Depois de rejeitar Pantanal em 1990, Globo minimizou sucesso da novela na Manchete, mas se arrependeu de não ter produzido o folhetim
Pantanal estreou na TV Manchete em 1990 de forma despretensiosa, mas acabou entrando para a história da televisão brasileira como um dos raros folhetins que conseguiram derrotar a Globo em pleno horário nobre.
A trama, no entanto, poderia ter sido produzida pela própria emissora carioca. Desde meados dos anos 1980, o autor Benedito Ruy Barbosa oferecia o projeto à Globo, que o recusava.
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O canal até chegou a enviar dois de seus diretores para o Pantanal, onde o folhetim seria gravado. No entanto, era época de cheia na região, e os executivos retornaram no mesmo dia com um parecer negativo, alegando que era inviável gravar a trama por lá. Segundo Benedito Ruy Barbosa, o diretor Daniel Filho foi quem mais se opôs à produção.
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Após a recusa definitiva da Globo, o autor decidiu apresentar o projeto à Manchete, que se empolgou com a ideia e autorizou a produção do folhetim.
Logo nas primeiras semanas de exibição, a trama chamou a atenção do público e surpreendia pela sua grande audiência, deixando a Globo de cabelo em pé. Em entrevista à revista Veja na época, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, diretor de Operações da emissora, deu o braço a torcer e elogiou a trama da concorrência.
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“Ela trouxe uma paisagem nova e atraente para a televisão. Há também uma maior ousadia no tratamento dado às cenas de sexo, sem ultrapassar o limite do bom gosto. Embora lenta e arrastada, inegavelmente a narrativa tem apelo. Como profissional, considero saudável uma concorrência que busca a qualidade, especialmente quando jovens de talento, como Jayme Monjardim [diretor de Pantanal], estão envolvidos no processo”, declarou Boni.
Porém, o presidente e fundador da emissora, Roberto Marinho (1904-2003), tentou minimizar o êxito de Pantanal, alegando que a trama não chegava a concorrer diretamente com as novelas da Globo no horário nobre para ser considerada um “sucesso absoluto”, e ainda criticou as “apelações” da trama com as cenas de sexo mais ousadas.
“A novela não é essa estrela que a Manchete diz ter acendido”, disse. “Ela não é um sucesso absoluto coisa nenhuma, pois para conseguir sucesso real seria preciso colocar no ar uma novela no mesmo horário das da Globo e vencê-las”, disparou. “A Globo poderia até apresentar a novela, mas sem as apelações sexuais”, completou.
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Na época, a reportagem da revista Veja, que reuniu essas declarações, tentou entender as razões pelas quais a Globo recusou a novela de Benedito Ruy Barbosa, que alcançaria tamanho sucesso na Manchete, ao ponto de superar a própria emissora carioca.
A publicação levantou a ideia de que a Globo preferiu se manter na sua zona de conforto, gravando suas novelas no Rio de Janeiro, onde fica a sede principal da emissora, e não se “aventurar” realizando uma trama que se passa em um cenário diferente e longínquo, como ocorreu com Pantanal.
Silvio Santos, dono do SBT, foi outro que avaliou positivamente a novela, em entrevista à revista, e fez questão de exaltar a escolha do cenário: “A Manchete realmente acertou com o seu Pantanal de paisagem magnífica”.
A Globo, no entanto, demonstrou arrependimento por não ter produzido Pantanal, que se consolidou como um fenômeno de audiência na TV Manchete. Três anos depois, a emissora carioca recontratou Benedito Ruy Barbosa e deu liberdade para que o autor investisse em novelas rurais, como Renascer (1993), O Rei do Gado (1996) e Terra Nostra (1999).
Em 2018, inclusive, surgiram rumores de que a Globo poderia até mesmo produzir um remake de Pantanal, algo que ganhou força especialmente após a confirmação de que a emissora realizaria uma nova versão de Éramos Seis, novela que já havia sido produzida com sucesso por um concorrente (SBT).
Apesar de conseguir o feito inédito, até então, de superar a Globo com uma novela no horário nobre, a TV Manchete, mal administrada, não conseguiu repetir o sucesso de Pantanal, e após repetidos fracassos, que vieram na sequência, como Ana Raio e Zé Trovão e Amazônia, a emissora acabou sendo extinta em 1999.
A Globo, por outro lado, apesar de altos e baixos em sua teledramaturgia, segue como a principal emissora do país, e em 2016, promoveu o último trabalho de Benedito Ruy Barbosa, Velho Chico, não por acaso, uma novela rural e ambientada no nordeste, bem longe do Rio.