Comandado por Gugu, o Domingo Legal apelou ao exibir entrevista com falsos membros do PCC e ameaçar apresentadores; relembre o caso
Um dos apresentadores mais famosos da TV, Gugu já foi símbolo de grande prestígio, mas também esteve envolvido em um dos maiores escândalos da história da televisão brasileira, e que certamente provocou uma grande mancha na sua gloriosa carreira.
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Em 2003, depois de levar vantagem na guerra contra o Domingão do Faustão, da Globo, que ocorreu no final dos anos 1990, o Domingo Legal, do SBT, vivia um momento de baixa, e na obsessão por audiência, decidiu apelar para o sensacionalismo extremo.
No início da noite de 07 de setembro daquele ano, feriado do Dia da Independência do Brasil, o dominical comandado por Gugu levou ao ar uma matéria impactante. Nela, o repórter Wagner Maffezoli entrevistava dois homens encapuzados dentro de uma van. Armados, os sujeitos, que se identificavam como Alfa e Beta, afirmavam fazer parte da facção criminosa PCC.
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Durante a conversa, os homens contaram ter participação na tentativa de sequestro do Padre Marcelo Rossi, que havia ocorrido há menos de uma semana, e fizeram várias ameaças ao então vice-prefeito de São Paulo, Hélio Bicudo, aos apresentadores Marcelo Rezende, do Repórter Cidadão (RedeTV!) e José Luiz Datena, do Brasil Urgente (Band), além do comentarista Oscar Roberto Godói (Record).
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REPERCUSSÃO
A matéria, obviamente, teve enorme repercussão. Porém, mais do que as ameaças e outras falas polêmicas dos supostos criminosos, houve duras críticas ao Domingo Legal e a Gugu pela “irresponsabilidade” ao exibir uma matéria desse gênero em rede nacional, dando “voz ao crime”, além da teoria imediata de que tudo isso não passava de uma grande armação em busca de audiência.
No dia seguinte, em seu programa da RedeTV!, Marcelo Rezende disparou contra o Domingo Legal, e afirmou que a matéria era “mentirosa e encenada”. No Brasil Urgente, Datena subiu o tom contra Gugu, revelando que a entrevista deixou sua família em pânico, e que diante disso, iria processar o apresentador e até mesmo Silvio Santos, proprietário do SBT.
A mídia passou a repercutir fortemente a matéria do Domingo Legal, e a cada dia que se passava, aumentavam as suspeitas de que a entrevista havia sido realmente forjada, até surgir um comunicado do PCC, divulgado através da imprensa, que dava respaldo a essa ideia. A facção garantiu que não ameaçou os apresentadores e o político, e que os dois homens que apareceram na matéria não faziam parte do grupo.
CASO DE POLÍCIA
No dia 10 de setembro, três dias após a exibição da matéria, a Polícia Civil de São Paulo decidiu abrir um inquérito para investigar as ameaças dos supostos integrantes do PCC e a própria autenticidade do material gravado pelo SBT.
No dia 15, Gugu fez uma participação no programa comandado pela saudosa Hebe Camargo, no próprio SBT, e pediu desculpas às pessoas que foram ameaçadas pelos supostos criminosos. O apresentador, no entanto, responsabilizou o repórter Wagner Maffezoli, que comandou a entrevista, mas admitiu que ele “poderia ter se enganado”.
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Gugu afirmou que não conhecia o teor da entrevista antes da exibição, e confessou que errou ao não verificar o material com antecedência. Segundo o apresentador, a matéria foi gravada um dia antes da exibição e editada durante o dominical.
Ainda no programa da Hebe, Gugu teve a chance de conversar ao vivo, por telefone, com o próprio Datena, que aceitou as desculpas do colega. “Não existe coisa mais importante no ser humano do que pedir desculpas. O fato do Gugu pedir desculpas mostra o grande homem que ele é. As desculpas estão aceitas por minha parte”, falou Datena, que também se desculpou pelos ataques a Gugu e afirmou que iria retirar a queixa contra ele, mas não sem antes chamar a atenção do colega e pedir para que ele passasse a conferir as matérias do Domingo Legal antes de irem ao ar.
ARMAÇÃO
Até que no dia 17 de setembro, a farsa finalmente foi revelada e o escândalo se tornou evidente. Após ouvir algumas pessoas, a polícia concluiu que a matéria foi, de fato, uma grande armação. Wagner Faustino da Silva (Alfa) e Antônio Rodrigues da Silva (Beta) receberam R$ 150 cada para se passarem por membros do PCC.
Antônio contou que havia um roteiro, escrito em cartolinas posicionadas atrás do cinegrafista, que indicava os pontos principais que ele e o companheiro deveriam abordar. O homem ainda afirmou que Gugu tinha conhecimento de toda a farsa.
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O produtor Hamilton Tadeu dos Santos, conhecido como Barney, também admitiu que a matéria não passou de uma encenação, e que a arma exibida pelos falsos criminosos era sua, mas que foi destruída e jogada em um rio logo após a gravação.
No dia 19, em uma decisão para lá de controversa, que rendeu elogios, mas também acusações de “censura”, o Ministério Público pediu a suspensão do Domingo Legal do dia 21.
Dias depois, Gugu prestou depoimento à polícia, e reafirmou que não conhecia o teor da matéria antes da sua exibição, e disse que não tinha como ter participado da farsa, pois no mesmo dia da gravação, estava com o pai em um hospital.
O delegado que presidia o caso afirmou não ter dúvidas de que Gugu também tinha responsabilidade pela matéria, e pediu à justiça que apresentador fosse processado criminalmente. Gugu, no entanto, se livrou do processo depois de conseguir uma liminar na Justiça. Com isso, o inquérito foi concluído com o indiciamento de cinco pessoas: os dois homens que se passaram por bandidos, além de três produtores do SBT. Porém, o processo foi encerrado sem condenação.
No entanto, isso não impediu que houvesse outros processos contra os envolvidos, incluindo Gugu e o SBT, mas que foram finalizados mediante ao pagamento de multas consideradas irrisórias diante do faturamento da emissora e do apresentador.
GOLPE FINAL
Mesmo sem terem enfrentado maiores consequências com a Justiça, Gugu e o SBT sofreram um duro golpe em termos de audiência, faturamento e perda de credibilidade. Logo após o seu retorno, o Domingo Legal registrou uma queda de 15% em sua receita com anúncios. O episódio também foi visto como uma marca na derrocada de audiência do dominical, que teve uma queda de seis pontos de audiência em apenas três anos, provocando, consequentemente, um corte de investimentos da emissora.
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Em 2009, Gugu, já sem o mesmo prestígio e sucesso, decidiu deixar o SBT e se transferir para a Record, que fez uma proposta milionária ao apresentador, mas que também não conseguiu repetir a audiência de outros tempos.
O episódio da entrevista com os falsos membros da facção criminosa, no entanto, nunca foi esquecido, e acabou entrando, de fato, para a história da TV, levantando um sério debate sobre o limite dos programas e até que ponto eles podem chegar para garantir bons números nessa eterna guerra por audiência.