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“Embarque neste Carro-Céu
Onde o mundo faz de conta
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A terra é quase o céu.”
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São 20:30h.
Você teve um dia difícil. O mundo é cinzento.
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E, aparentemente, ligar a TV não irá melhorar as coisas.
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Na Globo, Bonner te diz que a Europa está em crise.
Na Record, Celso Freitas denuncia a parcialidade da Veja.
Na Band, você descobre que mais uma pessoa morreu em São Paulo.
Sim, o mundo é cinzento.
Até que você sintoniza no SBT e caminha pelos corredores da Escola Mundial.
Esqueça-se da Dilma, pois lá quem dá as cartas é uma linda professora chamada Helena.
E, ao contrário do Senado, ninguém de lá já telefonou para Carlinhos Cachoeira.
Na Mundial, a maior “ameaça” atende pelo nome de Maria Joaquina e usa um caderno cor de rosa.
E que tal trocar o Aquecimento Global pelas travessuras do Paulo?
Ahá, posso detectar um sorriso em seus lábios.
E, através dele, descobrir o triunfo de Carrossel:
Assisti-la nos faz bem!
Simples assim.
Carrossel desperta o Peter Pan que habita em nós.
Aquela voizinha que nos lembra do quanto a Infância era doce.
Ao invés de contas vencidas, provas de português.
Ao invés de patrões cruéis, diretoras ranzinzas.
Ao invés de filhos para criar, peixinhos dourados para alimentar.
Carrossel colore uma TV que costuma ser cinza.
Num mundo infernal, tudo o que precisávamos era de um Carro-Céu.
Algo que nos fizesse sorrir.
Algo que nos levasse a cantar.
E, principalmente, algo que nos ajudasse a olhar para dentro de nós.
Carrossel nos lembra do que preferíamos esquecer: A vida nos fez perder a essência.
O estresse nos soterrou.
E nós não cumprimos o que prometemos a nós mesmos: Que seríamos felizes sem nos importarmos com as consequências.
Talvez seja por isso que Cirilo nos encanta.
O pobre menino negro apaixonado pela rica menina branca.
O “Pequeno” clamando pela atenção da “Grande”.
Não seria esta uma bela analogia da rotina que vivemos?
Há Cirilos lendo este texto e (segredo!), há um deles escrevendo-o.
Você já foi maltratado.
Não por Maria Joaquina, mas por um cliente esnobe.
Já foi desprezado.
Não por Maria Joaquina, mas por alguém que não acreditou em seu potencial.
Já foi preterido.
Não por incapacidade própria, mas por julgamento alheio.
É por isso que Cirilo nos encanta.
Somos como ele. Até os detentores dos maiores salários possuem frustrações.
E, escondido embaixo da mesa, há um paradoxo:
Carrossel é uma Novela leve que fala de coisas profundas.
Carrossel faz o que ninguém tem coragem de fazer: Expôr nossas maiores carências.
Ou você dirá que nunca sonhou com uma Professora Helena?
Alguém que te entenda, te incentive e, acima de tudo, não te julgue.
Carrossel é um desenho de nossas vidas.
Carrossel é o lembrete de quem um dia fomos.
E este lembrete, por alguns instantes, nos faz esquecer de quão feio é o mundo.
Carrossel desarma.
Talvez esteja desarmando você, que está odiando este texto.
“Ele não vai comentar sobre as péssimas atuações?”
Não, não vou. Estou ocupado demais admirando a beleza dos sorrisos.
“Ele não vai falar das deficiências do texto?”
Perdoe-me, não. Prefiro ater-me à pureza dele.
Prefiro sorrir por saber que há crianças que não estarão assistindo Novelas onde mocinhas são vingativas e vilões se dão bem.
Carrossel é como uma fotografia antiga guardada pela mamãe numa caixa de sapatos.
Um belo dia, arrumando o armário, a encontramos e sorrimos, lembrando-nos de dias felizes.
Talvez tenha chegado a hora de abrir as caixas que as dificuldades trancaram.
Experimente trocar as carrancas pelos sorrisos.
A pornografia pelo recreio.
E a intelectualidade pela inocência.
Ouse ser tolo.
Ou, quiçá, sábio.
Alguém um dia disse que “as crianças não possuem rugas por ainda não terem aprendido a sofrer”.
Sei que você já aprendeu, mas… Que tal desenrugar a testa por 45 minutos?
Não perca a beleza das flores examinando a qualidade das raízes.
Acredite, o mundo pode ser colorido.
E a vida, quando vivida, não é tão ruim assim.
Por mais que o teleprompter da Patrícia Poeta tente te convencer do contrário…
Twitter: @ArthurVivaqua
E-Mail: arthurvivaqua@yahoo.com.br
