“É um retrato do Brasil com o alívio cômico e certa ironia”, diz autor de Cidade dos Homens

Acerola (Douglas Silva) e Laranjinha (Darlan Cunha) em Cidade dos Homens
(Foto: Globo/João Cotta)

Acerola (Douglas Silva) e Laranjinha (Darlan Cunha) em Cidade dos Homens (Foto: Globo/João Cotta)

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Acerola (Douglas Silva) e Laranjinha (Darlan Cunha) em Cidade dos Homens
(Foto: Globo/João Cotta)

Três grandes conflitos regem a nova temporada de Cidade dos Homens, que volta ao ar em janeiro: o desemprego, a disputa pela guarda do filho e o preconceito que surge de onde menos se espera.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Na trama, uma coprodução da Globo com a O2 Filmes, que estreia dia 2 de janeiro, na Globo, a dupla Acerola (Douglas Silva) e Laranjinha (Darlan Cunha) enfrenta novos dilemas, desafios e questionamentos. E, diante deles, os dois têm uma só certeza: uma amizade verdadeira ultrapassa o tempo e supera barreiras. A minissérie é escrita por Marton Olympio, com supervisão de roteiro de George Moura e tem direção de Pedro Morelli.

Entrevista com George Moura, supervisor de roteiro

Quais as novidades desta temporada de ‘Cidade dos Homens’?

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Temos uma história ainda mais inserida na realidade atual do Rio de Janeiro, um estado onde as mazelas estão mais agudas, depois de uma pseudo bonança. Na escola, os filhos de Laranjinha e Acerola, Clayton e Davi, vão viver a guerra particular comum a milhares de crianças em idade escolar e se defrontar com a ameaça da bala perdida. Já seus pais, cada um à sua maneira, vão viver a falta de grana e novos conflitos de paternidade. E ainda, temos dois personagens e atores, além de Douglas (Acerola) e Darlan (Laranjinha), que começaram há mais de uma década no seriado, que são Roberta Rodrigues e Thiago Martins, inseridos nessa nova história. Ela como Poderosa, mãe do filho de Laranjinha, e ele como João Victor, agora professor dos filhos da dupla. É um reencontro mágico, sobretudo a luz da reprise dos episódios antigos, como narrativa emflashback, que mostra todo o elenco ainda criança e adolescente. Na temporada deste ano também há duas histórias fortes, uma para Laranjinha e outra para Acerola, que envolvem temas da hora como racismo, violência, falta de emprego, a nova realidade da comunidade pós-falência das UPPs e diversificação das ações dos bandidos, se envolvendo em roubo de carga e revenda de produtos roubados. Ou seja, é o Rio cidade partida e ferida dos dias de hoje.

Como foi dar continuidade a este projeto junto com o Marton Olympio?
Conheci o roteirista Marton Olympio no cinema, fazendo um filme dirigido por Tata Amaral, ‘Sequestro Relâmpago’. Gostei do trabalho dele, propus os temas que achei que deveríamos tratar nesta nova temporada e o convidei para escrever, sob minha supervisão de roteiro, dentro do programa de desenvolvimento de seriados da Casa dos Roteiristas. Marton é um cara sensível, que carrega uma história de vida intensa. Ele é uma voz genuína e delicada. Foi uma alegria e um prazer fazermos juntos esse novo trabalho.

LEIA TAMBÉM!

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O que o público pode esperar desta nova temporada?
Cidade dos Homens é um seriado necessário porque dá voz a dramas que parecem estar à margem, mas que pertencem à maioria da população brasileira. E teremos uma história emocionante no presente e ainda vamos poder rever episódios antológicos, como o “Uólace e João Victor”, que é um dos meus favoritos.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Entrevista com Marton Olympio, autor

Quais são as principais fontes de inspiração para escrever ‘Cidade dos Homens’?
Nesta temporada, os dramas estão um pouco mais fatiados: um envolvendo o Acerola, e o outro, o Laranjinha. E as inspirações para escrevê-los estão no mundo. A ideia de falar sobre o roubo de cargas surgiu de uma conversa com meus amigos do futebol, um grupo muito heterogêneo. A observação sobre o dia-a-dia serviu como inspiração também para contarmos a história da disputa judicial da Poderosa com o Laranjinha: a mulher empoderada que corre atrás dos seus direitos e do seu espaço. Nós ainda mostramos o reencontro como mais uma história da minissérie: como podem ser surpreendentes e bagunçar a nossa vida.

Dar continuidade a uma história que já foi escrita em outras ocasiões (e por outros autores) é mais difícil?
Se tratando de Cidade dos Homens, é, sim. Estar neste hall, junto a outros autores, dando voz a personagens emblemáticos, é muito forte. Não há um parâmetro na dramaturgia de personagens que ficaram tanto tempo no ar, eu diria que é uma experiência quase antropológica. Ao longo desses anos, mostramos as mudanças pelas quais o Brasil passou desde que os protagonistas, Laranjinha e Acerola, eram crianças. ‘Cidade dos Homens’ é também um seriado que fala muito sobre amizade e isso é muito forte, muito especial, porque é um tema que, normalmente, não é muito atribuído a este tipo de narrativa.

Mais do que retratar a realidade das comunidades, a série explora muitos temas comuns nos dias de hoje, como a violência onde se supõe estar protegido, o preconceito de quem menos se espera, a luta por trabalho e as questões familiares. Esta é uma evolução natural da história?
O drama e a crítica social estão muito presentes desde sempre, no DNA da série: estrutura familiar, racismo, machismo, desemprego etc. É um retrato do que acontece no Brasil há muitos anos. Mas também trabalho muito com o alívio cômico, por isso, algumas vezes tratamos alguns temas com uma certa ironia.

Como foi dar continuidade a este projeto junto com o George Moura?
Esta temporada nasceu na Casa dos Roteiristas, e foi um convite do George Moura. Para mim, foi como um conto de fadas, pois é um seriado que assisti, acompanhei muito e com o qual, afetivamente, eu já tinha uma relação. Quando contei para meus amigos que ia escrever, foi surpreendente ver que vários deles tinham um “episódio do coração”. Foi impressionante também ver como é forte a lembrança, mesmo tendo ficado tanto tempo fora do ar. Achei que fosse uma paixão muito particular, mas muita gente gosta de ‘Cidade dos Homens’. Além disso, trabalhar com George é estar sempre seguindo adiante, arriscando, sem ter medo de tratar alguns temas. Um exemplo foi quando começamos a conversar sobre termos três tramas em um espaço tão curto e o George, sem pestanejar, falou “Bora”. Trabalhar assim é maravilhoso.

 O que o público pode esperar desta nova temporada?
Espero que as pessoas se divirtam porque ali tem muita verdade, mostramos os conflitos dos personagens, os conflitos do brasileiro e do nosso país. Desejo que o público se envolva e se divirta assistindo tanto quanto eu me diverti escrevendo.

Entrevista com o diretor geral Pedro Morelli

 Como você define esta temporada de ‘Cidade dos Homens’?
O ‘Cidade dos Homens’ existe graças a Darlan e Douglas. Esses garotos, com seu talento e carisma, são o motivo da série existir há tanto tempo e conversar com tanta gente. Essa temporada marca mais um reencontro dos dois, que estão se tornando atores cada vez mais maduros e cativantes. O uso dos flashbacks, que mostram cenas filmadas há mais de 10 anos com os mesmos atores, proporciona ao público a deliciosa experiência de viajar pelo tempo e vê-los crescer.

Quais foram as narrativas e estéticas usadas nesta temporada de ‘Cidade dos Homens’?
Filmamos tudo com a câmera na mão, uma marca registrada da série desde as primeiras temporadas. E filmamos com uma câmera só, o que permite que a câmera esteja perto dos atores e se mova com eles. Como as histórias narradas são muito emocionantes e viscerais, essa atitude de câmera ajuda a jogar o espectador dentro da cena, fazendo-o sentir-se parte daquilo, entrando no clima da cena e compactuando mais com os personagens.

‘Cidade dos Homens’ foi todo filmado em locações externas e cenários reais. De que forma isso impacta na rotina de gravação?
A filmagem foi toda feita em locação, explorando locais do Rio de Janeiro que trouxessem a verdade e a crueza que a série pede. Isso dá à série um frescor ao se comparar com os programas gravados em estúdio.

O que o público pode esperar desta nova temporada?
Essa temporada tem um saboroso equilíbrio entre um drama familiar e um enredo de ação. O público poderá se emocionar com o reencontro entre mãe e filho e, ao mesmo tempo, ficar grudado na tela acompanhando uma saga que envolve perigosos traficantes. Os reencontros entre Poderosa e João Vitor com Laranjinha e Acerola também são cativantes. E ainda temos a participação especial de Julia Lemmertz, que faz a juíza que acompanha a luta pela guarda do filho de Laranjinha e Poderosa.

+ Globo cogitou adiar a novela Deus Salve o Rei

Elenco e equipe no lançamento da nova temporada de Cidade dos Homens
(Foto: Globo/Divulgação)

A HISTÓRIA DA SEGUNDA TEMPORADA
Assim como na temporada anterior, a minissérie usa o tempo presente como fio condutor para narrar uma nova história, revisitando, através de flashbacks, as aventuras de Laranjinha e Acerola, em antigos episódios. Desempregado e sem dinheiro, Acerola (Douglas Silva) aceita fazer um bico, sem saber que o serviço é para um bandido, que se denomina o dono do morro. E, para piorar a situação, a tarefa dá errado e, sem opção, ele se vê obrigado a entregar uma carga roubada, indo contra todos os seus princípios. Já para Laranjinha (Darlan Cunha), a volta de Poderosa (Roberta Rodrigues), mãe de Davi (Luan Pessoa), vai obrigá-lo a lutar pela guarda do menino. Ela, que deixou seu filho ainda bebê sob os cuidados do pai, agora retorna decidida a ter o menino a qualquer custo. Tudo isso em meio à difícil rotina dos moradores do Rio de Janeiro e os constantes confrontos entre policiais e traficantes. A nova temporada marca ainda o reencontro com mais um personagem: João Vitor (Thiago Martins), o antigo amigo playboy, do episódio “João Victor e Uólace”, que foi tão presente na adolescência da dupla, agora volta à trama como professor de seus filhos Davi e Clayton.

Para George Moura, supervisor do roteiro da minissérie, ‘Cidade dos Homens’ dá voz a dramas que parecem estar à margem, mas que pertencem à maioria da população brasileira. “Contamos histórias fortes envolvendo temas como a nova realidade das comunidades, o racismo, a falta de grana e de oportunidade e os conflitos da paternidade. Temos ainda o retorno de Roberta Rodrigues e Thiago Martins, talentos que se revelaram muito jovens no universo da dramaturgia do Cidade dos Homens. São reencontros mágicos, sobretudo à luz da reprise de cenas de episódios antigos, como narrativa em flashback, que mostra todo o elenco ainda criança e adolescente”, diz.

Marton Olympio, autor da nova temporada, diz que as observações sobre o dia-a-dia servem como inspiração para contar as histórias de Laranjinha e Acerola. “O drama e a crítica social estão muito presentes, desde sempre em ‘Cidade dos Homens’. Problemas na estrutura familiar, desemprego, machismo, entre outros tantos temas retratam o que acontece no Brasil há muitos anos, em seu drama latente. Usamos as tramas para abordar o desemprego do Acerola e a disputa judicial entre Laranjinha e Poderosa. Mostramos ainda como reencontros podem ser surpreendentes e como podem bagunçar nossa vida”, detalha Marton.

Já Pedro Morelli, que assina a direção pela segunda vez, afirma que o realismo e a dinâmica da série continuam presentes. “Como as histórias narradas são muito emocionantes e viscerais, essa atitude de filmar com apenas uma câmera, sempre na mão, ajuda a colocar o espectador dentro da cena, fazendo-o sentir-se parte daquilo”, explica. Morelli fala ainda sobre a maturidade de Douglas e Darlan. “Eles estão se tornando atores cada vez mais maduros e cativantes. O uso dos flashbacks mostra isso. Ver as cenas filmadas há mais de dez anos, com os mesmos atores, proporciona ao público a deliciosa experiência de viajar no tempo e vê-los crescer”.

A luta de Laranjinha
Ainda muito jovemLaranjinha se viu com um filho pequeno para criar. Pai carinhoso, se esforçou para educar Davi (Luan Pessoa) diante de todas as dificuldades que a vida lhe impôs. Agora, para sua surpresa, Poderosa reaparece, mudada e transformada, exigindo rever a criança. Diante da constante recusa do pai em aceitar que a mãe tenha qualquer papel na vida do menino, a disputa acaba indo parar na Justiça. “’Cidade dos Homens’ está cheia de questões que vão perturbar os personagens. Laranjinha se depara com a volta da Poderosa, que exige ver o filho, causando muita tristeza e preocupação”, conta Darlan Cunha, que afirma que a preparação para viver o Laranjinha nesta temporada exigiu muita concentração. Segundo ele, a carga emocional que o personagem carrega é extremamente forte. “Mesmo sem ser pai, imagino como deve ser passar por uma questão como essa. Esta temporada retrata conflitos pelos quais todos nós já vivemos – ou conhecemos alguém que já tenha vivido”, completa o ator, que comemora a volta de Roberta Rodrigues à trama. “Contracenar novamente com a Roberta é um presente. Ela é uma excelente parceira e me ajudou bastante no desenvolvimento do personagem”.

Roberta Rodrigues retorna à minissérie depois de 13 anos, com uma Poderosa muito mais responsável e focada. “Ela agora tem outra visão da vida e quer provar que é uma pessoa melhor. Falamos de assuntos recorrentes no cotidiano de muitas pessoas, então acho que o público vai, mais uma vez, ter muita identificação com as histórias e os conflitos. Não é apenas o retrato da violência, mas também uma reflexão em relação à família. E a Poderosa vai tratar desse tema com muita sensibilidade”, fala Roberta. “’Cidade dos Homens’ é um marco na TV brasileira. As comunidades começaram a se reconhecer e a se identificar com aquele conteúdo e isso é muito bonito”, completa ela. 

O dilema de Acerola
Pai de família responsável e dedicado, com dois filhos e um casamento feliz com Cristiane (Camila Monteiro), Acerola está desemprego e sem dinheiro. Desesperado, ele aceita fazer um bico para dirigir um caminhão. Mas o que parecia a solução para suas dificuldades, se transforma em um grande problema, quando ele descobre que o caminhão em questão está carregado de mercadorias roubadas. E pior: ele aceitou parte do pagamento adiantado e não pode mais recusar o trabalho. Sem opção, ele segue em frente, mas se atrapalha e a entrega não é feita. Acerola, então, se enrola ainda mais e fica devendo para o chefe do morro, que é categórico ao dizer que a próxima entrega a ser feita será de drogas. “O Acerola era o provedor da casa e agora não consegue mais exercer essa função. Ele está passando por dificuldades financeiras e acaba aceitando um trabalho, mas, no meio do caminho, percebe que é uma grande furada, se dá mal na história e fica “devendo” ao dono do morro. E sabe que se não cumprir a tarefa de entregar drogas, vai acabar colocando a família toda em uma grande enrascada”, adianta Douglas Silva.

Outro personagem que retorna à série é João Vitor (Thiago Martins). A amizade com Acerola e Laranjinha o fez se tornar professor em uma escola de comunidade. O personagem será responsável por levantar mais uma questão social importante: o preconceito vindo de onde menos se espera. Ao perder a carteira dentro de casa, durante um jantar que ofereceu aos amigos, um clima pesado se instala ao perguntar a Laranjinha e Acerola se eles viram o objeto. “Sinto muita alegria em voltar a fazer um trabalho no qual eu fui muito feliz. É uma nostalgia incrível voltar a dar vida ao João Vitor e reencontrar toda a família ‘Cidade dos Homens’. O Brasil viu todos nós crescermos pessoalmente e profissionalmente durante a série e toda essa continuidade é muito prazerosa”, diz.

Autor(a):

Formado em jornalismo, foi um dos principais jornalistas do TV Foco, no qual permaneci por longos anos cobrindo celebridades, TV, análises e tudo que rola no mundo da TV. Amo me apaixonar e acompanhar tudo que rola dentro e fora da telinha e levar ao público tudo em detalhes com bastante credibilidade e forte apuração jornalística.

Sair da versão mobile