Sucesso meteórico no SBT no final dos anos 90, Gorete Milagres deu cano na Globo por duas vezes e acumulou desafetos na TV
Uma das personagens cômicas mais lembradas pelo público brasileiro é, sem dúvidas, a Filomena, ou simplesmente Filó, marcada pelo seu famoso bordão: “Ô, coitado”. A responsável por dar vida a essa divertida empregada doméstica é a mineira Gorete Milagres, que criou a personagem antes mesmo da sua estreia na televisão, quando atuava no teatro e animava festas das mais inusitadas.
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O debute definitivo de Gorete como a Filó na TV ocorreu em 1996, no humorístico A Praça é Nossa, do SBT. E o sucesso foi imediato, chegando ao seu auge em 1998. Com o seu bordão na boca do povo e atingindo grande audiência, a atriz e comediante logo despertou o interesse da Globo, que fez uma proposta para tirá-la do SBT, em 1999.
PEITANDO OS GIGANTES
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Na Globo, Gorete Milagres receberia o triplo do seu salário no SBT, que inicialmente era de apenas R$ 2.500 mensais, e com isso, ela não pensou duas vezes ao decidir assinar o contrato com a emissora carioca.
Apesar do pouco tempo atuando na televisão, o sucesso absoluto como a Filó fez com que a atriz ganhasse corpo e confiança para bater de frente com grandes nomes da maior emissora do país, entre eles, Renato Aragão.
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A comediante estava escalada para reforçar o elenco de A Turma do Didi, programa que estava no ar na Globo há apenas um anos. Porém, mesmo após firmar um vínculo com a emissora, ela decidiu retornar ao SBT, alegando divergências artísticas.
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“Na Globo, me disseram que eu participaria do programa A Turma do Didi, mas o Renato Aragão sequer me atendeu. Na verdade, ele queria descaracterizar a personagem Filomena. Pulei fora”, explicou Gorete.
E apenas dois meses após a assinatura do contrato, a atriz voltou ao SBT, e com um aumento considerável no seu salário: passando a atingir a casa dos R$ 20 mil mensais. O interesse da Globo em seu passe, fez com que Gorete Milagres se tornasse ainda mais valorizada, e Silvio Santos então decidiu oferecer um programa solo a comediante, o Ô… Coitado!.
No entanto, a Globo foi atrás de seus direitos, uma vez que Gorete havia descumprido o seu contrato ao decidir retornar ao SBT, e exigia, através da Justiça, o pagamento de uma multa estipulada em R$ 108 mil.
QUEBRA DE CONTRATO, PARTE 2
Em formato de sitcom, e com a participação de Moacyr Franco, o Ô… Coitado! tornou-se um sucesso de audiência no SBT, chegando a superar a própria Globo no horário nobre, aumentando ainda mais a revolta da emissora carioca com o rompimento do contrato.
Porém, diante do sucesso da atriz, a Globo usou a estratégia de conciliação, e ao invés de insistir no seu processo movido contra ela, decidiu fazer outra proposta para (re) contratá-la, e dessa vez, com condições praticamente irrecusáveis: Gorete receberia o triplo do seu atual salário no SBT (R$ 60 mil), o perdão da sua dívida com a quebra do contrato, além da garantia de um programa solo.
Sem titubear, Gorete Milagres voltou a firmar um vínculo com a Globo, válido por cinco anos. Porém, dessa vez, foi Silvio Santos quem não deixou barato, e três dias após a assinatura do novo contrato com a Globo, ele foi pessoalmente conversar com a atriz para convencê-la a permanecer no SBT.
Silvio ofereceu o dobro do salário proposto pela Globo (R$ 120 mil), e se comprometeu a atender todas as exigências de Gorete, entre elas, a sua nomeação ao cargo de assessora artística da emissora e o fim das suas participações em A Praça é Nossa, fazendo com que ela passasse a se dedicar apenas ao Ô… Coitado!. A atriz topou, e por incrível que pareça, quebrou o seu contrato com a Globo pela segunda vez.
“Me chamam de ovelha negra da TV só porque disse dois nãos para a maior emissora do país. Prefiro ignorar a Globo. Não preciso dela para viver”, disparou a comediante.
A atitude de Gorete Milagres provocou, obviamente, uma revolta ainda maior na Globo, e até entre pessoas próximas a ela, como o seu advogado, Sérgio D’Antino, que não concordou com a decisão da cliente de quebrar o seu contrato com a emissora carioca pela segunda vez, e afirmou que não prestaria mais serviços à ela.
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“O contrato não tinha garantias, era ruim. Eu estava bem no SBT, mas queria algumas mudanças. Consegui essas mudanças e resolvi ficar”, declarou Gorete em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, na época.
Na Globo, até alguns artistas decidiram se manifestar a respeito dessa reviravolta, como o saudoso Chico Anysio, que detonou a comediante. “Foi a coisa mais feia que já vi”, disse. “Não entendo por que valorizam tanto esta mulher. Só porque sua personagem usa um bordão e fala de uma maneira engraçada que, do meu ponto de vista, não dá para entender nada?”, completou.
A Globo então moveu um processo ainda mais pesado contra Gorete, com a exigência do pagamento de uma multa contratual que chegava a R$ 2 milhões. A atriz demonstrava preocupação com isso, já que era ela a processada, mas na negociação, Silvio Santos havia se comprometido a pagar esse valor.
LISTA DE DESAFETOS
A postura de Gorete, somada a sua rápida ascensão, fez com que ela acumulasse desafetos tanto na Globo como no próprio SBT, a começar pela exigência que fez em não participar mais de A Praça é Nossa.
A decisão revoltou Carlos Alberto de Nóbrega, apresentador do humorístico, que enxergava uma traição da atriz, pelo fato de tê-la apadrinhado na TV, e demonstrava uma insatisfação com o próprio Silvio Santos, que acatou o pedido de Gorete sem ao menos consultá-lo. “Na Praça ela não pisa nunca mais. Se isso acontecer, deixo de fazer TV e encerro minha carreira”, esbravejou o apresentador.
Internamente, a lista de desafetos de Gorete só aumentava. Bancada por Silvio Santos e com o sucesso de Ô… Coitado!, a comediante foi acusada de estrelismo, provocando atritos entre Moacyr Franco e o seu filho, Guto Franco, que dirigia o programa.
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Gorete passou a convidar amigos para participarem da atração sem o consentimento do diretor. E quando foi chamada a atenção por isso, ela passou a fazer “corpo mole”, reclamar ao precisar repetir alguma cena e até se recusar a cumprimentar os outros convidados especiais que não faziam parte do seu círculo de amizades.
“Certo dia, peguei-a pelo braço e expliquei que dar bom dia é uma forma de profissionalismo. Ela disse que não estava nem aí para ninguém e que queria ser tratada como estrela”, revelou Guto, que diante dessa situação, decidiu pedir demissão. “Ela é prepotente”, completou. Em solidariedade ao filho, Moacyr Franco também deixou a atração uma semana depois.
A saudosa Hebe Camargo foi outra que demonstrou revolta com o comportamento da colega de trabalho, e após a saída de Moacyr e do filho do humorístico, a apresentadora soltou o verbo contra a atriz, afirmando publicamente que o sucesso lhe subiu à cabeça e que a fez perder o rumo.
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Gorete Milagres não se abateu e nem admitiu que estava errada nesse caso: “Isso se chama monopólio do humor. É a velha guarda tentando impedir a ascensão da nova geração. Eles estão com inveja de mim”.
Silvio Santos conversou pessoalmente com Guto e pediu desculpas pelos transtornos, mas afirmou que Gorete continuaria com o programa, e ainda deu autonomia para que ela nomeasse um amigo para assumir a vaga de diretor do humorístico.
Mesmo com o sucesso da atração, Gorete Milagres chegou a reclamar publicamente do investimento que a produção de Ô… Coitado! recebia do SBT. “Por que não ter iluminação e cenários decentes? Só por que era para o SBT, uma TV popular? Não concordei, queria que a produção melhorasse”, disse.
ARREPENDIMENTO
A saída de Guto e de Moacyr Franco marcou o início do declínio de Ô… Coitado!, que ficou no ar por mais alguns meses até o seu cancelamento, em dezembro de 2000.
Sem muita função no SBT e com vários desafetos, Gorete Milagres não teve seu contrato renovado em 2004, e decidiu se transferir para a Record, onde foi aproveitada em um programa humorístico comandado por Tom Cavalcante e até mesmo nas novelas, que eram, de fato, o seu grande sonho.
Em 2018, quase vinte anos após as duas quebras de contrato com a Globo, a atriz finalmente fez sua estreia na emissora carioca, e mesmo chegando com bem menos status que antes, por ironia do destino, ela conseguiu debutar no canal logo em parceria com a filha, Alice Milagres, na última temporada de Malhação (Vidas Brasileiras).
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Em recentes entrevistas, Gorete admitiu que não valeu a pena ter aceitado as ofertas de Silvio Santos para ficar no SBT, e que se arrependeu de não ter mantido o seu contrato com a Globo em 1999. “Me arrependi, porque pouco tempo depois o SBT não renovou contrato comigo”, disse a atriz, que insiste até hoje que os problemas que enfrentou nos bastidores foram provocados pelos colegas.
“Foi estranho [a sua saída do SBT], porque eu dava muito Ibope. Fiquei abalada, mas segui minha vida. Tenho a minha consciência tranquila, sou uma pessoa do bem”, declarou. “Mas o excesso de ego destrói tudo ao redor. Infelizmente ainda existe isso dentro da televisão e eu estou fugindo de qualquer energia negativa”, completou.
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“Talvez tenha pecado muito pela sinceridade. Em alguns momentos a gente tem de ser mais política, porém eu cansei. Fui muito prejudicada. Agradeço a todos que me ajudaram do SBT, ao Silvio Santos, até a Globo, que já me chamou, todos os canais que trabalhei, mas eu não devo nada a ninguém”, finalizou.
Daquele sucesso estrondoso e meteórico no final dos anos 90 no SBT, o que restou para Gorete, de fato, foram histórias e alguns objetos de recordação, como um bilhete escrito à mão por Silvio Santos, e que ela faz questão de guardar até hoje:
“Minha cara Gorete Milagres, valeu a pena lutar por você e convencê-la a ficar no SBT. Suas qualidades de atriz tornam-se cada vez mais evidentes. Seu trabalho como Filó, é apenas o meio de um enorme talento que você possui. Parabéns e obrigado por estar jogando no nosso time. Abraços do seu colega Silvio Santos — 05 de março de 1999”.