FATURAMENTO
Globo, Record e Band vendem alma à igreja evangélica e emissoras dependem da fé para sobreviver
24/01/2023 às 11h44
Globo, Record e outras grandes emissoras têm usado a igreja evangélica para conquistar público e obter lucro
É inegável a importância da religião na vida da população mundial, mas o Brasil é, e sempre foi, um país muito cristão. Isso reflete também no tipo de conteúdo que os frequentadores de igrejas consomem na TV. Com exceção do SBT, a Record, a Band, a RedeTV! e até mesmo a Globo possuem suas ligações diretas com a comunidade evangélica.
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A estreia da novela “Vai Na Fé” surpreendeu muitos que acompanhavam a introdução à história de Sol (Sheron Menezzes), que é uma mulher evangélica, vendedora de marmitas, mas que se vê em um dilema quando precisa voltar a ser dançarina de funk para pagar as contas básicas de casa.
A Globo voltou a abordar a religião em suas novelas, após um período sombrio em que parte da comunidade atribuiu à emissora algumas mazelas da sociedade, inflamadas por questões políticas. Para tentar fazer as pazes com essa parcela do público, a platinada convocou a autora de sucesso Rosane Svartman (“Totalmente Demais”, “Bom Sucesso”) para escrever uma história leve e que retrate os evangélicos de forma respeitosa.
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Houve uma certa apreensão de quem segue a religião, já que fiéis se recusaram em dar uma chance para a Globo por ser muito católica. De qualquer forma, a escritora responsável pela trama contou na coletiva de imprensa de lançamento da novela que o folhetim surgiu porque a igreja evangélica é um assunto latente na sociedade.
“Um autor de telenovela precisa ter sensibilidade de saber o que está latente na sociedade, o que as pessoas querem conversar. Há dois anos, quando fiz pesquisa de ‘Bom Sucesso’ vi que o público evangélico não estava afastado das novelas da Globo. Comecei a pensar nisso e nasceu a Sol. Foram pesquisas e entendimentos”, declarou.
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ATRAVÉS DA DRAMATURGIA
Essa é a tentativa da emissora carioca em seguir a tendência das concorrentes em obter lucro e público através da religião, mas com o que sabe fazer de melhor: as novelas. As outras emissoras usam, indiscutivelmente, uma forma mais apelativa de conversar com essa parcela de fiéis.
A Record dedica toda a sua madrugada na exibição de conteúdo da Igreja Universal, de Edir Macedo. As quedas de audiência no início da noite, inclusive, se dão por conta da exibição desse horário religioso. Não é novidade também que suas principais novelas também retratam assuntos bíblicos, e que até certo ponto obteve audiência estrondosa na grade.
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Em 2015, a novela “Os Dez Mandamentos” liderou a audiência da Grande São Paulo por três dias seguidos e assombrou a Globo. No dia em que Moisés (Guilherme Winter) abriu o Mar Vermelho, a Record atingiu 28,1 pontos, vencendo a principal rival, que na época exibia a novela “A Regra do Jogo”.
SALVANDO EMISSORAS DE CRISES
Atualmente, a venda de horários para igrejas é essencial para a sobrevivência de algumas emissoras. A Band, por exemplo, sempre vendeu o horário nobre para R.R. Soares, passando essa faixa para Faustão desde o início de 2022. O pastor ficou 18 anos na emissora e deixou para o investimento do canal no apresentador, mas as coisas não saíram como o planejado.
Em julho, a Band recorreu novamente ao líder religioso para vender horários e fazer a conta fechar no final do mês. O retorno financeiro para uma empresa do porte da emissora do Morumbi ao vender a grade para uma igreja é enorme, fechando o ano com um lucro milionário.
Após romper com a Band, a Igreja Universal fechou um contrato ótimo com a Gazeta. De acordo com o Notícias da TV, na última segunda-feira (23), Edir Macedo assinou um contrato que permite que o conteúdo religioso seja transmitido das 20h às 2h na emissora da Fundação Cásper Líbero.
O canal receberá R$ 1,2 milhão por mês e o contrato tem validade até o fim de 2023, podendo ser renovado automaticamente por mais um ano caso as duas partes concordem com a parceria. Em um ano, a Universal pode pagar algo equivalente a R$ 15 milhões para a emissora paulista.
Apesar da novidade, a Gazeta e a Universal já tinham uma boa relação desde 2003, quando cerca de duas horas da grade já exibia conteúdo religioso. A falta do Canal 21, da Band, também fez com que o dono da Record investisse mais na concorrente para exibir os cultos.
SEM ESPAÇO
O SBT é a única emissora que nem flerta com conteúdos evangélicos em sua grade. De acordo com Ricardo Feltrin, do Uol, em meados de 2012 a emissora recebeu uma proposta robusta da Igreja Mundial para exibir conteúdo religioso durante as madrugadas. Diretores do canal acreditaram que seria uma boa movimentação para a empresa, que lucraria R$ 200 milhões no fim do ano.
Silvio Santos, entretanto, recusou a proposta e não permitiu que isso acontecesse. O Homem do Baú é judeu e obedece ao Shabbat, fazendo questão de celebrar a religião de forma reservada e sem fazer nenhum tipo de apologia em sua grade de programação. Não existe na empresa nenhum tipo de referência a outras religiões, apesar de suas filhas serem bem devotas da igreja evangélica e até fazerem campanhas de fé nas redes sociais.
Em 2005, o empresário também recusou outra grande proposta. Edir Macedo tentou comprar horário em sua principal rival, já que a Record e o SBT disputam o tempo todo a vice-liderança da TV brasileira. Sem desviar de seus ideais, o apresentador recusou a proposta e impediu novas negociações.
ALTOS E BAIXOS DO SEGMENTO
Em plena pandemia, no ano de 2020, as emissoras colocaram seus horários à venda em ‘liquidação’ e ofereceram até 70% de desconto em aluguéis para as igrejas. De acordo com Ricardo Feltrin, RedeTV!, Band e Gazeta contornaram crises através dos valores pagos pela Igreja Universal, Igreja Internacional, Vitória em Cristo, Assembleia de Deus e Comunidade Cristão Paz e Vida.
No mesmo ano, o ex-presidente Bolsonaro lançou uma Medida Provisória que facilitava a transmissão de conteúdos evangélicos e católicos de graça da TV por assinatura. O projeto foi encabeçado por Fábio Faria, ex-ministro das Comunicações e genro de Silvio Santos, além de ser um grande aliado do antigo chefe do Executivo.
Em 2022, a Justiça Federal no Rio de Janeiro condenou a Band e a Record RJ a diminuírem o tempo vendido às igrejas evangélicas em suas grandes tanto de rádio quanto de TV por excederem os limites de 20% e 25%, respectivamente. Os canais desrespeitaram regras da Lei Geral da Radiodifusão impostas para esses veículos, de acordo com o Observatório da TV.
Autor(a):
Paulo Damião
Eu sou Paulo Damião, jornalista formado pela FIAM-FAAM, em 2020. Trabalho com celebridades desde 2017 e admiro tudo o que envolve o mundo dos famosos e da televisão. Já entrevistei artistas, participei de coletivas de imprensa e sou responsável por desenvolver vários especiais de destaque no TV Foco.Meu email é [email protected]