fique inegavelmente associada a sua imagem.
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O capítulo da última segunda (08) de Malhação: Vidas Brasileiras, por exemplo, exibiu uma cena em que a professora Gabriela, vivida por Camila Morgado, dá uma aula sobre o fascismo e destaca os riscos que essa política pode provocar para a sociedade. Nas redes sociais, isso foi logo associado a uma suposta indireta a Bolsonaro, que é definido por muitos de seus opositores como “fascista”. Já ontem (09), a emissora estreou mais uma temporada do Amor & Sexo, programa progressista que parece vir ainda mais disposto a levantar a tal bandeira ideológica, sob o comando de Fernanda Lima, que chegou a fazer parte do movimento contra Bolsonaro, e com a promessa de que as novas edições da atração farão uma espécie de protesto contra o fascismo, também visto como uma indireta à atual onda conservadora.
Aula sobre Fascismo em Malhação pic.twitter.com/zLcuR9e77x
— Lenilda Luna (@LenildaLuna) 10 de outubro de 2018
A adoção de uma postura mais liberal e progressista é uma forte tendência em diversos canais ao redor do mundo, mas no Brasil há uma exceção, diante de uma base conservadora que ainda provou ser bastante presente. Com isso, pode haver um grande risco para a Globo decidir “tomar partido” e crer que seja propícia neste momento uma mudança de postura para desafiar os conservadores, ainda mais diante de uma provável consolidação dessa força pela forma como o cenário político se desenha para os próximos anos.
Vale citar o caso do bispo Edir Macedo, proprietário da Record e concorrente da Globo, que se posicionou publicamente a favor de Bolsonaro. Apesar de ainda ser incerto se esse apoio do bispo refletirá em uma mudança de postura da própria Record em relação ao presidenciável, a emissora chegou a exibir uma entrevista longa e exclusiva com o político no mesmo horário do debate entre candidatos feito pela Globo antes do primeiro turno das eleições, e que não contou com a participação de Bolsonaro, que não foi autorizado pelos seus médicos a marcar presença. De qualquer forma, a emissora da Barra Funda ainda não se tornou alvo de boa parte do público por motivos políticos e ideológicos, como ocorre atualmente com a Globo.
Ao que parece, não se trata de uma batalha que envolve apenas “alguns”, mas sim uma grande massa. Por tudo isso, surge a questão de que se vale realmente à pena a Globo resolver comprar essa “guerra” contra boa parte da sua própria audiência em prol de uma questão ideológica. Coragem pautada pela ideia de progressismo ou um tiro no pé ao peitar boa parte do público que a sustenta? Qual a sua opinião?
As opiniões aqui retratadas não refletem necessariamente a posição do TV FOCO e são de total responsabilidade de seu idealizador.