Patrícia Poeta, Marcão do Povo e Dudu Camargo: o que apresentadores da Globo e do SBT tem a ver com uma derrubada na TV aberta atualmente?
É muito possível comparar as diferenças que existiam na televisão nos anos 2000 e o que acontece agora, principalmente em 2023, após muitas emissoras descontinuarem produções históricas. Existe, porém, uma mudança drástica que atingiu principalmente a Globo e o SBT, mas também abalaram as estruturas de suas concorrentes.
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Em 2022, o SBT anunciou o fim do “Bom Dia & Cia” oficialmente. O programa já estava enfrentando várias dificuldades em relação à perda de audiência, dificuldades para encontrar anunciantes e também a perda daquele sentimento de nostalgia que sempre existiu de uns tempos para cá.
A atração que exibia desenhos e séries infantis de sucesso ficou por 28 anos no ar e passou por uma série de mudanças nos últimos anos. Eliana foi sua primeira apresentadora, mas outras grandes estrelas que continuam na mídia até hoje também passaram por lá e fizeram as brincadeiras com as crianças ao vivo pelo telefone.
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Priscilla Alcântara e Maisa Silva são algumas das artistas que passaram pelo programa e se tornaram as queridinhas de Silvio Santos. O problema é que a Justiça aplicou uma série de regras envolvendo a publicidade de produtos infantis que acabou causando um verdadeiro problema para o SBT.
PROIBIÇÕES NO PROGRAMA
Em 2015, a Justiça proibiu crianças de apresentarem o “Bom Dia & Cia”. Na época, as estrelas da novela “Carrossel” se revezavam na apresentação, como Mateus Ueta e Ana Júlia. A justificativa da proibição era sobre uma possível dificuldade que os artistas teriam de conciliar o trabalho com os estudos.
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Silvia Abravanel, que se tornou apresentadora oficial depois, chegou a reclamar sobre a decisão em uma rede social. “Solidária com as mamães que sabem que o trabalho na TV, por mais que exija um tempo das crianças, não tira o principal foco dos pequenos que é o estudo. Ainda estimula vários fatores na criança como reponsabilidade, caráter, personalidade, disciplina, o lúdico e a sociabilidade”, escreveu.
O Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) do Ministério da Justiça fez uma série de proibições em relação a comerciais de brinquedos nos últimos anos. Um dos maiores afetados nessa história, claro, foi o “Bom Dia & Cia”, que possuía brinquedos que levavam os próprios nomes das marcas na roleta, como o videogame Playstation.
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FIM DOS DESENHOS E CRIAÇÃO DE PROGRAMA
A Globo passou por uma situação semelhante. Até hoje, adultos de todo o Brasil acusam Fátima Bernardes de ter dado um fim ao “TV Globinho”, mas o programa envolvendo as propagandas já havia atingido em cheio a emissora carioca. A emissora já estava prestes a dar um fim à sessão de desenhos quando recebeu a proposta da jornalista para desenvolver o “Encontro”.
“Eu estava com vontade de fazer uma coisa diferente, queria ter um programa. Comecei a olhar a grade da Globo. Tinha Globo Rural, Bom Dia Brasil, Ana Maria Braga e, de repente, desenho. Aí jornal local, Globo Esporte e Jornal Hoje. Falei, ‘aí, gente, esse desenho está perdido nesse meio!'”, contou a famosa no “Roda Viva”, da TV Cultura.
“Eu falava: ‘isso aí não está bom, não. Tem um espaço aí que dá pra encaixar’. E comecei a ouvir que a própria TV estava com uma certa estranheza para esse horário, um horário que não tinha anunciante. Aí eu sugeri [o Encontro]”, continuou.
A resolução que impedia a divulgação de publicidade para crianças aconteceu em 2014. O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) desenvolveu esses impedimentos. Na época, a “TV Globinho” ia ao ar durante os sábados, mas logo deixou a grade da Globo oficialmente.
Sem poder anunciar, a emissora precisou realmente de um produto que pudesse se tornar um sucesso de anunciantes. O horário da manhã só possuía Ana Maria Braga, mas hoje diversas marcas possuem duas atrações no entretenimento para poderem anunciar. O “Encontro”, agora com Patrícia Poeta, é um dos mais rentáveis da grade.
INVESTIMENTO EM OUTRA ÁREA
Não foram apenas essas duas atrações citadas no texto que deixaram de existir nos últimos anos. A Band e até a RedeTV! já dedicaram partes de suas grades à exibição de desenhos animados no passado. A TV Cultura, que sempre foi referência na produção de conteúdos infantis, também sofreu com as últimas decisões da Justiça.
Isso fez com que a televisão precisasse se adaptar e introduzir nas grades aquilo que mais vende atualmente: jornalismo. O SBT dedica nada menos que 7 horas apenas ao “Primeiro Impacto”, que tem três apresentadores diariamente, e não tem perspectivas de deixar a programação tão cedo.
Desde o fim do “Bom Dia & Cia”, a emissora de Silvio Santos tem investido bastante nesse tipo de jornalismo, que é mais policialesco e exibe incansavelmente cenas de desgraças que acontecem pelo Brasil. A audiência não é muito alta, mas é estável desde sua estreia no canal.
“DATENA” DE SAIAS
A Globo também tem feito algo parecido. O “Encontro”, que sempre foi uma mistura de jornalismo e entretenimento, está cada vez mais parecido com programas da tarde, como os Datena e Luiz Bacci. Patrícia Poeta dedica grande parte da atração para mostrar absurdos que acontecem envolvendo crimes e situações sufocantes.
Não é à toa que no ano passado, em meados de agosto, a Justiça classificou o programa para apenas maiores de 12 anos. Até pouco tempo atrás, a atração era Livre, mas subiu para 10 anos quando Ludmilla cantou a música “Verdinha” no palco – em suposta apologia a drogas – e agora com o excesso de violência ganhou uma nova classificação.
Todas as emissoras precisam se adaptar e entender o que vende, e o que não vende mais. Mesmo que os desenhos continuassem na grade, as crianças buscariam outras formas de se entreter. O uso da internet, dos celulares e tablets, facilitou muito o consumo desse tipo de programação. Os streamings também investem fortemente na criação de novos conteúdos.
E cabe dizer também que, os homens de 30 anos que reclamam que Fátima Bernardes tirou a “TV Globinho” do ar, dificilmente teriam tempo para assistir desenho 9 horas da manhã. A não ser que a rotina fosse muito diferente que a maioria da população brasileira, o máximo que poderia acontecer seria ter um momento nostálgico e muito breve em frente à televisão por apenas algumas horas.