Um dos primeiros temas abordados aqui nesta coluna foi à queda de audiência na TV aberta. Na ocasião, foram apontados os principais motivos para o declínio dos índices com o decorrer dos anos, principalmente na Globo e em especial às suas novelas.
Na época da publicação, a emissora carioca vinha “penando” com “Meu Pedacinho de Chão”, “Geração Brasil” e “Em Família”, essas duas últimas, foram responsáveis (por enquanto), por registrar os piores índices da história das faixas das 19h e 21h, respectivamente. O texto também foi escrito em cima de uma declaração dada por Sérgio Valente, diretor de comunicação da Globo, que em outras palavras, e diante do cenário em que se encontrava, disse que a qualidade era mais importante que a audiência.
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“Precisamos ter várias profundidades que desafiem as pessoas a ‘dar mergulhos’, como fizemos neste ano com O Caçador, Dupla Identidade. Meu Pedacinho de Chão, um produto às 18h, um primor de direção de arte. Um p… de um sucesso. Aí o cara diz: ‘Ah, mas teve uma curva de audiência baixa’. F… você com esse pensamento velho, cara! Você precisa olhar a relevância das coisas, e não só a audiência.” Sérgio Valente, diretor de comunicação da Globo.
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Ressalto ainda hoje que a declaração do diretor foi pura hipocrisia, já que todos sabem que a TV vive de audiência e de números. Obvio que a qualidade é sempre importante, mas afirmar que nas emissoras este quesito é mais relevante que a audiência, chega a ser absurdo, sem falar que existem várias evidências de que na prática, a própria Globo desmente totalmente essa declaração do seu diretor.
Mas o assunto em questão é outro. Diante do fracasso de audiência de “Babilônia”, acabei recordando uma declaração dada em novembro do ano passado pelo novo chefão da dramaturgia da Globo, Silvio de Abreu. O autor, que lidera o fórum de dramaturgia da emissora, condenou na época as inovações nas novelas, e prometeu voltar com as tramas clássicas.
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“Eu acho que novela tem que voltar a ser novela. Essa história de fazer novela para ficar parecida com seriado, não dá certo. Novela é uma história folhetinesca com romance, com comédia, com drama, que a pessoa fique motivada a assistir todo dia e que tenha um gancho a cada comercial, e um gancho forte no final do capítulo. Nós vamos ter novelas de 100 capítulos e de 200, depende da história. O ruim é quando você não tem história para contar e fica enchendo linguiça, e quando eu supervisiono ou escrevo eu não faço isso. Isso é uma coisa que não quero que aconteça mais.” CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Silvio de Abreu, líder do fórum de dramaturgia da Globo.
A declaração do autor foi perfeita. Sempre foi explicado aqui, que é um grande erro a Globo investir e até abusar de inovações em suas tramas, sendo que a maioria do público de suas novelas é praticamente o mesmo de dez, quinze anos atrás.
É evidente que o principal responsável pela queda de audiência das novelas da emissora é a própria emissora e não o público. Há de ressaltar também, o acerto com a atual trama das 19h, “Alto Astral”, que vem sendo digna de uma tradicional novela do horário, e não por acaso, vem registrando índices dentro do normal para a faixa. Pode-se tirar outro exemplo da última novela das nove, “Império”, que a partir do momento que “engrenou” o seu enredo, a audiência correspondeu. E talvez o maior exemplo de todos: “O Rei do Gado”, uma trama que o público se identifica pela sua simplicidade e onde não há inovação alguma. Há quem fique admirado com a audiência da trama de Benedito Ruy Barbosa, exibida originalmente há 19 anos, mas quem enxerga o real problema da atual dramaturgia da Globo, sabe que estes índices não são surpresa alguma.
É fácil notar que a promessa de Silvio de Abreu não foi cumprida. “Alto Astral” é a única exceção, mas iriam se esquecer da principal faixa, a das 21h?
A questão do boicote a “Babilônia” pode ser vista como algo a parte, por razões já destacadas em outro post da coluna em que aborda que a Globo já conhece bem o seu público, mas mesmo assim optou por pesar a mão para o horário, o que também pode ser lido como “inovar sem necessidade”.
Silvio de Abreu revelou a fórmula perfeita para a salvação dos folhetins da Globo: “novela tem que voltar a ser novela”. A maioria do público é saudosista? Talvez, mas até com uma certa razão, porque convenhamos, ultimamente não se vem mais fazendo novelas como antigamente.
Contato: foconatv@pop.com.br
As opiniões aqui retratadas não refletem necessariamente a posição do TV FOCO e são de total responsabilidade de seu idealizador.