Já não é de hoje a constante reclamação de autores de novelas em relação à duração das tramas. De fato, quanto maior a quantidade de capítulos, maiores também as chances da história se desgastar e perder parte do brilho inicial. Embora a Globo tenha tentado, nos últimos anos, diminuir o tempo no ar de suas principais novelas, ainda se sabe que o fator comercial pesa muito na decisão de fazer histórias mais curtas. Por ser o produto mais caro da grade, a novela precisa pagar todo o investimento depositado na obra. Isso sem falar nos imprevistos na produção das tramas subsequentes, que, por vezes, exigem mais capítulos das antecessoras.
Com “Império”, vê-se a luta de Aguinaldo Silva para não perder de vista a trama central e o elo entre os conflitos paralelos. No ar desde julho, a história do Comendador tem apresentando novos ganchos a fim de não perder o ritmo, mas mesmo com a experiência de grandes sucessos, o autor precisa ser muito convincente. “Império” lançou mão da falsa morte do Comendador e, agora, com pouco menos de um mês para acabar, ainda precisa fazer render a história do vilão Fabrício Melgaço, principal entrecho da trama nas últimas semanas.
Em “Boogie Oogie”, é notável a perda de fôlego da narrativa, que não apresenta mais a agilidade que se destacou nos primeiros meses. Com um novo turning point a cada semana, a novela das 18h “segurou as pontas” durante um bom tempo, mas sofre agora com o excesso de capítulos que superestima o já cansativo “segredo de Carlota”, a personagem de Giulia Gam. Marcada pelo revival dos anos 70, “Boogie Oogie” reúne o bom roteiro de Ruy Vilhena, com a direção de núcleo acertada de Ricardo Waddington e um elenco que defende bem suas tramas. No entanto, contrariando as anteriores novelas do horário, a história se perde em meio às centenas de capítulos. Quanto terminar, a novela terá completado sete meses no ar.
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Experiências com histórias mais curtas já trouxeram grandes sucessos para a Globo. “Cheias de Charme” (2012) atingiu enorme repercussão no horário das 19h e não durou nem seis meses. Outros casos, como os experimentados no horário das 23h, mostram que as chances de uma trama menor cair no risco da repetição são menores.
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Na contramão desse movimento, Record e SBT parecem preferir o modelo de novelas longas, por várias razões comerciais e por estratégia de programação. “Chiquititas” ficará quase dois anos no ar.
Na Record, muitas das recentes tramas bateram a marca dos 200 capítulos. Com a estreia de “Os Dez Mandamentos”, em março, a emissora aposta em um formato menor, de 150 capítulos, uma reivindicação dos autores da casa, como Carlos Lombardi e Marcílio Moraes, que não escondem o desejo de focar em minisséries, por conta do desgaste das novelas.
Com tramas menores, o público será um dos grandes favorecidos, haja vista que as histórias ganharão em ritmo e terão menos chances de cair na rotina a afastar a audiência. O mercado de artistas também será movimentado, uma vez que com mais novelas em produção, mais profissionais terão que se mobilizar para dar conta da demanda. Essa é uma mudança gradual que a televisão precisará adotar. A prática de histórias curtas, impulsionado no exterior pelo boom dos seriados, chega ao Brasil a passos lentos, mas dando sinais de que é um movimento aparentemente sem volta.