A atriz e apresentadora Giovanna Ewbank deu o que falar após o polêmico vídeo em que ela e Ingrid Guimarães falam sobre sexo vestidas de fantasias eróticas de enfermeira. Quem não gostou nada do vídeo, foi Renata Pietro, presidente do conselho regional de enfermagem de São Paulo, que fez uma carta aberta à loira, destacando a luta da categoria para se livrar da conotação sexual atribuída às mulheres da classe e da importância da profissão, que vai muito além dos auxílios aos médicos. A apresentadora logo se desculpou, defensora da bandeira do empoderamento feminino, a mãe da pequena Titi, abordou a questão do machismo em filmagem: “”A gente tem, hoje, no brasil, um machismo estrutural que a gente precisa mudar. A gente tem que empoderar as nossas mulheres, as profissionais femininas”, disse.
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Ingrid Guimarães, que estava com Giovanna no vídeo polêmico, também apareceu na filmagem com entrevista com Renata Pietro.”Em nenhum momento a gente pensou em desrespeitar essa profissão. Inclusive na hora tinham várias fantasias. A gente escolheu enfermeira, na verdade, porque foi a fantasia que me serviu”, justificou a atriz.”A piada quando é boa tem que ser pros dois. Se em algum momento, a gente fez alguma coisa que incomodou o outro, pra mim já não vale, principalmente como mulher. Minhas sinceras desculpas”, clamou. Giovanna Ewbank também se manifestou e disse: “Quero te pedir perdão por não ter pensado . Foi muito ingênuo. É uma imagem de uma sociedade antiga que tem que ser mudada. A gente tem que abrir nossa cabeça, pensar diferente”, disse.
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Durante o vídeo, as famosas frisaram a importância de reconhecer atitudes e comportamentos que parecem naturais, mas que devem ser pensados e questionados, e como a sociedade trata como natural a erotização de algumas carreiras.”Pra mim, sempre foi muito normal ver essas fantasias eróticas de enfermeira, secretária, aeromoça”, comentou. Comentando também como as vezes isso acontece até entre as mulheres.”‘É importante a gente ver também como muitas dez vezes nós mulheres somos machistas sem perceber”, reforçou. “A gente está em 2019, e as coisas tem que mudar”, disse por fim.
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Veja o que a carta aberta dizia
“Olá, Giovanna Ewbank e Ingrid Guimarães.
Sou Renata Pietro, enfermeira, presidente do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP). Acabei de assistir ao vídeo no qual vocês estão fantasiadas de enfermeiras e discutindo, entre outros assuntos, artigos eróticos. Tenho mais de 20 anos de profissão e desde que comecei meus estudos, e mesmo antes deles, a minha profissão, a enfermagem, é estigmatizada por uma forte carga sexual, que não tem qualquer relação com as nossas atribuições diárias.
Abordagens como essa são um empecilho para a nossa luta em busca de reconhecimento. Estamos a 15 dias do início do mês da Enfermagem, um período em que o Coren-SP desenvolve campanhas de valorização da categoria, inclusive com a participação voluntária de muitos artistas e influenciadores, e nos deparar com uma referência dessas à profissão mostra que ainda temos um longo caminho a ser percorrido, no sentido de quebrar paradigmas e mudar uma cultura há décadas arraigada em nossa sociedade.
Felizmente há iniciativas nacionais e internacionais que vieram para mostrar que não estamos sozinhas. A campanha “Nursing Now”, idealizada pela Organização Mundial da Saúde, traz a duquesa de Cambridge, Kate Middleton, e a atriz Emilia Clarke (de “Game of Thrones”), como suas embaixadoras. É um alento e uma grande motivação saber, enquanto profissional de enfermagem, que não estamos remando sozinhos. E esta mensagem é para chamar vocês, grandes atrizes e mulheres brasileiras, a compartilharem conosco essa jornada, pelo empoderamento feminino e pela sororidade.
A enfermagem é a categoria da saúde que passa 24 horas por dia ao lado dos pacientes. Atuamos em todas as fases da vida das pessoas, desde o nascimento, passando pelos cuidados preventivos, paliativos, até os momentos mais difíceis. Trabalhamos com indivíduos de todos os gêneros, idades e classes sociais, na saúde pública ou privada.
No país, a enfermagem corresponde a 80% da força de trabalho da área da saúde, além de ser responsável por uma grande parcela da produção científica. E no estado de São Paulo, sou uma em um universo de cerca de 450 mil mulheres que integram a profissão. Nós, mulheres, correspondemos a cerca de 86% de todos os profissionais de enfermagem do estado.
No vídeo de vocês, o uso de termos como “vestida desse jeito” e “ela não só veio vestida de enfermeira como também trouxe brinquedos” reduz a profissão a uma mera fantasia sexual. A enfermagem é uma profissão que depreende anos de estudo e aperfeiçoamento. Sua classificação fantasiosa é apenas mais um exemplo de um machismo estrutural que reduz o trabalho feminino a questões sexuais. Não são poucos também, por exemplo, os casos de feminicídio praticados contra profissionais de enfermagem, o que só demonstra o tamanho da luta que temos para além de nossa rotina de trabalho.
Em uma breve busca de imagens no Google, vocês podem ver que o resultado para “enfermeira” é bem diferente do para “enfermeiro”. Precisamos mudar a visão de que mulheres profissionais de enfermagem (que também são auxiliares e técnicas, além de enfermeiras), assim como secretárias, professoras e outras, sempre sejam lembradas com uma carga erótica que não condiz com o seu real trabalho. Imagino que vocês também se sentiriam incomodadas e pouco representadas com qualquer imagem que pudesse distorcer a profissão de vocês. Como figuras públicas, formadoras de opinião e principalmente, mulheres, peço que não se refiram mais a qualquer trabalhadora como um fetiche.
Vamos, juntas, permanecer em ação para que a força de trabalho feminina não seja restringida ao erotismo. Vamos, juntas, lutar cada vez mais pela valorização da mulher.
Um abraço,
Renata.”