A Globo derrubou as programações com Patrícia Poeta, Ana Maria Braga e até mesmo a folia do Carnaval para noticiar tragédia
A Globo é sinônimo de excelência em várias de suas abordagens na TV. Os padrões de qualidade são sempre muito bem aferidos e o seu jornalismo, principalmente, se difere de tudo o que é feito nas outras emissoras abertas.
Uma prova do que a platinada é capaz de fazer tem sido possível ver ao longo desta semana, quando os programas matinais simplesmente foram derrubados para que edições especiais de seus telejornais fossem ao ar.
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Patrícia Poeta, do “Encontro”, e os substitutos de Ana Maria Braga no “Mais Você” fizeram comunicados ao público avisando os motivos de não exibirem as respectivas atrações em pleno Carnaval, tanto na última segunda-feira (20) quanto nesta terça-feira (21).
Justo no maior mercado publicitário do país, onde toda as programações são regidas, a Globo optou por dar mais importância aos desastres que acometeram o litoral norte de São Paulo.
As chuvas foram tão intensas que já representam o maior acumulado registrado na história, ultrapassando os 600mm em pouquíssimo tempo. Até o momento da escrita deste texto, já são mais de 40 mortos e cerca de 49 desaparecidos.
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Ontem, Fabrício Battaglini e Talitha Morete avisaram que não levariam o programa de Ana Maria Braga para a casa dos paulistas para que o “SP1” ganhasse uma edição estendida, começando no horário em que a loira costuma aparecer na tela.
A decisão foi corajosa, já que o programa é um dos que mais faturam na emissora. Mas o mais importante naquele momento era mostrar para os moradores do estado que os estragos que as chuvas fizeram foram mais mais sérios do que muita gente imaginava.
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ESPAÇO PARA A EMOÇÃO
Hoje pela manhã, nem Patrícia Poeta pôde apresentar o “Encontro”. A atração foi derrubada às pressas para que Sabina Simonato pudesse apresentar uma edição especial do “Bom Dia SP”, mostrando detalhes de tudo o que aconteceu no litoral.
“Olá, bom dia. O ‘Encontro’ hoje não vai ser transmitido para São Paulo, litoral norte e Vale do Paraíba, que vão acompanhar a cobertura completa da tragédia das chuvas. Fica aqui a nossa solidariedade e a nossa torcida para que a vida possa ser retomada o mais rapidamente possível. O ‘Encontro’ volta amanhã logo depois do ‘Bom Dia Brasil’. Até lá”, anunciou a apresentadora.
Foi na edição que o repórter Walace Lara chegou a chorar ao vivo enquanto opinava sobre comerciantes oportunistas que, em meio a tanta destruição e mortes, começaram a vender o litro da água por R$ 93,00. O ato insensível arrancou lágrimas do profissional, que chegou a lamentar:
“A gente fica pensando que nessas horas a gente vê muitos gestos de solidariedade, mas também muita ganância. Como diz o pessoal nas ruas: ‘Deus tá vendo’. Cobrar R$ 93 por um litro de água…”.
Sabina Simonato destacou que a emoção do colega era algo totalmente humano e engrandecia ainda mais o jornalista como profissional. “Esses gestos, as suas emoções, mostram quão humano o Walace é. Ele é um repórter daqueles que a gente dá nota 10. Vai atrás, né?”, afirmou.
Toda vez que um repórter se emociona em tela, mostra um lado do jornalismo que por muitos anos as emissoras tentaram apagar. Foram inúmeras reportagens que os repórteres acabaram pedindo licença à seriedade e imparcialidade e deram espaço a sentimentos humanos. Nessas ocasiões, eles que se tornam notícia.
E isso é muito importante para a Globo, que tanto preza pelo padrão de qualidade de seu jornalismo, e de repente tem se mostrado aberta a uma nova forma de se relacionar com o público. Isso já possível ver em seus principais telejornais, como o “Jornal Nacional”, que sempre ganha reações improvisadas de William Bonner e Renata Vasconcellos.
Os dois já reconheceram esse novo momento de suas profissões e aproveitaram a pandemia para mostrarem que também são humanos, apesar de estarem ali na bancada para passar notícias. Foram vários momentos de três anos para cá que os dois âncoras se emocionaram, apoiaram um ao outro e tiveram interações sensíveis.
A importância de informar, entretanto, nunca ficou em segundo plano. A decisão de derrubar as programações locais para cobrir tragédias não é uma novidade na emissora. Infelizmente, esses momentos acontecem no início de todos os anos, quando as chuvas se intensificam e passam causando destruição pelas cidades.
MAIS TRAGÉDIAS
Ano passado, Petrópolis (RJ) foi atingida de uma forma absurda pelas tempestades. Foram mais de 240 mortes e milhares de desalojados, representando uma das maiores tragédias causadas pelas chuvas no Brasil. Até então, era o maior acumulado de chuvas da história do país.
A Globo Rio fez uma cobertura intensa, que se intensificou para outros estados do país. No mesmo período, a cidade de Franco da Rocha registrou 18 mortos em um deslizamento de terras que parou os telejornais da emissora em São Paulo. Para uma infelicidade, são sempre situações como essas que fazem a emissora convocar seus profissionais para plantões.
A emissora também derrubou grande parte das coberturas que faria no Carnaval. A folia ficou em segundo plano e pouco se comentou sobre os desfiles que tomaram conta das principais capitais do país. Os momentos de alegria precisaram dar uma pausa para que a tragédia fosse explicada.
OUTRAS EMISSORAS TAMBÉM TÊM TIMES COMPETENTES
Não é qualquer canal aberto que decide derrubar seus principais programas apenas para manter o público informado. O SBT, por exemplo, raramente faz coberturas jornalísticas fora do horário do “Primeiro Impacto” ou do “SBT Brasil”. A Record até tem espaço para isso, já que dedica um bom tempo para as notícias durante a manhã e a tarde.
A Band também tem uma boa equipe de jornalistas e seu principal jornal é considerado um dos melhores do país atualmente.
De qualquer forma, a Globo merece colher os méritos por dar tantas notícias importantes ao público, principal a essas que foram ao ar durante a programação de hoje. O padrão de qualidade da emissora dificilmente será batido nos próximos tempos e não há previsão que isso aconteça.