Após o jornalista David Miranda ter escrito no periódico britânico “The Guardian” acusações contra a Rede Globo, a emissora dos Marinhos se manifestou e pediu direto de resposta, a fim de poder dar suas versões sobre as declarações do jornalista em uma próxima edição, mas teve tal pedido negado pelo próprio jornal.
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As declarações de David falavam sobre os interesses que estão por trás do suposto golpe que está em curso aqui no Brasil, e citam a mídia como um setor extremamente concentrado no país, sendo a mesma comandada por poucos, com maior influência do “Grupo Globo”.
Através de João Roberto Marinho, vice presidente do grupo, a emissora pediu ao “The Guardian” uma nova publicação, com o direito de resposta, no qual havia um texto dizendo que jamais houve apoio ao processo de impeachment em curso aqui no país contra a presidente Dilma Roussef, e que a emissora se posiciona neutramente e só cumpre seu dever de informar.
*Atualização: depois de avaliarem a carta enviada por João Roberto Marinho, o periódico resolveu publicá-la. Confira a íntegra abaixo.
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” O artigo do Sr. David Miranda (“A verdadeira razão por qual os inimigos de Dilma Rousseff querem seu impeachment”, de 21 de abril, publicado pelo The Guardian) pinta uma imagem completamente falsa do que está acontecendo no Brasil hoje. Ele não menciona que tudo começou com uma investigação (chamada Operação Lava Jato), que por sua vez revelou o maior esquema de suborno e escândalo de corrupção da história do país, envolvendo os principais membros do Partido dos Trabalhadores (PT), assim como líderes de outros partidos da coalizão do governo, funcionários públicos e magnatas empresariais. Várias pessoas foram presas, e algumas foram condenadas. Todo o processo de investigação foi conduzido de acordo com as regras de direito do Brasil, sob a estrita supervisão da Suprema Corte do país. A imprensa brasileira em geral, e o Grupo Globo em particular, cumpriu seu dever de informar sobre tudo, como teria sido o caso em qualquer outra democracia no mundo. Vamos continuar a fazer o nosso trabalho, não importa quem seja afetado pela investigação.
Como reação às revelações da Operação Lava-Jato, milhões de brasileiros saíram às ruas em protesto. Precisamente para evitar quaisquer acusações de incitar as manifestações de massa – como o Sr. Miranda nos acusa – o grupo Globo cobriu os protestos sem nunca anunciar ou dar um parecer sobre eles em seus canais de notícias antes deles ocorrerem. A Globo tomou medidas iguais sobre os comícios favoráveis à presidente Dilma Rousseff e contra o impeachment: ela cobriu todos, sem mencioná-los antes deles ocorrerem realmente, concedendo-lhes o mesmo espaço que foi dado aos protestos anti-Dilma.
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Quando o processo de impeachment começou na Câmara dos Deputados no Congresso, nós alocamos igual tempo e espaço para a defesa e acusação. O Grupo Globo não apoiou o impeachment em editoriais. Ele simplesmente declarou que, independentemente do resultado, tudo tinha de ser conduzido de acordo com a Constituição, que na verdade tem sido o caso até agora. O Supremo Tribunal Federal – onde oito dos onze juízes foram nomeados pelas administrações dos presidentes do PT Lula e Dilma – aprovou todo o processo. Culpar a imprensa pela atual crise política brasileira, ou sugerir que ela serve como um agitador, é repetir o erro antigo de culpar o mensageiro pela mensagem.
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Por último, a afirmação de que o Grupo Globo lidera a mídia nacional, especialmente vindo de um cidadão brasileiro, só pode ser feita de má fé. A imprensa brasileira é uma paisagem vasta e plural de várias organizações independentes, 784 jornais diários impressos, 4.626 estações de rádio, 5 redes nacionais de transmissão de televisão, 216 canais a cabo pagos e outra infinidade de sites de notícias. Todo mundo atua com grande zelo para com o público brasileiro, que por sua vez é livre para fazer suas escolhas. Em meio a fortes concorrentes, o que encontramos é a independência (…). O Sr. Miranda tem o direito de dizer o que quiser, a fim de atingir os seus objetivos. Com o Grupo Globo repousa a responsabilidade de relatar os fatos como eles aconteceram. É nosso dever.
Atenciosamente,
João Roberto Marinho, presidente do board editorial”.