Em crise, devido à pandemia de coronavírus, Globo planeja que até 80% dos seus artistas passem a ter contratos por obra, abrindo brecha para a concorrência
Em outras épocas, a Globo fazia questão que a grande maioria dos seus artistas tivessem contrato fixo e de exclusividade, mesmo que não houvesse algum trabalho em vista para eles. E tudo isso tinha o objetivo principal de não fortalecer a concorrência, preservando o seu “império” de estrelas.
Um grande exemplo dessa antiga política da Globo ocorreu em 1997, quando Renato Aragão, um dos principais símbolos da emissora, estava na geladeira após o fim de Os Trapalhões, mas irritado com a falta de novos trabalhos na casa, ameaçou deixar o canal, com a possibilidade de acertar com o SBT. Porém, a Globo, apenas para não liberar o eterno Didi para a concorrência, renovou o seu contrato e tratou de oferecer um novo projeto às pressas para acalmá-lo.
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Hoje em dia, no entanto, a situação é bem diferente, e talvez a maior prova dessa mudança ocorreu em 2015, com a transferência de Xuxa para a Record. A Globo ainda fez jogo duro, tentando renovar o contrato de Xuxa para deixá-la na geladeira apenas com a finalidade de dificultar a vida da concorrente, mas no fim das contas, o negócio foi fechado com a Record.
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Coincidentemente ou não, foi justamente nesse período que a Globo passou a adotar uma nova política de contratos por obra, que permite que boa parte dos seus atores sejam contratados apenas para determinada produção e depois fiquem livres, podendo acertar com outras emissoras.
O reflexo disso foi uma “debandada” de grandes estrelas que deixaram a casa nos últimos anos, e nomes que em outras épocas seriam consideradas indispensáveis, como Bruno Galgiasso, Marco Pigossi, Maitê Proença e Bruna Marquezine.
POLÍTICA INTENSIFICADA
Segundo informações da revista Veja, diante da atual crise, devido à pandemia de coronavírus, que faz com que diversas produções sejam canceladas ou paralisadas, a Globo decidiu intensificar ainda mais essa política, e com uma ruptura bombástica, se comparada às ideias do canal em outras épocas.
Nesse período de isolamento social, a emissora vem conversando constantemente com atores, diretores e autores até três meses antes do término dos seus contratos para propor apenas vínculos por obra. Para se ter uma ideia, a emissora planeja que até 80% de toda sua equipe artística passe a trabalhar dessa forma, o que dá brecha para que concorrentes, seja na TV aberta como no serviço de streaming (Netflix, por exemplo), finalmente tenham maiores possibilidades de contratar grandes estrelas da Globo.
REAÇÃO
Com o contrato fixo e de exclusividade, os artistas da Globo ficavam em sua zona de conforto, recebendo salário (alguns de altíssimo valor) mesmo estando fora do ar. Porém, se engana quem pensa que a maioria desses famosos está reclamando da nova proposta da emissora.
Muitos estão celebrando o fato de terem uma maior liberdade para escolherem novos trabalhos e com um número maior de oportunidades, principalmente com o fortalecimento do streaming no Brasil. É o caso do próprio Bruno Gagliasso e Marco Pigossi, que demonstraram um esgotamento das novelas e chegaram até a recusar uma renovação com a Globo com a perspectiva de estrelarem séries na Netflix.
Em recente entrevista ao youtuber Caio Fischer, Leandro Hassum, que foi dispensado pela Globo no ano passado, falou que encara essa nova política de contrato por obra de forma positiva. “Eu tenho uma visão muito positiva disso. O mercado hoje em dia tá muito sedutor, temos as plataformas, o streaming tá no mundo todo. Mas o ator é inquieto, né, a gente quer fazer projetos novos”, disse.
“Dessa forma de agora [contrato por obra], isso não inviabiliza que quem não tá renovando com a Globo amanhã não vai fazer um projeto lá, mas talvez por obra certa. E ainda vai estar com a porta aberta para fazer um trabalho para a Netflix, para Amazon, para Hulu, YouTube, Multishow, assim como eu estou com projeto lá. Acho que a atitude da Globo tá certa, vamos ter um quadro aberto para trazer novos talentos para dentro e assim funcionar o mercado”, finalizou o humorista.