Nos anos 1980, Globo cria veto contra artistas e causa desabafo histórico de Silvio Santos em programa
01/01/2020 às 19h27
Globo foi acusada de criar “lista negra” com artistas da concorrência e gerou revolta em Silvio Santos
Nos últimos anos, a Globo vem surpreendendo muita gente ao se mostrar cada vez menos conservadora e receber sem maiores problemas artistas da concorrência, especialmente do SBT. A saudosa Hebe Camargo, Maisa e Larissa Manoela, estão entre as artistas da emissora de Silvio Santos que participaram de atrações da Globo recentemente.
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Essa surpresa se deve justamente ao fato da Globo, no passado, ter sido extremamente rigorosa em relação à participação de estrelas da concorrência em sua programação. Em outras épocas, artistas de outros canais não podiam ao menos serem citados na emissora carioca.
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Um dos casos mais emblemáticos e polêmicos em relação a esse veto ocorreu em 1988 e chegou a revoltar Silvio Santos. Na ocasião, Jô Soares acertou sua transferência da Globo para o SBT, e ao aparecer pela primeira vez no Troféu Imprensa para receber sua estatueta pelo ano de 1986, aproveitou para acusar a sua antiga emissora de promover um boicote contra artistas da concorrência em relação à propagandas comerciais.
A reclamação ocorria pelo fato da Globo barrar a veiculação de todas as propagandas comerciais que fossem estreladas por artistas de outros canais, especialmente aqueles que deixaram a emissora. Dessa forma, muitos anunciantes não se mostravam dispostos a investir em propagandas que não seriam exibidas na Globo, que praticamente dominava o ranking de audiência na época.
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Um dia antes da gravação do Troféu Imprensa, Jô Soares havia escrito um artigo sobre o tema para o Jornal do Brasil, e durante sua participação na premiação, ele pediu espaço a Silvio Santos para ler o texto. “Eu acho que talvez seja a coisa mais importante do Troféu Imprensa deste ano”, comentou Silvio.
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“Com impecável senso de oportunidade, a TV Globo escolheu exatamente o momento da Constituinte no Brasil para inaugurar sua lista negra. Quem sair da emissora sem ter sido mandado embora corre o risco de não poder mais trabalhar em comerciais, sob a ameaça de que estes não serão lá veiculados. Como a rede detém quase o monopólio do mercado, os anunciantes não ousam nem pensar em artistas que possam desagradá-la”, iniciou Jô.
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“Finalmente, eu gostaria de dizer que Silvio Santos foi tremendamente injusto quando chamou Boni [José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, diretor de Operações da Globo na época] numa entrevista de ‘office-boy de luxo’. Nenhum office-boy consegue guardar tanto rancor no coração”, disparou o comediante.
Silvio Santos demonstrou apoio a Jô, e lamentou a postura da Globo nesse caso: “Eu faço minhas as suas palavras. E é uma pena, senhores telespectadores, que uma rede de televisão com este comportamento ainda seja a primeira colocada em audiência em todo o Brasil e uma das melhores emissoras de televisão do mundo. É uma pena que a Rede Globo de Televisão tenha esse procedimento. É uma pena. Queira Deus que o doutor Roberto Marinho seja mais uma vez iluminado para que estas atitudes não sejam frequentes na Rede Globo de Televisão”.
Esse veto da Globo, no entanto, já estaria em vigor há pelos menos cinco anos, e envolveu outro profissional que decidiu trocar a emissora carioca pelo SBT. Em 1983, Sérgio Chapelin, que comandou os principais jornalísticos da Globo, como o Jornal Nacional, Fantástico e o Globo Repórter, acertou com a emissora de Silvio Santos para se aventurar como apresentador de programa de auditório.
Chapelin comandou o Show Sem Limite, que até registrava boa audiência, e tinha um salário de 8 milhões de cruzeiros, seis vezes mais do que faturava na Globo. Apesar disso, o apresentador se queixava a Silvio Santos do fato de não conseguir novos comerciais, justamente pelo veto da Globo, e assim, seus rendimentos mensais permaneciam praticamente os mesmos da antiga emissora.
Silvio Santos não deixou o assunto morrer, e ainda em 1988, durante o Show de Calouros, voltou a abordar o tema. O apresentador, que hoje é conhecido por seu estilo mais descontraído e que evita falar sobre temas sérios na TV, surpreendeu o público ao mandar um recado para Roberto Marinho, fundador da Globo, em um desabafo histórico.
“Doutor Roberto, será que o senhor não vai convencer os seus diretores? A sua esposa, que está lhe vendo, os seus filhos, que vão tomar conta da Rede Globo? O senhor é um homem polido, que não precisa de mais nada. Precisa estar em paz com Deus, para que Deus o receba logo, logo em seus braços”, iniciou Silvio Santos.
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“Será que o senhor não vai convencer os seus diretores a deixar qualquer artista fazer comerciais na Globo quando o artista quer sair e recebe uma oferta da Bandeirantes, da Manchete, da Record, do SBT? A nossa luta é pela sobrevivência. O senhor não precisa mais de dinheiro, tenho certeza, eu também não. Mas os nossos funcionários precisam do dinheiro”, completou o dono do SBT.
https://www.youtube.com/watch?v=Ugo5WoCYTvk
O desabafo de Silvio Santos parece ter surtido efeito. A partir dos anos 1990, a Globo se tornou mais flexível em relação a isso, e comerciais com o próprio Jô Soares passaram a ser veiculados pela emissora.
Em 2003, por exemplo, a Globo e o SBT chegaram a promover uma ação inédita e histórica, na qual Faustão e Gugu Liberato, grandes rivais na época, dividiram tela e interagiram ao vivo para uma campanha publicitária da Nestlé.
Nos dias atuais, ainda mais em tempos de crises, a Globo não se dá mais ao luxo de rejeitar a veiculação de propagadas protagonizadas por grandes nomes da concorrência. Comerciais que contam com a participação de Larissa Manoela, Maisa, Rodrigo Faro, Ana Hickmann, Sabrina Sato, e até mesmo de marcas que pertencem ao Grupo Silvio Santos, como a Telesena e a Jequiti, passaram a ser exibidos sem maiores problemas pela emissora.
Autor(a):
Renan Santos
Formado em jornalismo, fui um dos principais jornalistas do TV Foco, no qual permaneci por longos anos cobrindo celebridades, TV, análises e tudo que rola no mundo da TV. Amo me apaixonar e acompanhar tudo que rola dentro e fora da telinha e levar ao público tudo em detalhes com bastante credibilidade e forte apuração jornalística.