Fernanda Gentil opinou sobre a novela das nove Amor de Mãe e elogiou a trama da Globo
Apresentadora do Se Joga, Fernanda Gentil publicou nesta terça-feira (10) uma carta aberta ao amor de mãe e à novela das nove homônima da Globo. No texto, a jornalista se disse intrigada por ninguém ter feito antes um folhetim sobre o tema e elogiou a produção escrita por Manuela Dias e dirigida por José Luiz Villamarim. “O telespectador corre sérios riscos de ser diariamente inundado por inúmeras prestações de serviço”, declarou ela.
Na carta aberta publicada em seu perfil nas redes sociais, Fernanda Gentil fez elogios à qualidade da novela da Globo e comentou sobre o trio de protagonistas – Lurdes (Regina Casé), Thelma (Adriana Esteves) e Vitória (Taís Araújo) -, falando sobre cada uma delas e exaltando suas individualidades de mãe.
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“Isso só pra falar muito – e muito mesmo – resumidamente dos 3 principais sentimentos que dão nome à novela. Fora isso, o telespectador corre sérios riscos de ser diariamente inundado por inúmeras prestações de serviço. As principais polêmicas, os debates e as bandeiras que estão entoando os anos 2000 estão lá!”, escreveu a apresentadora do Se Joga, exibido.
Além disso, Fernanda Gentil opinou sobre personagens como Camila (Jéssica Ellen) e Davi (Vladimir Brichta), que trazem para discussão na história temas como racismo e a preservação do meio ambiente. Confira a seguir o texto da apresentadora da Globo na íntegra.
“Carta aberta ao ‘Amor de Mãe’
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O tema, de tão unânime que é, me intriga por não terem feito uma novela só sobre ele antes. Mas tudo tem seu tempo. A tecnologia, a fotografia, textura, roteiro e elenco também têm seu tempo.
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Eis que chegou o tempo de vermos, em rede nacional, com a qualidade dos anos 2020, uma trama sobre o sentimento mais intenso que existe. A onda mais avassaladora que já se viu. A única força no mundo com a brutalidade de um rinoceronte, e a delicadeza de uma flor. O sentimento que se sente com a força de todos os músculos do coração, e ao mesmo tempo não precisa necessariamente do sangue para agir. Thelma prova isso. Não pariu Danilo, mas o embalou – e como! Embalou e amou demais. Cuidou demais, protegeu (até) demais. Escondeu não só a doença dela, mas também a história dele. Diz ela que tudo por amor. Pelo tal amor de mãe. Quem duvida? Como se duvida?
Lurdes…. ó meu Deus Lurdes, que benção é te receber todos os dias na nossa casa às 9 da noite. Uma mãe que joga fora o sobrenome: não quer saber se é filho ‘de sangue’ ou ‘de coração’. Se amou e criou, é filho. Ponto. Não importa de qual barriga saiu. E ai de quem mexer com um dos 4 dela – o quinto, Domênico, apesar de desaparecido, é quem a mantém firme. E viva. Aliás, ele não; o amor dela por ele. Amor de mãe.
Vitória antes de ser mãe já amava como se fosse. Amava a ideia de, a sensação de, a aventura de. Já tinha dinheiro, carreira e sucesso, tudo (se é que pode se chamar de “tudo” o que uma pessoa tem, mesmo se ela não tem o que mais quer). E quando finalmente veio o que ela mais queria, o ranking das prioridades fez exatamente o que faz a vida de uma mulher que recebe um filho: dá cambalhota. Adotou Tiago, fez Sofia e descobriu Sandro. Ela que não tinha nenhum, se viu com 3 filhos. E pro orgulho deles, sem trabalho. Sem dinheiro sujo. Pobre de moeda, mas cheia do que mais enriquece a alma: o amor de mãe.
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Isso só pra falar muito – e muito mesmo – resumidamente dos 3 principais sentimentos que dão nome à novela. Fora isso, o telespectador corre sérios riscos de ser diariamente inundado por inúmeras prestações de serviço. As principais polêmicas, os debates e as bandeiras que estão entoando os anos 2000 estão lá! A silenciosamente barulhenta naturalidade com a qual são tratados e formados os casais de tribos diferentes. Algo tão natural que chega a dar pressa; pressa de ver essa ficção na vida real. Sem jogar holofote pra diferença, mas dando importância ao racismo que tanto precisamos liquidar de vez quando, por exemplo, o filho da Vitória é detido na praia porque acharam que era bandido só pela cor da pele. Principalmente quando Camila, negra, professora de história em uma escola pública, entra numa sala de aula pra falar da escravidão no Brasil. Isso fora a surra de cabelos!!! Soltos, presos, amarrados, lindos, com panos, lindos, cacheados, crespos, lindos e cheios de história… cheios da nossa história.
A trilha sonora é um capítulo à parte; de Fabio Junior a Gonzaguinha, passando por Maria Bethania. Eu não sei vocês, mas quando Bethania solta o primeiro verso de “Onde Estará O Meu Amor” me desfaço como se fosse Lurdes achando Domênico.
O machismo estrutural tá na descoberta sincera e genuína do Raul de que contribui muito para ele. Afinal aceitar a profissão de cabeleireira da mulher, mas não a de empresária, é o mais sintomático dos casos. Matias por sua vez tem orgulho de ser assim, e por isso não acha um grande defeito – ele não se preocupou em ler nos livros ou na internet sobre o machismo, mas aprendeu com a vida: perder a mulher e a convivência com os filhos é pra chacoalhar a cabeça de qualquer um.
Ou seja, por 50 minutos, de segunda a sábado, valores e princípios são jogados na tela da nossa televisão o tempo todo; Ryan foi do anonimato ao estrelato e esqueceu alguns deles. Leila fingiu deficiência e alegou ter feito isso pela família. Sandro saiu do crime mas manteve a amizade leal com Marconi. Álvaro abraçou um filho bastardo mas acaba com o mundo em que ele vai viver. Como só amar ou só odiar algum personagem? (Mais um) Ponto pra trama.
Aliás, mais um tema pingando de atualidade em Amor de Mãe: meio ambiente. Ele como vítima do poder, da ganância e do dinheiro. Ele defendido por diferentes ativistas e de diversas maneiras; das mais comedidas às mais radicais – assim como na vida real. Mais uma vez, bingo, Amor de Mãe!
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Eu comecei esse texto com a palavra ‘unânime’, e explico: nem todo mundo é mãe, mas todo mundo é filho. Cada um de uma maneira, na sua intensidade, presença (ou ausência) e frequência. Mas todos já esbarramos com esse amor um dia como filho. Eu queria ter o poder de fazer com que todos esses contatos tivessem sido exemplares; com amores carinhosos, mães presentes e protetoras… mas sei que a vida não é uma novela. Só que tenho o teimoso hábito de ser otimista e acreditar que na vida real – em algum momento, por algum motivo, às vezes nem sem a gente perceber de onde e nem como – vai ficar tudo bem. Exatamente como nas histórias dos livros que as mães contam para os filhos.
Então, pra cada um que sente falta ou ainda não se resolveu bem nessa vida com esse amor de mãe, eu desejo uma solução. Que só se resolva. Como? Não sei. Povo lá em cima que sabe (Eles não folgam nem saem de férias, vocês estão ligados né?) A gente aqui planeja tudo e se surpreende com um monte de coisa, e Eles ficam la só rindo da gente com a alegria de quem já sabia que tudo ia ficar bem. Então eu sempre sei que eles vão resolver. Mas a gente tem que merecer. Porque Eles até têm a solução, mas não jogam de graça lá do céu não. Eu só espero que você mereça que eles mandem – seja te dando coragem pra ligar, ou tirando o orgulho pra pedir desculpa. Seja mandando alguém pra compensar a mãe ausente, ou com um pai que dê conta de tudo. Pode ser com a tia suprindo a falta de carinho, e o avô, a carência de uma boa conversa. Algum jeito tem. Sempre tem. Minto! Só em um caso não tem; quando eles se vão. Aí, o que foi feito foi feito e o – essa parte pra mim é a que mais dói – o que não foi feito, não dá mais pra fazer.
Mais um desejo: pra cada pessoa que tá sem falar com a mãe, sem perdoar, de birra, orgulho, ou alegando falta de tempo para visitá-la, que veja essa cena de dona Lurdes perdendo a mãe. Depois de 26 anos sem vê-la, voltou para pedir desculpas por ter fugido ainda nova com 4 filhos numa carroça em busca do quinto que tinha sido vendido pelo marido. Com medo da reação da mãe, ficou esse tempo todo longe, mas a saudade um dia grita. E gritou. Dona Maria, já bem doente, logo depois de ver Lurdes, honrou o que – na minha opinião – é o único defeito de todo pai e toda mãe: não serem pra sempre.
Então pare agora de ler isso aqui e mande uma mensagem. Simples, direta, e capaz de aquecer qualquer coração que abriga o sentimento mais nobre do mundo – o amor de mãe. Escreve pra ela: ‘eu te amo, mãe’.
Eu te amo, mãe.”