A nova aposta da Record, que lançou no Brasil o modelo de novelas bíblicas, “Os Dez Mandamentos” tem sido destaque em toda a imprensa. Nesta semana, a trama de Viviam de Oliveira foi o assunto principal da revista Veja Rio, que destaca a sua audiência e a aproximação da Globo no horário.
Intitulada “O Egito é Aqui”, a matéria detalha as gravações da superprodução, que acontecem nos confins de Santa Cruz, bairro no oeste do Rio, a fazenda Lama Preta teve dias agitados nas últimas semanas. A propriedade foi tomada por atores, figurantes e técnicos de figurino, cenografia e efeitos especiais.
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Lá, eles encenaram dois dos episódios mais marcantes do Êxodo, um dos livros que narram a história do profeta Moisés: A sétima praga do Egito (chuva de granizo e de fogo) e a travessia do Mar Vermelho. Na ocasião, foram utilizados nove câmeras de altíssima resolução e três drones.
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O trabalho contou com a coordenação do diretor e produtor americano Sam Nicholson, craque em efeitos visuais que já trabalhou em séries como “The Walking Dead”, “Heroes, Grey’s Anatomy” e “24 Horas”. Depois, foram acrescentadas cenas de outras quatro locações, material gravado com antecedência.
Depois, tudo foi levado para Los Angeles, nos Estados Unidos, onde trinta técnicos da produtora Stargate Studios cuida das imagens, na etapa final de um complexo e caro processo. Apenas a pós-produção de cada uma das duas sequências custará pelo menos 9 milhões de dólares.
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“Nunca foi feito nada tão grandioso na televisão brasileira”, orgulha-se o produtor de efeitos visuais Leo Santa Rita, funcionário da Stargate, que já passou pela Globo e pela Record. As cenas irão ao ar a partir de agosto, quando a emissora espera atingir índices de audiência semelhantes aos da Globo.
Com um enredo baseado na história do profeta Moisés (Guilherme Winter), em seus embates com o faraó Ramsés (Sergio Marone) e nos rolos amorosos com a Zípora e Nefertari (Giselle Itié e Camila Rodrigues, respectivamente), a produção incomoda a Globo desde março, quando estreou.
A audiência de “Os Dez Mandamentos”, que vai ao ar às 20h30, vem crescendo mês a mês e catapultou a emissora ao posto de vice-líder absoluta do horário. No último dia 15, a novela bateu recorde, com média de 17 pontos no Rio e em São Paulo, ficando a 8 pontos do “Jornal Nacional” e a 6 de “Babilônia”.
Procurada, a Globo declarou que “continua líder absoluta e que o folhetim da Record não concorre com o “JN” nem com suas novelas, mas sim com as reprises de temática infantil do SBT”. A produção chegou a despertar a curiosidade de jornais como o “The Guardian e Daily Mail” e o “The New York Times”.
“Um dos nossos maiores trunfos foi apostar numa temática diferente e lançar a primeira novela bíblica do país”, comemora o diretor-geral da obra, Alexandre Avancini. Hoje, a novela já é exibida em Angola e Moçambique, na África, e está sendo negociada com o canal Mundo Fox, dos Estados Unidos.
Após investir pesado no RecNov, central de produções em Vargem Grande, a Record passava por uma crise de audiência antes do fenômeno egípcio. Desde a abertura do complexo, o canal chegou a ter três produções simultâneas, mas nos últimos anos, seguia uma curva descendente na área.
A agora, a a alta cúpula da Igreja Universal aposta todas as fichas na novela bíblica e os 150 capítulos do folhetim vão consumir 105 milhões de reais, uma média de 700 000 reais cada um. Com grandes cenários e figurinos impecáveis, todo o acabamento é feito a mão, com peças inspiradas em grandes produções.
“Nós nos inspiramos em várias produções para fazer os cenários, do antigo filme Os Dez Mandamentos, dos anos 50, com o ator Charlton Heston, a Gladiador, passando por Guerra dos Tronos”, diz o diretor de cenografia, Helton Minosso, que tenta dar veracidade à opulência egípcia.
“Evitamos o plástico, porque não queríamos que ficassem com cara de adereço de escola de samba”, diz a figurinista Carolina Louceiro. A preparação da caracterização dos personagens envolve um longo processo de preparação, já que alguns atores passam duas horas em frente ao espelho na sala de maquiagem.
Tatuagens, marcas de vacina e sinais que comprometam a veracidade histórica são cobertos por base e cosméticos, já que os egípcios eram conhecidos pelas cabeças e corpos lisos. Todos os homens do Egito devem manter a depilação em dia e a careca sempre lustrosa, inclusive o protagonista Sergio Marone.
Com um enredo bíblico e diálogos e discursos moralistas, “Os Dez Mandamentos” segue o caminho oposto ao das tramas com polêmicas e temas contemporâneos da Globo. Há quem credite o sucesso da Record a uma onda conservadora entre o público da TV aberta, incomodado com as ousadias das demais novelas.
“Com uma narração atemporal, a produção tem todos os ingredientes de um folhetim clássico: drama, triângulo amoroso, disputa pelo poder, inveja e doses de comédia”, diz a autora Viviam de Oliveira, que segue o exemplo de Glória Perez, com suas novelas baseadas no Marrocos, na Índia e na Turquia.
“Tenho muita liberdade, mas não sou louca de mexer no enredo bíblico”, revela a autora. O especialista Claudino Mayer, doutor em teledramaturgia da Universidade de São Paulo (USP), diz que a trama bíblica mexe com o inconsciente coletivo, perpassa diversas religiões e desperta a curiosidade do público.
“Fazia tempo que não se via uma produção mobilizar famílias inteiras, como esta está fazendo”, observa. José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, ex-Globo, também também falou sobre o embate com a novela das nove. “É óbvio: uma novela tem história, enquanto a outra (Babilônia) não”, resume Boni.
A ideia da Record se junta ao filão ressuscitado recentemente por Hollywood, considerado uma aposta certeira. Já se conhece o final da história, mas sabe-se que a nova roupagem garante o deleite das plateias de todas as faixas etárias, como as três últimas superproduções religiosas.
Os filmes “Noé”, “O Filho de Deus” e “Êxodo” ganharam ares de cinema-catástrofe. No último deles, Moisés é vivido por Christian Bale, e os périplos do profeta são justificados por fenômenos da natureza. Em “O Filho de Deus”, Jesus chega ao ponto de ser mostrado como um herói com superpoderes.
As produções bíblicas de agora não têm a reverência à religião ou a preocupação de serem respeitosas como no passado. No entanto, a produção da Record se alinha com a concepção mais tradicional, já que a emissora é comandada por uma igreja evangélica e retomou o projeto de temas bíblicos há cinco anos.
Na década de 90, foram produzidas as séries “A História de Ester” e “O Desafio de Elias”. Em 2010, foi feito um “remake” em formato de superprodução da história da rainha Ester, em dez capítulos. Depois, veio “Sansão e Dalila” (2011), “Rei Davi” (2012) e “José do Egito” (2013).
A saga de Moisés seria também uma produção compacta, mas a direção da emissora resolveu arriscar um formato mais ambicioso em um horário que não concorresse diretamente com o principal produto de dramaturgia da Globo, tendo como rival um dos programas de maior audiência da Globo, o “JN”.
O principal telejornal do país, no entanto, perdeu público e nos últimos quatro meses, a turma do Antigo Egito chegou a liderar o horário, ainda que por alguns minutos, em cidades como Belém, Recife e Goiânia. Animada, a Record já decidiu que seguirá investindo em temas bíblicos, na continuação da novela.
Trata-se da trajetória de Josué, substituto de Moisés na história bíblica. Se repetirá a trajetória até agora bem-sucedida da antecessora, só Deus sabe.