ABSURDO!
Fim devastador e perseguição: Falência de companhia aérea nº1 do RJ obriga o país a pedir perdão após 57 anos
07/04/2025 às 4h00

Falência de companhia histórica e amada do Rio de Janeiro, após anos servindo ao Brasil, obrigou o país, mesmo que de forma tardia, a pedir perdão
E uma forte e amada companhia aérea, nascida no Rio de Janeiro, a qual outrora foi um símbolo de inovação e pioneirismo na aviação nacional, teve sua trajetória abruptamente interrompida após uma ferrenha perseguição política e implacável durante a ditadura militar.
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Trata-se da inesquecível e memorável Panair, cujo episódio não apenas destruiu uma das mais importantes companhias aéreas do país, como também deixou um clamor de justiça que perdurou por décadas, a ponto de anos mais tarde obrigar o país a pedir perdão após 57 anos do seu fim.
Sendo assim, a partir de informações e documentos históricos divulgados pelos portais UOL, Wiki e Congresso em Foco, a equipe especializada em economia do TV Foco mergulha novamente nessa história marcada por lágrimas, injustiça e viradas tardias.
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Um nome para nunca mais ser esquecido:
Fundada em 22 de outubro de 1929 como NYRBA do Brasil, a empresa surgiu como braço brasileiro da New York-Rio-Buenos Aires Line.
A companhia rapidamente se destacou no cenário nacional, tornando-se a principal empresa aérea brasileira entre as décadas de 1930 e 1950.
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Durante esse período, a Panair foi responsável por importantes inovações, como:
- A introdução de aeronaves de grande porte;
- Expansão de rotas internacionais.
O que a consolidou como uma verdadeira liderança no mercado.
Falência arbitrária e injusta
A partir de 1942, as ações da Panair começaram a ser transferidas para investidores brasileiros, tornando-se majoritariamente nacional em 1948.
Mas, no fim da década de 50, sob pressão para uma nacionalização completa, a empresa foi adquirida pelos empresários brasileiros Celso da Rocha Miranda e Mário Wallace Simonsen.
Essa mudança de controle desagradou setores que esperavam outro desfecho para a companhia, incluindo concorrentes diretos.
Infelizmente, com o golpe militar de 64, as empresas de Rocha Miranda e Simonsen passaram a sofrer intervenções do novo regime.
A Panair teve suas operações abruptamente encerradas em 10 de fevereiro de 1965, por meio de um despacho do governo militar que suspendeu suas linhas.

No mesmo dia, a findada Varig já estava preparada para operar as rotas internacionais da Panair, sugerindo um prévio conhecimento e conluio.
Apesar de a Panair apresentar uma sólida situação patrimonial e financeira, a Justiça negou seu pedido de concordata preventiva e decretou sua falência de forma inédita e célere, sem qualquer solicitação de credores — um absurdo que, por si só, evidencia um claro abuso de poder.
Com isso, o governo cedeu imediatamente as linhas internacionais à Varig e as domésticas à Cruzeiro do Sul.
Tal falência encerrou quase três décadas de história e desempregou milhares de profissionais.
Vozes da resistência:
Indignadas, dezenas de aeromoças acamparam em 1965 diante do Palácio das Laranjeiras, sede do governo fluminense.
Dormiram em barracas, ignoraram a vigilância armada e explicaram a quem passasse o que havia acontecido:
“A empresa tinha uma história grandiosa e um futuro promissor. As pessoas ouviam, ficavam indignadas, traziam comida. Era uma forma de resistência pacífica” – Relembra Ingrid, uma das aeromoças que ali estavam.

Um pedido de perdão tardio:
Finalmente, após 57 anos de luta por reconhecimento da injustiça sofrida, em setembro de 2023, a Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania aprovou, por unanimidade, a anistia política posterior à morte de Celso da Rocha Miranda.
Veja o depoimento abaixo:
A Comissão de Anistia classificou o fechamento da Panair como um ato de exceção de um regime autoritário.
A relatora Isabella Arruda Pimentel destacou que a empresa tinha condições de se recuperar da crise do setor aéreo: “Ela era a que tinha as melhores perspectivas econômicas”, afirmou, mencionando também a cumplicidade do Judiciário.
A presidente da Comissão, Eneá de Stutz e Almeida, reiterou que havia “farta documentação” comprovando a perseguição:
“Os trabalhadores foram dormir empregados e acordaram no desemprego. Isso jamais poderia acontecer em um Estado democrático de direito.”

O advogado Wilson Quinteiro, responsável pela ação coletiva, celebrou a decisão como pedagógica.
“Reconhecer a anistia dos funcionários da Panair mostra ao Brasil os perigos de se viver sob um governo que não respeita a lei e os direitos humanos.”
Diante disso, o governo federal reconheceu oficialmente a perseguição política sofrida pelo empresário e pediu perdão formal às vítimas dessa arbitrariedade.
Além disso, em novembro de 2024, o governo brasileiro estendeu o pedido de perdão aos mais de 5 mil funcionários da Panair que sofreram prejuízos com o fechamento abrupto da empresa.
Entretanto, a Panair, embora sem operar voos, sobreviveu como empresa formal para preservar sua memória.
Relatos de sobreviventes e a memória das vítimas fatais:
Ingrid, mencionada acima, atualmente com 84 anos, representa um grupo de cerca de 5 mil funcionários que dedicaram suas vidas à Panair.
No dia 29 de novembro de 2024, ela ouviu, enfim, um pedido de desculpas formal do Estado brasileiro, após décadas esperando por justiça.
Mas, os efeitos do fechamento da Panair foram extremamente devastadores.
Estima-se que ao menos 18 ex-funcionários se suicidaram. Outros tantos morreram precocemente, como o comandante Edberto Vasconcellos Guimarães, ex-integrante da Força Aérea Brasileira, que faleceu de câncer.
De acordo com sua filha, Andréa Carrapito, sua doença estava piorando devido a uma depressão profunda. “Meu pai ficou arrasado por não poder mais voar. Era a paixão dele”.
Inclusive, a aeromoça Gudrun “Zuzu” Tullii, que integrou a empresa de 1955 a 1958, também perdeu o marido, o comandante Nelson Porto Tullii, falecido em 2019, após décadas lidando com o impacto do fechamento:
“Foi um crime. Quando a Panair fechou, foi como tirar o chão debaixo dos nossos pés. Ainda bem que estão se desculpando, mas o mundo inteiro deveria saber disso”
Em uma aba dos comentários no vídeo acima existem mais relatos de filhos das vítimas dessa arbitrariedade, como podem ver abaixo:

Bastidores da perseguição:
O jornalista e pesquisador Daniel Leb Sasaki, autor do livro Pouso Forçado, sustenta que a cassação da empresa teve motivações políticas e econômicas:
“O governo editou decretos que inviabilizaram a empresa. Ao fechar a Panair, os aviões foram entregues à Varig e à Cruzeiro a preços subsidiados. Empresas estrangeiras foram impedidas de arrendar aeronaves, criando um monopólio doméstico protegido”.
Além disso, a linha editorial da TV Excelsior, pertencente a Simonsen, também foi vítima da perseguição. Isso porque as autoridades sufocaram a empresa até que, em 1970, decretaram sua falência.
A Comissão de Anistia concluiu que a proximidade de Rocha Miranda e Simonsen com o ex-presidente Juscelino Kubitschek também foi decisiva.
Três anos antes do perdão público, em 2020, a Justiça Federal concedeu uma indenização de R$ 104 mil aos herdeiros de Celso da Rocha Miranda.
Mas, o filho, Rodolfo Rocha Miranda, recusou nova compensação. “A anistia corrige a biografia do meu pai e dos trabalhadores da empresa. Eles não quebraram a Panair. Foram perseguidos”.
Vale destacar também que os efeitos desastrosos dessa falência também quebraram outras empresas e empreendimentos, conforme podem ver por aqui*.
Qual foi o legado da “Família Panair”?
Vale destacar que, por mais de cinco décadas, ex-funcionários da companhia se reuniram anualmente para manter viva a memória da empresa.
A pandemia interrompeu o encontro, mas não apagou o vínculo:
“A Panair é a maior peça de resistência contrarrevolucionária do Brasil. Ela sobrevive na memória, na justiça e agora, oficialmente, no perdão do Estado” – Resume Rodolfo Rocha.
O que podemos aprender com o caso Panair?
O caso da Panair, como tantas outras empresas, exemplifica o impacto destrutivo que a ditadura militar causou também sobre o setor empresarial brasileiro.
O regime militar interveio arbitrariamente em empresas que não se alinhavam aos seus interesses ou que considerava obstáculos, fechou à força essas companhias, perseguiu empresários e funcionários e desmantelou conglomerados econômicos.
Esse ambiente de insegurança jurídica e autoritarismo comprometeu o desenvolvimento econômico e inibiu investimentos, deixando cicatrizes profundas no tecido empresarial do país.
Conclusão:
No final de setembro de 2023, o governo federal anistiou politicamente e pediu desculpas a Celso da Rocha Miranda, sócio majoritário da extinta companhia aérea Panair.
Em 1965, a empresa foi fechada em plena ditadura por desagradar os militares.
O pedido de desculpas pela perseguição feita à empresa soma-se agora a outros reconhecimentos da ilegalidade da atuação do governo militar ao longo dos 20 anos de chumbo.
Mas, para saber mais sobre essas histórias de falências, retomadas e muito mais, clique aqui*.
Autor(a):
Lennita Lee
Meu nome é Lennita Lee, tenho 34 anos, nasci e cresci em São Paulo. Viajei Brasil afora e voltei para essa cidade para recomeçar a minha vida.Sou formada em moda pela instituição "Anhembi Morumbi" e sempre gostei de escrever.Minha maior paixão sempre foi dramaturgia e os bastidores das principais emissoras brasileiras. Também sou viciada em grandes produções latino americanas e mundiais. A arte é o que me move ...Atualmente escrevo notícias sobre os últimos acontecimentos do cenário econômico, bem como novidades sobre os principais benefícios e programas sociais.