Aguinaldo Silva cita outros autores e celebra a volta de Vale Tudo no Viva: “A novela de nossas vidas”

Aguinaldo Silva (Foto: reprodução/youtube)

Escritas por Aguinaldo Silva, Vale Tudo e A Indomada serão reprisadas pelo Canal Viva. (Foto: Divulgação)

Aguinaldo Silva. (Foto: Divulgação)

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Aguinaldo Silva comentou a volta de uma das novelas mais faladas da história do Brasil, da qual ele foi um dos autores. “PARA SEMPRE VALE TUDO. Nunca antes na história deste país um trio de novelistas tão diferentes entre si deu tão certo. Leonor Basseres, Gilberto Braga e eu transformamos ‘Vale Tudo’ na novela das nossas vidas” escreveu ele em rede social.

Em seu site pessoal, ele seguiu comentando a volta da obra ao canal Viva: “Gilberto Braga era o porta-voz oficial da classe média pra cima até chegar à altíssima. Eu adorava cozinhar de pés descalços na minha ou em qualquer cozinha. E Leonor Bassères, a pessoa mais fina e bem educada que já conheci, era uma senhora malandra, moradora de Copacabana, que já passara por tudo na vida… E sobrevivera linda e loira”.

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E seguiu: “A ideia de nos juntar foi do Boni, é claro. O grande homem que, segundo um amigo meu (que prefiro não nomear), se aposentou da televisão porque continuou grande, mas ela ficou pequena. E o resultado deste encontro foi ‘Vale Tudo’, que vocês poderão rever, reprisada pela segunda vez (agora no Canal Viva) a partir desta segunda-feira”.

“Não foi nada fácil escrever a novela. Eu morava no Jardim Oceânico, bairro ainda em construção na Barra da Tijuca; Gilberto numa cobertura no Flamengo e Leonor num apartamento no qual me perdi duas vezes no seu bairro querido e eterna fonte de personagens e tramas que era e ainda hoje é Copacabana”.

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“Naquela época não havia computador, a internet não existia nem nos livros de ficção científica o descalabro que era a telefonia fixa, a cargo de uma estatal chamada Telerj (que o Diabo a tenha), fazia com que qualquer um que quisesse comprar um telefone o fizesse pagando sete mil dólares (sim, eu escrevi sete mil dólares) no câmbio negro”.

“Além disso tínhamos horários díspares. Gilberto dormia às 6h da manhã e acordava às 18h. Eu, madrugava como sempre: acordava às 6h e ia dormir à zero hora. E Leonor… Bem, me parece que ela não dormia, pois estava sempre elétrica, pimpona e saltitante”.

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“Nossas reuniões eram na casa do Gilberto. Eu chegava mais cedo para evitar o trânsito, ia até a Churrascaria Gaúcha, comia uma baita de uma picanha regada a duas caipirinhas e, ligeiramente bêbedo, chegava pontualmente às 18h para a nossa reunião de trama e era recebido pelo mordomo Ângelo, que anunciava: “O dr. Gilberto já está acordando”.

“E eu ficava plantado lá na sala, junto com Leonor a olhar um pra cara do outro depois de esgotar todos os assuntos… E às vezes tínhamos a impressão que o dr. Gilberto não ia acordar nunca!”.

“Fazíamos uma reunião por semana. Tínhamos o mesmo peso criativo, mas era Gilberto quem redigia o resumo do bloco que íamos escrever na semana. Primeiro problema: ele só conseguia aprontar o bloco de madrugada e era preciso que ele estivesse na minha casa quando eu acordasse, pois era eu quem fazia as escaletas e distribuía as cenas (quem ia escrever o quê)”.

“Para fazer a ponte entre nós a Globo contratou um rapaz, de codinome Caju, que morava em Nova Iguaçu, e que, nas sextas-feiras, ficava plantado feito um pé de bananeira na casa de Gilberto à espera de um “resumo do bloco” que não saía nunca e às vezes só chegava em minha casa depois que amanhecera”.

“Como o meu prédio não tinha porteiro, nas sextas-feiras eu não dormia. Descia até a portaria de meia em meia hora, com medo que algum vizinho, de pura maldade, pegasse o envelope com o tal bloco da semana e o jogasse fora. Uma vez ele realmente não chegou e eu achei que isso tinha realmente acontecido”.

E seguiu: “Até que, por volta das 7h da matina, o coitado do Caju chegou e me entregou o envelope… E dele eu retirei a folha de papel na qual Gilberto escrevera duas parcas linhas: “Guigui, esta semana estou sem inspiração, pega a história da maionese e te vira”. Prestem muita atenção, queridos: a partir destas duas linhas eu teria que produzir seis capítulos de novela”.

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“A história da maionese, que rendeu uma semana de capítulos – não vou contar qual é pra não estragar a surpresa de quem ainda não viu a novela – foi responsável pela minha primeira crise hipertensiva e me levou a ficar um dia e meio na Casa de Saúde São Bernardo, então o único hospital decente a que se podia recorrer na Barra da Tijuca”.

“Vale Tudo” foi o que foi: uma novela. E a novela, meus caros, mais que qualquer outra coisa nesse ramo a que chamamos de “arte”, é o retrato mais fiel dos usos e costumes da realidade brasileira. Me apontem um livro (um só), ou um filme, ou uma peça de teatro que, nos últimos trinta anos, tenha conseguido retratar o drama brasileiro com mais fidelidade e força do que esta novela”.

“Eu sempre digo que, daqui a cem anos, quando alguém quiser saber como era o Brasil da segunda metade do século XX, não vai perder tempo lendo livros de sociologia ou antropologia ou filosofia, não: vai beber direto na fonte… E a fonte são as telenovelas”.

“Além de divertir pra caramba, Vale Tudo, escrita em 1988, aponta os trinta dedos dos seus três autores diretamente para o Brasil de agora. A canalhice já estava lá, ainda dentro do ovo da qual sairia toda essa vasta família de serpentes de serpentes com que agora somos obrigados a conviver”.

“Sim, ‘Vale Tudo’, como tantas outras novelas, será eterna. E eu sinto o maior orgulho de tê-la escrita junto com Gilberto e Leonor, que, naqueles meses de 1988 em que passamos juntos por tantas (des)aventuras, foram meus irmãos queridos… E, mesmo que Leonor não esteja mais entre nós, continuam sendo até agora”.

Silva, vale dizer, é autor também de A Indomada, que volta ao ar em breve também no Viva.

Aguinaldo Silva. (Foto: Reprodução/Twitter)

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