O QUE ROLOU?!

Falência, calote e funcionários na rua: O fim de supermercado popular no Brasil desmascarado pela Globo

06/09/2024 às 6h00

Por: Lennita Lee
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Rede de supermercados gigantesca teve sua falência devastadora exposta pela Globo (Foto Reprodução/Montagem/Canva/TV Foco/Lennita/Pinterest/Globo)

Grande rede de supermercados se despediu ao se deparar com situações desafiadoras e extremamente delicadas, fazendo da sua falência uma consequência inevitável

Como já dissemos em matérias anteriores, o setor varejista pode ser extremamente competitivo e desafiador, ainda mais quando falamos em redes de supermercados, uma vez que eles são vistos como comércios de primeira necessidade.

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Inclusive, ao longo de todos esses anos, muitas dessas grandes acabaram sofrendo quedas, fechamentos e até mesmo falências no país e o clima de tensão e até escândalos foram desmascarados dos principais meios do jornalismo, como o G1, da Globo.

Como foi o caso do Supermercado Gonçalves, tradicional varejista da região de Roraima que precisou fechar suas portas após enfrentar uma severa crise financeira. Vale dizer. que apesar de tradicional, a rede se configurava como “mercado de bairro”, e por conta disso, era mais frequentado pela vizinhança ao redor.

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História e importância para a região:

Segundo o portal G1, que como mencionamos é um dos principais portais jornalísticos da emissora, a história do Supermercado Gonçalves começou nos anos 90, na rua Guanabara, em Porto Velho (RO), com a inauguração da primeira unidade.

Nos anos seguintes foram abertos outros 9 supermercados nas seguintes localidades: Porto Velho, Ariquemes (RO), Buritis (RO), Ji-Paraná (RO) e também em Rio Branco (AC).

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Em 2013, o grupo criou uma indústria de panificação Granopan e no ano de 2014, uma casa empório, ambas na capital rondoniense. Não demorou muito para que o supermercado se tornasse um dos maiores varejistas de Rondônia.

Princípio da queda

Ainda de acordo com informações do G1, apesar de todo o seu sucesso e amplitude, no ano de 2016 a empresa começou a ruir e não demorou muito para que ela entrasse com seu pedido de recuperação judicial, alegando não suportar mais a crise econômico-financeira.

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O Gonçalves culpou a queda de faturamento decorrente da crise macroeconômica brasileira, que começou  pós-eleições do ano de 2014.

Fora isso, ainda de acordo com as alegações da mesma, a situação piorou ainda mais após: “A alavancagem junto a bancos e elevadas taxas de juros, elevação dos custos financeiros, redução de margens de lucro no segmento e cortes de linhas de crédito

Isso sem falar que a mesma enfrentava o aumento dos custos, queda da renda per-capta na cidade de Porto Velho, aumento da concorrência na região e investimentos frustrados pela “ressaca pós-usinas do madeira”, tudo isso contribuiu para sua queda.

Segundo o pedido protocolado na Justiça, no início da década,  o grupo chegou a realizar investimentos milionários na melhoria da estrutura das lojas, inauguração de um empório e na construção de uma indústria, entretanto os mesmos foram frustrados devido ao cenário econômico de retração.

No entanto, a tentativa de remediação não foi bem sucedida e, em julho de 2019, a Justiça decretou finalmente a falência definitiva  do grupo.

TODOS os bens foram leiloados ao decorrer de 3 chamadas realizadas este ano. Lojas, imóveis, terrenos e veículos faziam parte do patrimônio do grupo. Ao todo, foi arrecadado um montante de R$ 71 milhões.

Funcionários na rua

Com a ruína do império varejista do estado de Rondônia, se deu inicio ao drama de mais de 1 mil funcionários do Supermercado Gonçalves, que ficaram na rua e sem saber quando receberiam salários atrasados e direitos trabalhistas.

Para piorar ainda mais, após o fechamento dos supermercados, os prédios de algumas unidades Gonçalves foram alvos de furtos e ataques de vândalos.

Ocorreu também um acúmulo de lixo nos pátios, além de ser usado como abrigo para pessoas em situação de rua.

De acordo com ex-funcionários ouvidos com exclusividade pelo G1, ainda no ano de 2018, começaram a faltar itens nas lojas, o que fortaleceu ainda mais que esses fechamentos seriam inevitáveis.

  • Relato 1: Mesmo com o horizonte negativo, um funcionário do açougue do supermercado matriz com pouco mais de R$ 1 mil de salário. Logo no primeiro dia de trabalho ele se acidentou com uma faca e precisou ser afastado. Ele conta que retornou como fiscal de loja e ainda trabalhou dois meses após o fechamento das unidades, em abril de 2019, mas teve que lutar para receber seus direitos.
  • Relato 2: Na época, sem receber o salário de abril de 2020, um dos funcionários que havia recém financiado um carro, foi ao banco em busca do FGTS e descobriu que a empresa não recolheu os valores refentes ao tempo trabalhado. Ele então passou a sustentar a família com o trabalho de motorista de aplicativo.
  • Relato 3: Depois de 11 anos da vida dedicados ao supermercado, uma ex-funcionária passou dificuldades para se manter e conta com a ajuda de um filho no sustento da casa. Ela que tinha 57 anos na época alegou que diz que não conseguia mais nenhuma recolocação no mercado de trabalho, apesar de participar e ser aprovada em processos seletivos de empreendimentos do segmento varejista:

“Durante esse período, a gente tem passado por muitas necessidades. A gente não recebeu os nosso direitos. A gente tem conta pra pagar. Eu já deixei currículos em vários lugares, mercados por aí. Está difícil porque eles não querem contratar quem já passou dos 50 anos. Eu, por exemplo, só não estou passando fome por conta do meu filho que me ajuda”

Situação dos imóveis

Em agosto de 2020, a rede de supermercados Nova Era, com sede em Manaus, apresentou proposta para comprar três lojas da massa falida do Supermercado Gonçalves em Porto Velho. A empresa amazonense ofereceu R$ 20 milhões pelos imóveis das avenidas Jatuarana, Calama e Abunã.

Ainda de acordo com o G1, o pedido dos sindicatos e advogados que representam a categoria no Judiciário foi pela adjudicação (ação que atribui para alguém a posse e o domínio de bens) das lojas. Ou seja, que elas sejam vendidas para pagar as certidões de créditos obtidas pelos trabalhadores na Justiça do Trabalho. A dívida com os trabalhadores também é de R$ 20 milhões, segundo os sindicatos.

A proposta foi vista como um respiro de esperança para os trabalhadores que deslumbraram a chance de ter mais rapidamente os direitos e consequentemente condições para se reerguerem, já que na proposta, o Nova Era se comprometeu a ofertar possibilidade de emprego aos trabalhadores por meio de processo seletivo.

Entretanto, o advogado Rodrigo Totino, da administração judicial do supermercado, acreditava que a melhor forma de vender os prédios seria através de um pregão:

“A gente entende, e colocou isso no processo, que a melhor forma de vender o ativo é via pregão, online ou presencial. No pregão, todos os interessados encaminham ofertas, classificam as melhores ofertas e depois faz um leilão para saber quem é que paga mais pelo patrimônio. Dessa forma a gente vai conseguir maximizar o patrimônio e arrecadar um valor maior para a massa e pagar o maior número de pessoas possível”.

Ele ainda esclareceu que as lojas de Buritis, Rio Branco, Ji-Paraná e Ariquemes não estavam no CNPJ do Gonçalves falido, portanto não faziam parte da massa falida administrada pelo escritório.

O advogado alegou que a pandemia dificultou os trabalhos, mas ainda assim foi possível a movimentação do processo em direção à venda do patrimônio. Os próximos passos, segundo ele, seria a conclusão da arrecadação, homologação pela Justiça e lançamento do edital de venda.

Com os valores em conta judicial, a lista de credores teria que se consolidar para posteriormente realizar os pagamento dos funcionários.

Em relação à conservação dos imóveis, Totino Informou que executou uma análise de custo benefício para “de forma estratégica” distribuir os postos de vigilância e reconheceu os danos aos imóveis.

Os fundadores da empresa, José Gonçalves e Benedita Candida, não constam como parte da ação de falência que tramitava na Justiça.

Inclusive, no dia 26 em abril de 2021 se concluiu a segunda chamada do leilão dos bens do Supermercado Gonçalves. Dos 44 lotes disponíveis, 29 foram arrematados, entre eles, as lojas das avenidas Abunã, Calama e Raimundo Cantuária, somando mais de R$ 25 milhões em vendas.

Já a  primeira chamada do leilão foi encerrada no dia 12 de abril e terminou com 14 dos 58 lotes disponíveis vendidos. O valor dos bens vendidos nas duas primeiras chamadas chega a R$ 49 milhões.

Qual foi o desfecho dos funcionários do Supermercado Gonçalves?

Após muitos funcionários entrarem com uma ação na justiça contra o Supermercado Gonçalves, somente no dia 23 de maio de 2022, os pagamentos dos direitos de uma parte desses funcionários passaram a ser concluídos.

Supermercado Gonçalves era um grande rival do Atacadão que teve fim decretado (Foto: Reprodução/ Internet)
Supermercado Gonçalves (Foto: Reprodução/ Internet)

Conforme o portal G1, A informação foi confirmada pelo administrador judicial da massa falida, o escritório Machiavelli, Bonfá e Totino Advogados Associados.

Foram beneficiadas todas pessoas que trabalhavam na rede enquanto ocorreu a falência e que não possuíam pendências sobre o valor e outras informações apresentadas na lista de credores. O pagamento foi autorizado pela Justiça de Rondônia ainda no início de maio de 2022.

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A juíza Elisangela Nogueira, da 6º Vara Cível Falências e Recuperações Judiciais, autorizou o envio aos ex-funcionários por ter entendido que não havia impedimentos ao pagamento dos valores que não estavam em contestação, principalmente considerando que o prazo para objeções já tinha sido encerrado.

De acordo com o administrador judicial, aproximadamente R$ 14 milhões foram liberados no dia 20 de maio de 2022, pela Caixa Econômica Federal. Os valores foram depositados nas contas apresentadas pelos funcionários.

Cerca de 80% dos trabalhadores estavam aptos a receber. Os outros 20%, que ainda aguardavam pendências a serem resolvidas, tiveram que esperar mais um pouco pelo pagamento.

Ao todo, 6.200 credores faziam parte do quadro geral, entre fornecedores, prestadores de serviço, bancos, advogados e demais envolvidos.

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Autor(a):

Meu nome é Lennita Lee, tenho 34 anos, nasci e cresci em São Paulo. Viajei Brasil afora e voltei para essa cidade para recomeçar a minha vida.Sou formada em moda pela instituição "Anhembi Morumbi" e sempre gostei de escrever.Minha maior paixão sempre foi dramaturgia e os bastidores das principais emissoras brasileiras. Também sou viciada em grandes produções latino americanas e mundiais. A arte é o que me move ...Atualmente escrevo notícias sobre os últimos acontecimentos do cenário econômico, bem como novidades sobre os principais benefícios e programas sociais.

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