Foco Máximo com Lauro César Muniz – Parte 1

03/04/2012 às 4h01

Por: TV em Foco

 

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Lauro César Muniz.

74 anos de idade.

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Autor de 26 Novelas.

E 3 Minisséries.

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Mais de 30 anos de Globo.

E há 6 anos na Record.

Talentoso.

Brilhante.

E, acima de tudo, Revolucionário.

Ele não apenas “fez o gol“, mas foi um dos que “capinaram o campo” hoje conhecido como Teledramaturgia.

Lauro falou com a Foco Máximo.

E como falou!

Filosofou sobre TV, ampliando a visão do jovem deslumbrado que o ouvia.

Falou abertamente sobre erros e acertos da Record.

E explicou, em minúcias, o processo de Criação e Execução de uma Novela.

Nosso tapete vermelho está estendido para você, Lauro.

Obrigado.

Por abrilhantar a TV brasileira.

E ser tão atencioso com a Família Foco Máximo.

Aos amantes da Teledramaturgia, aí vai um presente.

Aos estudiosos da TV, um artigo.

Com vocês, Lauro César Muniz

 

 

Foco Máximo Suas Novelas costumam fugir do lugar comum onde habitam as “tramas mastigadas” da Teledramaturgia brasileira. Apostando em personagens complexos e mocinhos imperfeitos, o senhor não tem medo da reação da Audiência?

 

Lauro César Muniz Tenho. Tenho muito medo. Navego contra a corrente. Não temo a estupidez do Público, pois essa não existe. O Público é muito inteligente, mas está anestesiado pela enorme quantidade de má dramaturgia, não apenas nacional mas também americana. Há seriados americanos que são uma agressão ao bom senso. Há novelas muito ruins por desconhecimento de Dramaturgia ou por negligência de alguns autores. Há autores que sabem Dramaturgia e podem escrever de forma brilhante, mas se acomodam à mesmice, não querem correr riscos. Algumas vezes eu também fui negligente e fiz péssimas novelas. Cedi ao lugar comum de que o Público é estúpido.

 

FM Qual é o seu posicionamento em relação à uma espécie de “popularização” da TV, justificada pelo crescimento da Classe C. O senhor concorda que o Público desta classe não deseja Produtos que não possuam o rótulo de “populares”?

 

LCM Essa nova classe “C”, chamada emergente, faz parte do mesmo público que, no passado, nos prestigiou com sua atenção e Audiência. Em um País muito mais carente, nas décadas de 70 e 80, o Público assistiu com entusiasmo Novelas com um conteúdo muito melhor que o que se faz hoje. Eles viram nossas novelas naquela época em televisores de má qualidade, em preto e branco, enquanto as classes A e B viam em cores. E, no entanto, essa classe, hoje emergente, estava aplaudindo nossas Novelas mais ambiciosas. Não podemos menosprezar a capacidade de percepção e grau de exigência dessa nova classe C. Popular não significa populista. O popular pode ser de muito bom gosto e melhor conteúdo. No passado fizemos grandes novelas. No presente o melhor exemplo é o sucesso de Rei Davi. Não é apelativo, não é chulo, mantém um padrão de narrativa e linguagem bastante qualificado. E a classe emergente vê!

 

FM Em Cidadão Brasileiro e Poder Paralelo, seus trabalhos na Record, o ator Gabriel Braga Nunes foi seu Protagonista. O senhor lamentou a saída de Gabriel para a Globo? Já conseguiu encontrar um novo homem de confiança para substituí-lo?

 

LCM Gabriel é um ótimo ator. Tem talento e beleza, ou seja, é o ideal para assumir um Protagonista com traços de heroísmo. Não que o herói ou o vilão sejam uma concessão, não são! O personagem de Hamlet é um herói com fortíssimas contradições. Assim como seu oponente, o Rei Cláudio é um vilão que também possui nítidas contradições. Ou seja, as entidades “Herói” e “Vilão” não são sinônimos de esquematismo. Da forma como tem sido construídos em algumas Novelas atuais, heróis e vilões tornam-se, por vezes, uns imbecis. Gabriel sabe dar aos seus personagens (heróis ou vilões) um toque de contradição, de carência, de insegurança, o que o torna muito humano. Por isso eu tinha muito prazer em trabalhar com ele e lamentei sua saída da Record. A Emissora fez o possível para que ele não fosse para outras aventuras, mas o próprio Gabriel se mostrou arredio a permanecer na televisão, pois tinha outros planos: criar uma banda de rock e ir para a Alemanha. Um bom caminho, mas que acabou tropeçando numa proposta irrecusável da Globo, que tinha urgência em solucionar um acidente na escalação de uma Novela. E a Globo então jogou todas as suas fichas. Aquelas fichas que a Record não pode jogar para não desequilibrar seu gerenciamento de Elenco. Acredito no Elenco que tenho agora em Máscaras. O Fernando Pavão tem tudo para assumir esta lacuna da saída do Gabriel. Um ator diferente do Gabriel, mas igualmente talentoso. Trabalhei com ele em Poder Paralelo e foi uma grande descoberta!

 

 

FM Cidadão Brasileiro e Poder Paralelo sofreram com constantes trocas de horário. À época, a Mídia noticiou que o senhor estaria insatisfeito com esta postura da Emissora. Isso é verdade? O senhor aprova o horário de 22:30h para Máscaras?

 

LCM Acho o horário de 22:15h ou 22:30h excelente. A Novela vai se dirigir a um público adulto. A Record conseguiu agora fixar sua grade. A grande sacada da Globo, em muitos anos, foi a seguinte: há um horário “sagrado”, um horário que é uma espécie de centro de gravidade da Grade de Programação, o programa AA. Este horário é intocável e toda a programação gira em torno dele. É o famoso e decantado horário da “novela das 8”, horário este que foi paulatinamente sendo transferido para as 9 horas na atualidade. Não foi uma transferência abrupta! Foi cuidadosa e estrategicamente bem feita. Mudou de “novela das 8” para “novela das 9” e o Público assimilou sem “dores”. Mas se mudou o horário, não mudou a prerrogativa básica: a novela das 9 tem o tempo que precisar ter, obviamente dentro de uma margem bastante elástica. Não se determina o tempo deste centro de gravidade da Programação por minutagem. Não se estabelece que essa novela terá 55 minutos de Arte sem que se altere essa camisa de força. Sendo assim, o que tem que se alterar é o programa que precede a “novela das 9”, e os programas que seguem este horário “sagrado”. É este programa (a Novela) que sustenta a grade!!

A Record ainda não decidiu fixar a Novela das 22h (22:15 ou 22:30) como o centro de gravidade de sua Programação ou Programa AA!! A Novela das 22h da Record ainda tem um tempo bastante rígido, um tempo que não se altera, não tem a flexibilidade que elevou a novela das 9 da Globo à posição de Programa AA. Ou seja, a Novela das 22h ainda está presa à minutagem. O Capítulo não vai ao ar na íntegra. Vale mais o tempo, a minutagem. Com isso perdem-se ganchos, perde-se uma identidade que o capítulo tem que ter, perde-se o controle de entrada do Elenco naquele capítulo, etc… Isso destrói o trabalho de integridade dos atores, diretores e elenco. Por exemplo: Paloma Duarte, atriz e profissional exemplar, sabe que tem 3 cenas no mesmo capítulo. Ela direciona sua interpretação pensando neste capítulo. Ela age de forma A, B ou C pensando que o Público assistirá essas cenas no mesmo dia. Como o capítulo é resolvido pela minutagem algumas de suas cenas podem ser exibidas no dia seguinte e todo o trabalho de dosagem e cuidado com aquele capítulo vai por água abaixo. O mesmo se dá com o autor que perde ganchos, com o diretor que perde seu cuidado com a estrutura do capítulo, etc.. Perde-se qualidade e audiência com essa camisa de força da minutagem.

A Record começa somente agora a entender que a fixação de horários é importante e que o programa AA da Emissora pode ser a novela das 22 horas. Ela deverá ser um ponto de referencia, um apoio sólido! O crescimento da Novela garante os Programas que a precedem e a seguem.

Em Poder Paralelo, ao contrário, a novela sofreu com a mudança de horário: estreou às 22h, passou para as 23h, cedendo espaço para A Fazenda. O programa AA era o reality, enquanto durou. Durou apenas 3 meses. E depois? Depois Poder Paralelo ficou naquele horário das 23h. Mais da metade da novela foi exibida muito tarde.

Fez-se naquele período uma estratégia de guerrilha e não de fixação de grade. Enfim, foram recursos de uma Emissora que estava sendo implantada. Mas agora, ao que tudo indica, chegou a hora da maturidade e a Emissora parece entender que os horários são fundamentais. Bater a Globo, hoje, não é impossível.

 

E amanhã nossa Entrevista continua com as perguntas:

 

Por que Máscaras não contratou ninguém oriundo da Globo, assim como suas novelas anteriores o fizeram?

Hoje, após 6 anos na Record, que balanço o senhor faz da teledramaturgia da Emissora? Quais são os pontos positivos e negativos?

O que o levou a sair da Globo?

E muito mais!

 

Twitter: @ArthurVivaqua

E-Mail: [email protected]

 

 

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