Foco Máximo com Marcilio Moraes

08/05/2012 às 21h04

Por: TV em Foco

 

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Marcilio Moraes

Autor.

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No sentido literal da palavra.

Marcilio não se limita à Arte.

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É ela quem se molda a Marcilio.

Novelas.

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Livros.

Séries.

Peças.

Marcilio não se importa com formatos.

Sua paixão é escrever.

E as letras parece corresponder ao seu amor.

Marcilio coleciona sucessos.

De Crítica, como Essas Mulheres.

De Impacto, como Vidas Opostas.

De Ibope, como A Lei e o Crime.

E hoje, uma nova estreia.

Fora de Controle.

Belo título, aliás.

Expõe bastante a capacidade de criação de seu autor.

Sem mais,

Com vocês,

Marcilio Moraes

 

 

Foco Máximo Após uma longa carreira na Globo, você embarcou na Record em 2005. O que o levou a esta mudança? Foi uma transição difícil? Você precisou se reciclar de alguma maneira?

Marcilio Moraes Saí da Globo em 2002 depois de muitos desentendimentos com a Direção da época. Eu tentava emplacar projetos diferenciados, como Séries policiais, por exemplo, e eles vinham com remakes de O Profeta e coisas tais. Acabamos num impasse. Eu estava com saco cheio deles e eles com saco cheio de mim.

Sair da Globo naquela época era muito mais complicado porque não havia nenhuma outra Emissora produzindo. Mas para mim foi ótimo. Repensei minha carreira, escrevi contos, um romance, uma peça, me dediquei a construir a Associação dos Roteiristas, etc. Em 2005, quando a Record começou a investir com seriedade em Dramaturgia, fui chamado e lá estou até hoje. Não precisei me reciclar. Na Record tive oportunidade de realizar vários projetos que na Globo não seriam possíveis.

 

FM Essas Mulheres , seu primeiro trabalho na Record, foi uma Novela aclamada pela Crítica. Como foi a composição da Trama? Como surgiu a ideia de adaptar o trabalho de um autor tão complexo quanto José de Alencar?

MM Quando fui chamado, o projeto da Novela já existia. A ideia de juntar os três romances do Alencar era do Herval Rossano (Ex-Diretor de Novelas, já falecido). Foi contratada uma primeira Equipe, mas a Direção da Emissora não ficou satisfeita com o resultado. Então me chamaram, a princípio para fazer uma supervisão, mas logo em seguida me pediram que encabeçasse a novela. Reformulei a Sinopse que existia e comecei a escrever. Tinha apenas dois meses para a estreia. Foi uma lenha. Felizmente deu certo.

Conheço bem a literatura do século XIX e gosto de desafios como esse: mesclar histórias diferentes.

A primeira decisão que tomei foi fazer uma Novela e não uma adaptação do Alencar. Ou seja, parti dos personagens e de algumas situações dele para construir uma história própria para telenovela. Elegi Senhora (Romance de José de Alencar) como a trama básica, que conduziria a Novela, coisas assim.

E tinha uma equipe de craques comigo: Rosane Lima, Bosco Brasil e Cristianne Fridman

 

FM Em Essas Mulheres, a Record reuniu nomes como Christine Fernandes, Daniel Boaventura e Ana Beatriz Nogueira, que acabaram retornando à Globo. À época, você e sua Equipe sabiam que estavam produzindo uma Novela divisora de águas na TV brasileira?

MM Não. Eu só estava preocupado em dar conta do desafio, que não era apenas pessoal, dizia respeito também à criação de uma alternativa à Globo na televisão brasileira.

Fizemos uma excelente Novela. Fico feliz quando alguém, como você agora, reconhece o valor dela. De um modo geral, as pessoas só se prendem aos índices do Ibope.

Tenho vontade de fazer outras novelas de época. Vamos ver se ainda terei oportunidade.

 

FM Quais são as maiores dificuldades na composição de uma trama de época? É uma tarefa mais árdua do que escrever Novela contemporâneas?

MM A maior dificuldade é encontrar um tom que ao mesmo tempo remeta ao período histórico retratado e seja bem aceito e agradável ao telespectador contemporâneo. Você também precisa eleger, na obra retratada, não necessariamente as questões que o autor original valorizou, mas as questões que interessam ao telespectador de hoje.

Em certa medida, uma novela de época é até mais fácil de escrever que uma atual, porque você tem mais liberdade de ficção, dentro de certos limites, claro.

 

FM Como se desenvolveu a Pesquisa e Produção de Essas Mulheres? O senhor participou ativamente da escolha de locações e etc?

MM O diretor, Flávio Colatrello, escolheu a cidade de Tiradentes/MG como locação para a novela, o que foi uma temeridade porque depois dos primeiros dez capítulos feitos lá não houve condições de voltar.

Então a Novela praticamente não tinha externas. 95% das cenas eram em estúdio. Mas eu não me importava com isso, pelo contrário, até gostava. Já escrevi muito para teatro. A novela dependia da Dramaturgia e dos atores e não de visuais. Foi muito bom.

 

FM Pulemos de Essas Mulheres para Vidas Opostas. Um abismo separa ambas, cujas temáticas são completamente distintas. Como autor, você tomou gosto pela Ação, deixando em segundo plano o Romance? Comparando-as, que tipo de estilo você prefere?

MM Quando a Record me pediu uma segunda Novela, apresentei quatro ou cinco alternativas. Havia novelas de época e atuais. Entre elas uma história tratando da violência urbana, da segregação social, tráfico de drogas, ou seja, da divisão da sociedade brasileira. Eram apenas duas ou três linhas. A direção da Record escolheu esta. E eu criei “Vidas Opostas”. Já tinha experiência em policiais. Na Globo escrevi Noivas de Copacabana, por exemplo. Tinha também escrito O Crime da Gávea, um romance. E uma peça, A Demanda, mais ou menos sobre o tema.

Tenho facilidade em escrever policiais. E gosto. Mas também gosto de tramas românticas e de época. Como também me deleito com a comédia e a sátira, como fiz em Ribeirão do Tempo.

 

FM Foi desafiador escrever Vidas Opostas, a primeira Novela a se passar dentro de uma favela? Como foi a decisão de embarcar no Universo obscuro do Tráfico?

MM O desafio maior era mostrar que eu não faria uma Novela sobre o gueto. Desde o início tranquilizei a Direção da Emissora dizendo que, se eu trataria dos desfavorecidos, da violência e do crime, também trataria do sonho, do glamour, da esperança. Vidas Opostas contém os dois mundos, já no título meio óbvio. O sucesso se fez por aí.

Tratar da favela e do universo do tráfico não foi difícil. Algumas pessoas se espantam quando eu digo que praticamente nunca subi numa favela. Mas eu sei perfeitamente como é aquilo, porque conheço o meu povo, de alguma forma sempre

convivi com favelados, desde criança. Tudo é questão de você estar atento ao mundo que te cerca.

 

 

FM Você esperava pelo sucesso retumbante de Vidas Opostas, que ganhou prêmios e teve excelente Ibope?

MM Antes da estreia a gente sonha com o sucesso e teme o fracasso. Joguei para o sucesso, sabia que tinha uma trama bem armada, personagens cativantes e questões relevantes sendo tratadas. Basta lembrar que Vidas Opostas veio antes de Tropa de Elite e antecipou grande parte das questões que esses filmes trataram.

Não era mais uma novelinha. Mas se ia dar certo não tinha certeza. Felizmente deu, até mais do que eu sonhava, visto estar numa Emissora que não era a dominante.

 

FM Colecionador de sucessos, você também assinou A Lei e o Crime, Minissérie de maior audiência da historia da Record. Como foi trazer à Teledramaturgia da Emissora uma linguagem com a qual ela ainda não estava acostumada?

MM O bom de A Lei e Crime era o formato bastante inovador na televisão brasileira. Já há muito tempo que defendo que a Dramaturgia brasileira tem que sair um pouco do formato Novela, no qual é viciada. A Lei e o Crime provou que era um bom negócio. Tanto que a Globo foi na onda e logo em seguida saiu com Força Tarefa. Quando eu estava lá, eles não tiveram coragem de tocar os projetos que eu apresentava.

 

FM A Lei e o Crime , cogitava a Mídia, daria origem a um Filme que nunca veio a se concretizar. Isto é verdade? Se sim, este Projeto ainda está de pé?

MM O Projeto do filme existe. Escrevi o roteiro e recebi as parcelas do contrato previstas. Só falta a da estreia. É uma produção independente. Não sei explicar porque ainda não se concretizou.

 

FM Falemos agora de Ribeirão do Tempo, onde, novamente, você abordou temas completamente distintos de suas Obras anteriores. Como surgiu o enredo da Novela? As propriedades mágicas das águas do ribeirão já estavam previstas desde a concepção da historia?

MM Em Vidas Opostas e A Lei e o Crime, fui criticado por mostrar muita violência, muita cena de ação. Em Ribeirão do Tempo resolvi fazer uma história que se sustentava na ironia, ou seja, que exigia uma postura mais atenta, mais reflexiva do telespectador. Juntei o enredo de um romance inacabado que eu tinha com a sinopse de uma Novela que não tinha desenvolvido. Saiu aquela história.

Seria uma cidade mítica, isso desde a primeira ideia. Os mitos, fui inventando enquanto escrevia. As propriedades da água creio que surgiu no primeiro capítulo, não me lembro direito. Talvez estivesse na Sinopse.

 

FM Ribeirão chegou a ser criticada e tachada de “lenta”. Sua duração, segundo muitos, foi exagerada. Você concorda com estas críticas? Quais foram os problemas da Novela, que, segundo os números, não alcançou a mesma repercussão de seus trabalhos anteriores?

MM A meu ver, o problema, se é que se pode chamar assim, é que escrevi uma Novela de andamento lento. Sem histeria de perseguições, linguagem clipada, etc. Conscientemente, não fiz concessões à correria. Era uma novela para ser saboreada com calma, curtindo as ironias das quais ela era repleta, etc.

Talvez o público, mas principalmente a imprensa não estão acostumados a esta linguagem. Brinquei o tempo todo com os mitos da esquerda, os mesmos mitos que sustentam em grande parte o poder vigente, e nenhum crítico apontou esse detalhe. Houve um silêncio constrangedor.

 

FM A Teledramaturgia da Record já pode ser comparada à da Globo? Sob o ponto de vista do Autor, as duas Empresas ainda oferecem condições muito diferentes?

MM Em termos de qualidade, acho que são comparáveis sim. A Globo tem mais quantidade, ou seja, mais oportunidades de acertar. Para mim, como autor, a Record tem sido muito boa, porque lá consegui realizar projetos que na Globo ficariam na gaveta.

 

FM Boatos dão conta de supostos desentendimentos entre você e seu colega Lauro César Muniz. Isto é real? Hoje em dia, vocês se relacionam?

MM O que aconteceu foram divergências políticas no âmbito da Associação dos Roteiristas. Eu era o Presidente da entidade. O Lauro deu força para um movimento que visava me derrubar. Tudo bem. Isso é normal. Mas aí eu cobrei do Lauro que ele assumisse a presidência. Quem critica e derruba tem que suportar as consequências, não é mesmo? E ele era o único que tinha estatura profissional para isso.

Infelizmente, o Lauro tomou como ofensa o que eu disse e saiu da Associação dizendo na Imprensa que eu o tinha desrespeitado. Não é assim que vejo.

De qualquer forma, posso dizer tranquilamente que eu não briguei com o Lauro. Se ele brigou comigo, é com ele.

 

FM Quais são, atualmente, as maiores qualidades e carências da Teledramaturgia da Record?

MM A principal qualidade é ser uma alternativa à Globo.

 

 

FM O que o público pode esperar de Fora de Controle? Conte-nos um pouco sobre a Minissérie.

MM Estruturalmente falando, não se trata de uma Minissérie. É um Seriado. Ou seja, capítulo autônomos exibidos semanalmente. É uma história clássica policial: um crime, uma investigação, uma solução.

 

FM Quais são suas expectativas em relação ao Ibope da Minissérie? A segunda temporada de Fora de Controle já está confirmada?

MM Se der acima de 10 Pontos, já está bom. A segunda temporada é quase certa, mas o martelo ainda não foi batido.

 

FM Como um autor consagrado, que dicas você daria aos que sonham em ingressar na Teledramaturgia? Há uma fórmula para se escrever uma Novela de sucesso?

MM O mais importante é se preparar lendo muito, escrevendo outros gêneros, como teatro, conto, romance, etc. Quem quer escrever Novela, deve ler os clássicos do século XIX.

 

FM Por fim, deixe um recado para os milhares de leitores que estão acompanhando nosso papo.

MM Espero que gostem do meu novo trabalho. E se chegaram até aqui, obrigado. Abração.

 

Que Deus abençoe sua vida e sua carreira, Marcilio! São os votos da Foco Máximo!

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