Foco Máximo com Aguinaldo Silva

25/07/2012 às 21h38

Por: TV em Foco
Imagem PreCarregada

 

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Aguinaldo Silva

Pensei em apresentá-lo como “autor da Globo“.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Mas essa, concluí, seria uma descrição pobre.

Afinal, autores escrevem palavras. Aguinaldo escreve histórias.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Globo é quem lhe paga o salário.

Mas nós, telespectadores, somos seus verdadeiros proprietários.

LEIA TAMBÉM:

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Portanto, nem autor, pois isso é pouco.

E nem da Globo, pois ele é nosso!

“Ser ou não ser? Eis a questão.”, escreveu Shakespeare.

“Seja logo, quereeeedo!”, responderia Aguinaldo, do alto de sua inabalável sinceridade.

 

Foco Máximo Fina Estampa interrompeu a queda dos índices da Globo às 21h e serviu de pilar para sua sucessora Avenida Brasil. Quais foram os principais fatores que levaram a Obra a ser um estrondoso sucesso?

Aguinaldo Silva O fato de ser uma novela do dia a dia, do cotidiano das personagens (que eram reconhecíveis, comuns), sem nenhuma firula dramatúrgica. Nada de avião caindo ou de tsunami no Japão. Isso trouxe um senso de realidade do qual o telespectador gosta muito, e que tinha sumido das novelas. Agora este “senso de realidade” está sendo levado às ultimas consequências em novelas atuais, e eu temo que ele acabe por se tornar – de novo – irreal demais.

 

FM Críticos o acusam de explorar estereótipos como os da “mulher batalhadora”, “vilã implacável”, “escada assassina”. Você assume o uso dessas “fórmulas”? Qual é a linha que separa a Tradição da falta de Criatividade?

AS Novela, como você sabe, é melodrama, é folhetim. O folhetim existe desde o século XIX e tem um esquema fechado, perfeito, do qual ninguém pode sair sob o risco de fazer outra coisa. No folhetim nada se cria, mas o uso dessa linguagem perfeita, redonda, capaz de atravessar séculos, depende, isto sim, da criatividade de cada autor. Os críticos me acusam por usar os recursos do folhetim, mas acham genial, criativo, artístico e inovador quando esses mesmos recursos são usados por outros autores… Vá entender.

 

FM A Globo tem lançado novos autores com bastante frequencia. Como você enxerga esta tendência? Comparando-se os trabalhos dos “novatos” com os de sua Geração, é possível apontar muitas diferenças?

AS A diferença básica é que os autores da minha geração viram muita coisa na vida antes de começar a escrever novelas. Estes novos autores, saídos de uma classe média super-protegida, nunca viram nada – nem verão. O resultado disso é que o trabalho deles, por melhor que seja, é apenas fruto das novelas e dos filmes que eles viram, dos livros que eles leram, etc.. Falta experiência pessoal. O público pode não perceber isso, mas os especialistas percebem.

 

FM A chamada “popularização” tem sido uma vertente bastante explorada pela Dramaturgia atual. Você é enxergado como um dos ícones deste Movimento. O que, porém, separa o Popular do Popularesco? É possível escrever de forma simples sem perder o bom gosto?

AS O que separa o popular do popularesco é a sinceridade de quem tenta fazer o primeiro. Quando se faz o pastiche e e se entra no territorio do farsesco, aí temos o popularesco. Essa mania atual de achar que pra ser popular tem que ser exagerado nos tiques e toques das personagens é popularesca, e acaba por nivelar as novelas no mesmo diapasão. O meu “popular” vem da observação, e do fato de que não acho que as pessoas “populares” são rasas e ridículas. Todo ser humano e rico e digno de ser observado, seja qual for a sua classe.

 

FM Diversas de suas Obras estão entre os maiores sucessos da história da TV. Por que você e o baixo Ibope nunca se encontraram? Qual é o cerne do sucesso de suas Novelas?

AS Insisto: acho que é a maneira sincera como conto cada uma das minhas histórias. Eu só consigo escrever uma novela se acreditar em seus personagens e suas tramas. Se eu acreditar, o telespectador também vai acreditar, porque vai enxergar sinceridade no meu trabalho.

 

FM Muitos afirmam que Novelas, embora sendo ficção, influenciam a realidade. O aumento do número de divórcios, por exemplo, é apontado por alguns como um desses fatores. Você crê que uma Novela é capaz de moldar uma Sociedade? Como autor, você se preocupa em transmitir “lições” ao público?

AS A novela no Brasil é o espelho: tenta refletir a renovação constante dos usos e costumes. O país muda, a novela muda com ele. Essa história de que os divórcios aumentaram por causa da novela é a maior balela. Não foi a novela quem inventou o adultério, ele já existia desde os tempos bíblicos, e se hoje pode ser “exercido” mais livremente não é por culpa da novela. Se uma novela é capaz de moldar a sociedade? Só numa obra de ficção daquelas bem alopradas.

 

FM Você não costuma abordar temas de responsabilidade social com a mesma intensidade que alguns de seus colegas. Afinal, uma Novela tem uma função social a cumprir ou deve ser encarada como mero entretenimento?

AS A novela tem uma função social a cumprir sim. É fazer com que o seu público se divirta, sonhe e, por que não, reflita sobre a “moral” de suas tramas. A função social da novela é ser novela. Quando ela deixa de sê-lo para abordar temas de “responsabilidade social” fica chata. Mas atenção, a novela pode muito bem abordar esses temas, desde que eles estejam perfeitamente inseridos em uma trama, e não colocados lá à força. Ou seja, trocando em miúdos: novela é mero entretenimento sim, mesmo quando fala de assuntos sérios.

 

 

FM Quanto tempo se passa entre o surgimento da Ideia Central e a concepção de uma de suas Sinopses? Você é um autor de insights ou suas ideias são elaboradas de forma mais gradual?

AS Depende da novela, da época que estou vivendo, da premência da emissora. Agora mesmo querem que eu faça uma sinopse pra ontem. Nesses casos você liga o motor e segue em frente. Mas no meu caso eu sempre adio o trabalho para a última hora. E não sou um autor de insights não, eu tenho várias histórias guardadas e, na hora H, vou lá no meu arquivo e vejo qual delas é a mais apropriada. A história de Griselda, por exemplo, existia desde a década de 80 e eu só fui desenterrá-la agora.

 

FM Você já atuou como “supervisor de texto” em Novelas como Tempos Modernos. Explique-nos um pouco sobre esta função. O supervisor possui autonomia para acrescentar e/ou eliminar cenas? Como é o relacionamento entre supervisor e autor?

AS O supervisor é apenas um conversador. Baseado em sua experiência, ele dá conselhos ao autor supervisionado. Este pode aceitá-los ou não. No caso de Tempos Modernos não se pode dizer que eu tenha sido o supervisor da novela, já que o autor não aceitou nenhum dos meus conselhos e fez exatamente o contrário do que eu aconselhava. Abandonei o trabalho no meio, pois vi que meu esforço era inútil. No caso de Laços de Sangue, a novela portuguesa que ganhou o Emmy Internacional, aí sim, foi o paraiso, minha supervisão foi aceita pelo autor Pedro Lopes e sua equipe em todos os sentidos.

 

FM E quanto aos colaboradores de suas Obras? Eles chegam a escrever núcleos inteiros? Há revisão e prestação de contas deles para você? Explique-nos um pouco acerca desta engrenagem.

AS O colaborador é um dialoguista. Ponto final. A ele cabe escrever cenas da escaleta indicadas pelo autor, que pode reescrevê-las, ou até descartá-las e escrever sua própria versão. No meu caso, não deixo que nenhum colaborador se dedique apenas a um núcleo: eles têm que estar prontos para escrever sobre todos. Dessa forma eu garanto que eles leiam os capítulos depois de prontos e, o que é mais importante, vejam a novela. O colaborador, presume-se, é um aprendiz que um dia poderá escrever suas próprias novelas, e aí sim, ter um grupo de colaboradores para ajudá-lo na empreitada.

 

FM Seu nome sempre foi especulado como sonho de consumo da Record. Até que ponto isso é real? Algo o faria trocar a Globo por outra Emissora ou esta hipótese é inimaginável?

AS Fui procurado uma vez pela Record, que me fez uma proposta absurda, tão absurda que me assustou… Mas fiquei tentado. Depois a coisa não caminhou, a Globo soube, me fez uma contra proposta e eu aceitei. Não creio que seja sonho de consumo de nenhum canal, estou na Globo desde 1978, tenho lá grandes amigos e, sinceramente, não me vejo a sair de lá.

 

FM Beirando os 70 anos, você já pensa em aposentadoria? Sente-se pronto para a perspectiva de um dia parar de trabalhar?

AS Eu devia estar pronto para deixar de trabalhar sim, mas não estou pronto para ser o Senhor Já Era. Ou seja, para encontrar alguém na rua que vai me perguntar: “saiu da Globo por quê? Eles não querem mais que você escreva novelas?” Por isso pretendo continuar: pelo fato, sempre rejuvenecedor de ser reconhecido na rua e ter meu trabalho igualmente reconhecido.

 

FM No Twitter, vemos um Aguinaldo que constantemente alfineta e é alfinetado. Você já declarou que o Aguinaldo de lá é um “personagem”. Como é seu relacionamento com a Rede Social? Algum de seus tweets já renderam problemas para o “verdadeiro” Aguinaldo?

AS Até hoje nenhum problema. Alguns arrependimentos da minha parte, isto sim. Meu relacionamento com as redes sociais tem sido cada vez mais cuidadoso. Agora levo sempre em conta que o que eu escrevo lá nunca mais será apagado. Na vida real sou o sujeito mais tímido do universo. Na vida virtual solto os cachorros. Mas não são pitbulls, são bichinhos de pelúcia.

 

FM Qual é a previsão de seu retorno ao ar?

AS Se depender de mim, em 2014. Agora, se depender de uns e outros… Ano que vem: como é que pode?

 

FM Deixe um recado para a legião de fãs que certamente está acompanhando nosso papo.

AS Não me levem a sério quereeeedos, eu estou nessa vida pra me divertir e, espero, pra divertir vocês todos… e podem apostar que eu dou o meu sangue pra conseguir isso.

 

 

Autor(a):

Utilizamos cookies como explicado em nossa Política de Privacidade, ao continuar em nosso site você aceita tais condições.