Se por um lado o público rejeitou as cenas sensuais e pervertidas da novela “Babilônia”, que precisou ficar mais leve para obter a aceitação dos telespectadores, por outro, a novela das 11, “Verdades Secretas”, está fazendo o maior sucesso, justamente pelas cenas polêmicas.
Escrita por Walcyr Carrasco e dirigida por Mauro Mendonça Filho, o folhetim acumula média-geral de 20 pontos, um a mais que as antecessoras no horário, mesmo indo ao ar no fim da noite e em um período em que o horário das 21h enfrenta uma grande crise de audiência.
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O diretor da novela comemora o fenômeno e, em entrevista à coluna Outro Canal, ele afirma: “Tivemos retorno bom de crítica, audiência. Passamos ao largo de qualquer moralismo. A novela ao mesmo tempo que é amoral é moralista. Sendo honesto, a questão de moralidade que teve em “Babilônia” ajudou”.
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“Todo mundo achou que estávamos em tempos mais liberais. Aí vimos que era ‘opa, peraí’. Careta adora um pecado, sacou? Pensamos: vamos fazer o que é proibido, porque aí pode. Talvez no início nossa visão fosse menos moralista. E o maior público é conservador”, explica.
Sobre a protagonista da história, uma garota de programa, ele fala: “Humanizamos mais a Angel (Camila Queiroz). Passei a tratá-la não como uma garotinha inglesa que faz prostituição e não está nem aí. Passei a mostrar dor, culpa. Comecei a mesclar amoralidade com moralismo”.
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“As novelas deviam pegar menos didatismo, menos close, menos olho lacrimejando, menos ‘overacting’. […] Aqui há uma certa vaidade da emoção. A gente é um povo que chora em hino, na hora de bater pênalti. Como se a frieza de raciocínio não ajudasse”, conta Mauro.
Ao contrário de alguns atores, que criticam o atual público da TV aberta, ele afirma: “Eu não julgo muito. Acho que o público tá cada vez mais exigente com repetições, didatismo. O público quer ir além um pouco. O público melhorou muito nos últimos anos”.
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“Qualquer reflexo de programa que não esteja funcionando é de uma mudança que nego tá querendo. Seja para o bem, para o mal, moralista ou não. [Os conservadores] estão saindo do armário, como disse a Fernanda Montenegro”, dispara o diretor.
“Sou da opinião que para ter uma boa esquerda tem que ter uma boa direita. Acho absolutamente normal ter conservadorismo, o público é esse aí mesmo. Mas também vi reações maravilhosas do beijo gay em “Amor à Vida”. Aí você vê que tem gente querendo que a dramaturgia reflita mudanças”, conta.
“Acho que as pessoas estão mais exigentes em relação a temas, conteúdo e narrativa. Acho que durante muito tempo o sistema novela funcionou meio que “quase tudo dava certo”. Agora tem que ralar mais.
Tem que pegar o público pela garganta”, aponta Mendonça Filho.
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E sobre o maior desafio da novela, ele coloca: “Mostrar o vício da Larissa [Grazi Massafera] em crack, sim, foi difícil. Ela lá na cracolândia é uma identificação da gente, nós pequenos burgueses lá. Botei pilha para o Walcyr fazer uma cracolândia. E a ideia foi mostrar uma visão de compaixão. Há uma ideia de que viciado em droga é marginal. É uma doença”.