Após decisão do grupo Globo em pedir desculpas à esposa de Eduardo Bolsonaro, cúpula editorial de Época pediu demissão
Pelo menos três dos principais nomes do jornalismo da revista Época, que pertence ao grupo Globo, pediram demissão da empresa após o conglomerado de mídias da família Marinho pedir desculpas públicas ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), por uma reportagem veiculada na revista semanal sobre a esposa do filho do presidente Jair Bolsonaro.
De acordo com informações do apresentador Amaury Jr., em seu blog no UOL, a cúpula de Época, representada pela diretora de redação Daniela Pinheiro, o redator-chefe Plínio Fraga e o editor Marcelo Coppola, deixaram o grupo Globo nessa terça-feira, 17, inconformados com decisão da empresa em relação à matéria sobre o “coaching” da psicóloga Heloisa Wolf Bolsonaro, que é casada com Eduardo.
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A matéria feita pelo jornalista de Época, e que também ensina em outros veículos do grupo Globo, João Paulo Saconi, e fala sobre uma experiência do repórter que se submeteu a cinco sessões online com Heloisa e pagou pelo curso um valor acima de mil reais. A reportagem, no entanto, acabou gerando uma repercussão negativa, se tornando um dos assuntos mais comentados do Twitter durante o final de semana.
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Já na segunda-feira desta semana, o grupo Globo emitiu nota admitindo “erro” na matéria em questão, fato que, por sua vez, desagradou a cúpula editorial de Época, que acabou pedindo demissão da empresa. Até o momento, a Globo não se manifestou publicamente sobre a saída de seus profissionais.
Veja abaixo a íntegra da nota do grupo Globo sobre a matéria em questão veiculada na revista Época:
“UMA EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA
Nota do Conselho Editorial do Grupo Globo
“Como toda atividade humana, o jornalismo não é imune a erros. Os controles existem, são eficientes na maior parte das vezes, mas há casos em que uma sucessão de eventos na cadeia que vai da pauta à publicação de uma reportagem produz um equívoco.
Foi o que aconteceu com a reportagem “O coaching on-line de Heloisa Bolsonaro: as lições que podem ajudar Eduardo a ser embaixador”, publicada na última sexta-feira. ÉPOCA se norteia pelos Princípios Editoriais do Grupo Globo, de conhecimento dos leitores e de suas fontes desde 2011. Mas, ao decidir publicar a reportagem, a revista errou, sem dolo, na interpretação de uma série deles.
É certo que em sua seção II, item 2, letra “h”, está dito: “A privacidade das pessoas será respeitada, especialmente em seu lar e em seu lugar de trabalho. A menos que esteja agindo contra a lei, ninguém será obrigado a participar de reportagens”. A letra “i” da mesma seção abre a seguinte exceção: “Pessoas públicas – celebridades, artistas, políticos, autoridades religiosas, servidores públicos em cargos de direção, atletas e líderes empresariais, entre outros – por definição abdicam em larga medida de seu direito à privacidade. Além disso, aspectos de suas vidas privadas podem ser relevantes para o julgamento de suas vidas públicas e para a definição de suas personalidades e estilos de vida e, por isso, merecem atenção. Cada caso é um caso, e a decisão a respeito, como sempre, deve ser tomada após reflexão, de preferência que envolva o maior número possível de pessoas”.
O erro da revista foi tomar Heloisa Bolsonaro como pessoa pública ao participar de seu coaching on-line. Heloisa leva, porém, uma vida discreta, não participa de atividades públicas e desempenha sua profissão de acordo com a lei. Não pode, portanto, ser considerada uma figura pública. Foi um erro de interpretação que só com a repercussão negativa da reportagem se tornou evidente para a revista.
Em sua seção 1, item 1, letra “r”, os Princípios Editoriais do Grupo Globo determinam: “Quando uma decisão editorial provocar questionamentos relevantes, abrangentes e legítimos, os motivos que levaram a tal decisão devem ser esclarecidos”. E o preâmbulo da mesma seção estabelece com clareza: “Não há fórmula, e nem jamais haverá, que torne o jornalismo imune a erros. Quando eles acontecem, é obrigação do veículo corrigi-los de maneira transparente”.
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É ao que visa esta Carta aos Leitores. Explicar o que levou à decisão editorial equivocada, reconhecer publicamente o erro e pedir desculpas a Heloisa Bolsonaro e aos leitores de ÉPOCA.” concluiu a Globo em nota aos seus leitores.