“Estou na vitrine e recebo flores e farpas todos os dias”, diz Rachel Sheherazade
26/10/2012 às 18h52
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Rachel Sheherazade
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Num mundo onde o imoral é herói, o íntegro é rebelde.
Rachel é um dos ícones dessa “neo-rebeldia“.
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Como a semente que brota em terra seca, ela não se cansa de lutar.
Os maiores “transgressores” de hoje são aqueles que se mantém firmes.
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Firmes às lições aprendidas em casa.
Firmes aos conceitos estudados na escola.
Firmes ao que ouviram na Igreja, seja esta qual for.
Ser “neo-rebelde” é ousar ser quem verdadeiramente é.
Rachel o faz.
Ela poderia fugir do assunto, mas declara: “sou cristã”.
Poderia desconversar, mas admite: “busco me aprimorar”.
Questionada sobre o comentário que lhe rendeu fama, ela responde:
“Tinha que falar”.
Repare no verbo: “Tinha“, ou seja, “necessitava“.
Não, ninguém a obrigou.
Não foi coagida, influenciada ou constrangida.
Foi impelida.
Impelida pelo vento impetuoso que habita em seu coração.
FM Seu senso de justiça é, para dizer o mínimo, aflorado. Qual é a origem dessa vontade latente de mudar o mundo?
RS Acho que, no fundo, todo jornalista é um sonhador e um revolucionário. Através das idéias, fazemos a revolução nossa de cada dia, esperando transformar a realidade, fazer um mundo melhor e mais justo para todos. Some-se à minha natureza jornalística, o meu espírito cristão. A Bíblia nos diz, em Romanos: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, a saber, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito.” Também como cristã, eu não me conformo com as injustiças, com a violência, com a corrupção. Por isso, não posso me calar, me omitir, e não posso deixar de querer mudar o mundo.
FM É possível que um dia você leve suas ideias ao palanque e ingresse na carreira política? Essa hipótese já passou pela sua cabeça?
RS Muitas pessoas me perguntam por que eu não entro para a política. Eu acredito que jornalismo e política não combinam. Acho que cada um tem seu papel na sociedade. O meu está bem definido. Sou a voz que denuncia. Essa é a minha missão. Sinceramente, não saberia fazer política, nem saberia usar minha popularidade para pedir votos, seria como trair a confiança de meus telespectadores. Além de tudo, para entrar na política, é preciso ser estrategista, ter muito jogo de cintura, sangue frio… São habilidades que não possuo. Na Política, precisamos de mãos que transformem. Mas que sejam mãos limpas.
FM Como é ser uma “paraibana em São Paulo”? Foi difícil manter as origens ao ingressar num mundo novo?
RS Já ouvi muitas histórias de preconceito contra nordestinos, mas, felizmente, nunca senti isso na pele desde que cheguei a São Paulo. Quanto às minhas origens, elas nunca vão mudar. Nada mudará o fato de eu ter nascido no nordeste, na Paraíba, na minha querida João Pessoa. Carregarei minhas referências e minhas origens onde quer que eu vá. Os hábitos é que mudam. Por exemplo, desde que cheguei ao Sudeste só fui à praia 3 vezes, e tomei um único e gelado banho de mar. Em João Pessoa, a praia fazia parte da minha rotina.
FM É impossível não citar o lendário vídeo do seu comentário sobre o Carnaval em abril de 2011. Quando você escreveu aquele texto, imaginou a repercussão que teria?
RS Quando pensei no comentário, não calculei o efeito que ele teria. Estava apenas desabafando, sem parar, no papel, meu “interlocutor” preferido. As palavras fluíam como água correndo para o mar. Era algo que eu precisava dizer. Na tv onde trabalhava, ninguém havia lido o que eu escrevi. Então, todos se surpreenderam no ar. Enquanto eu falava aquelas palavras, tremia por dentro. Eu sabia que estava dando uma opinião forte e em pleno período carnavalesco. Sabia que o veículo onde eu trabalhava apoiava e cobria o Carnaval de rua. Sabia o quanto as pessoas no meu estado adoram o carnaval. Sabia que seria incompreendida pela maioria, mas, mesmo assim, quis falar. Eu tinha que falar. Mas, eu pensei que a repercussão do meu comentário ficaria à Paraíba, já que o programa era regional. Mas, quando, à noite, cheguei em casa e acessei o Twitter, fiquei espantada. Meu nome era repetido por todos, sem parar, e eu não sabia o que estava acontecendo (era novata nas redes sociais). Uma pessoa me explicou que o meu comentário havia sido postado no Youtube e estava sendo compartilhado em todo Brasil. Outro internauta disse-me que eu era “TT” (trending topics, relação de assuntos mais comentados do Twitter). E eu perguntei: O que é TT? Por três dias seguidos, meu comentário foi um dos assuntos mais comentados do Brasil e do mundo. Era muito louco tudo aquilo. Meu perfil no Face lotou da noite para o dia. No Twitter, gente famosa estava me retuitando. Eu virei assunto de blogs, portais e dei entrevistas para rádios do Brasil todo. E eu não conseguia responder a todos que me abordavam. Estava enlouquecendo. Desliguei-me das redes sociais por alguns dias, pois estava varando a madrugada para interagir com as pessoas. Convenci-me que era impossível dar atenção a todos. Minha maior surpresa é que, ao contrário do meu maior temor, a maioria das pessoas que assistiu ao vídeo me apoiou. Fiquei feliz em estar conectada com o pensamento de tanta gente.
FM Quanto tempo se passou entre o Vídeo e o convite para ancorar o SBT Brasil?
RS Poucos dias. Acho que 5 dias.
FM Silvio Santos é seu fã declarado (risos). Essa “ficha” já caiu, Rachel? Como é seu relacionamento com o Patrão? Qual é o grau de envolvimento dele com as decisões do Jornalismo?
RS Não sei se ele é meu fã. Sei que ele foi uma espécie de “fada madrinha” da minha vida profissional. Imagina só, o dono de uma das maiores Emissoras de TV do Brasil assistir você na internet e mandar te contratar, sem saber quem você é, nem do que você é capaz. Imagina esse mesmo empresário lhe confiar a bancada do seu telejornal mais importante, em horário nobre? Ele apostou na minha capacidade, no meu profissionalismo sem nem me conhecer. Serei eternamente grata ao Sílvio Santos por isso. Quanto ao envolvimento dele no Jornalismo, posso lhe dizer que é o mesmo que nos outros setores. Ele sabe de tudo o que acontece na empresa dele. Participa de decisões. Faz escolhas (como no meu caso e do Joseval Peixoto). Dá sugestões. Se fosse um chef, diria que o Sílvio dá o tom, o toque especial às receitas. E tudo que ele toca vira ouro.
Rachel ao lado do marido participando do Programa do “Patrão”
FM O SBT Brasil, (sinta-se à vontade para corrigir-me caso eu esteja enganado), investe em pautas leves, como, por exemplo, eventos bizarros e vídeos engraçados. Essa linha editorial é proposital? E, aproveitando o gancho, como separar o “leve” do “irrelevante”?
RS O SBT Brasil explora os fatos, onde quer que eles estejam, doa a quem doer. Tentamos mostrar um panorama geral de tudo que acontece no Brasil e no mundo. É claro que não dá para abordar todos os assuntos. Nem todos os fatos viram notícia no nosso jornal. Nos outros também é assim. O tempo é insuficiente para abraçar todo e qualquer acontecimento. No caso do SBT Brasil, tentamos fazer um jornal eclético, com hard news, mas também abordando assuntos mais prosaicos, até por que somos sucedidos por Carrossel, uma novela feita por crianças e para crianças. Por respeito a esse público infantil, o último bloco do jornal tem que ser mais suave.
FM O Ibope do SBT Brasil está numa curva ascendente e a vice-liderança tem sido constante. Sabemos, porém, que nem sempre foi assim, o Jornal já amargou baixos índices. Traçando um paralelo entre esses dois momentos, os números interferem na motivação da equipe?
RS Sim. Apesar de não haver uma pressão direta por números, sabemos que eles são importantes para a Emissora. Toda empresa de comunicação vive de audiência. Nosso segredo é que focamos primeiro na qualidade do nosso jornal, na credibilidade dos nossos jornalistas, na liberdade editorial, nas opiniões… Os números são um reflexo e uma consequência do trabalho que nós fazemos nos bastidores.
FM Em meio a tantos elogios, como você lida com as críticas. Como é lidar com o pensamento de que uma fatia do público NÃO gosta do seu trabalho?
RS Não sou criança. Sei que ninguém é unanimidade. Principalmente um âncora que dá opiniões, mostra o que pensa, se expõe, dá a cara a bater. Não vivo só de elogios. Seria como viver uma realidade paralela. Sei que as críticas fazem parte do trabalho de qualquer um. Estou na vitrine e recebo flores e farpas todos os dias. Mas, as críticas, desde que respeitosas e feitas em relação ao meu trabalho, não me incomodam. Pelo contrário, me fazem crescer. Vejo se estou errando, onde estou errando, se é que estou errando. Busco me aprimorar. Só não aceito as infâmias, os ataques pessoais. São passíveis de processo judicial. E olha que disso eu entendo um pouco, afinal, passei os últimos 16 anos da minha vida trabalhando no Poder Judiciário.
FM “O SBT Brasil só cresceu no Ibope porque se tornou ‘sala de espera’ de Carrossel”, dizem muitos desses críticos. Como você encara essa tese?
RS Em parte, ela está correta. Carrossel é um sucesso da televisão brasileira. Sua audiência é maravilhosa. E a novela ajudou a divulgar nosso telejornal. Muita gente não nos conhecia e passou a nos assistir, graças a Carrossel. Mas, acredito que ninguém assiste a um programa que não gosta só para esperar a atração seguinte. Para isso, inventaram um aparelhinho chamado “controle remoto”. O SBT Brasil não teria crescido em audiência se não fosse um excelente jornal. Acreditar na teoria de que o SBT Brasil é a ante-sala de Carrossel seria como dizer que as pessoas só assistem ao JN por causa da novela das oito. Ilusão. Intriga da oposição!
FM Acredito que sua visão de mundo, como a de todos nós, esteja sempre em constante mudança. Talvez o que você ache errado hoje venha a se tornar certo aos seus olhos amanhã, ou vice-versa. Sob esta ótica, algum de seus comentários já lhe trouxe arrependimento?
RS Até agora não.
FM Como é seu dia-a-dia fora do trabalho? Quais são seus hobbies e interesses? A Rachel mulher tem temperamento tão forte quanto a jornalista?
RS Sempre tive um temperamento forte. Mas, não sou só o que as pessoas vêem na televisão. Tenho outras facetas. Também sou uma pessoa doce e carinhosa, às vezes insegura, e sempre tímida, quando não estou diante das câmeras. Minha vida pessoal é comum. Não gosto de badalações, lugares com muita gente, festas, inaugurações, lançamentos… Não espero em fila de cinema nem de restaurante. Posso dizer que sou meio anti-social. Levo a vida comum de uma mãe, esposa, dona de casa. Pela manhã, dedico-me, exclusivamente, aos meus dois filhos. Levo-aos esporte, ensino lições de casa, dou banho, almoço com eles… tarefas comuns a muitas mães. Quando eles vão para a escola, entra em ação a Rachel jornalista. Assisto aos telejornais, ouço o noticiário pelo rádio, acesso a internet para saber das novidades nos portais dos principais jornais. Vou para o SBT e lá me intero do jornal, escolho o assunto a comentar, gravo offs, vou para sala de maquiagem, gravo a chamada do jornal, escrevo minha opinião do dia, escrevo notas, ajudo com as cabeças das matérias. Antes do jornal entrar no ar, eu e o Joseval Peixoto vamos tomar nosso cafezinho na Praça da Alimentação do SBT. É sagrado! Às vezes, temos a companhia do nosso amigo José Nêumane Pinto, e o nosso café vira uma discussão política e jurídica dos assuntos do dia. Terminado o jornal, volto à redação, posto meu comentário no blog, divulgo nas redes sociais e volto para casa, para ser mulher, mãe, ou simplesmente Rachel. Meus fins de semana são em família. Vamos ao cinema, teatro, parques, shoppings (programa de paulista). Às vezes, viajamos pelo interior de São Paulo (que eu adoro) ou vamos a alguma praia.
FM Deixe um recado para a legião de fãs e telespectadores que estão acompanhando nosso papo.
RS Sempre que tenho a oportunidade, gosto de agradecer aos internautas e telespectadores pelo carinho, pelo apoio que têm me dado e pelo respeito com que me tratam e tratam o meu trabalho. Vocês fizeram o Brasil me conhecer. Graças a seus acessos, compartilhamentos e comentários, minha voz passou a ser ouvida por muitos, e, no que depender de vocês, serei ouvida cada vez mais longe. Obrigada pelo sucesso que vocês me ajudaram a construir.
PERFIL
Rachel Sheherazade é… – Corajosa, lutadora, sonhadora
Sonho – Comandar um programa de variedades, fazer um filme, publicar um livro, viajar o mundo…
Frustração – Não ter seguido a carreira de atriz
Alegria – A maternidade
Medo – De barata, de altura, de morrer….
Livro – A Bíblia e Os Miseráveis, de Victor Hugo
Frase – Todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus
Música – Mr Sea, de Jonny Nash
Na TV, assiste… – Filmes e noticiários
Na Internet, acessa… – Portais de notícia, sites de artesanato, redes sociais
Família – Minha vida, meu maior tesouro
Deus – Meu chão, meu tudo
Qual é o Foco Máximo de Rachel Sheherazade? Rodrigo, Clara e Gabriel: minha família