OPINIÃO | Sob risco de hipocrisia, Globo não deve interferir nas postagens políticas de seus artistas e jornalistas
13/04/2018 às 17h25
O momento conturbado pelo qual passa o cenário político brasileiro ocasionou o retorno de uma discussão antiga da esfera televisiva. Trata-se da questão de as emissoras proibirem seus funcionários de emitirem opiniões ao público acerca de determinados assuntos. A Globo, principal emissora mencionada quanto ao assunto, teria reforçado recomendação a membros de seu casting de não se manifestar por redes sociais.
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Os desdobramentos da Operação Lava-Jato, em especial, possibilitaram que contratados das emissoras se posicionassem publicamente a favor ou contra certos políticos e ideias, assim como ocorre com pessoas comuns em suas redes sociais. Isto se chama liberdade de expressão, algo que anda de mãos dadas com a tão aclamada liberdade de imprensa, defendida pelos próprios veículos de comunicação em geral.
Assim, não se pode ser hipócrita de defender liberdade de imprensa e não permitir a liberdade de seus funcionários de expressarem suas opiniões político-sociais. Afinal, entre outras coisas, tais pessoas públicas, ao se expressarem publicamente, incentivam o debate e a participação da sociedade nas pautas e decisões nacionais.
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Nesse prisma, esta coluna lança mão do espaço para afirmar que a Globo não deve interferir nas postagens políticas de seus artistas e jornalistas. A linha editorial da emissora é uma e seus contratados devem respeitá-la quando em exercício de suas funções. Porém, fora delas, são cidadãos livres (ou deveriam ser) para opinar sobre quaisquer assuntos.
Os jornalistas, por sua vez, são ainda mais pressionados quanto ao assunto em pauta. Obviamente, não é sensato um William Bonner defender explicitamente (nem deve implicitamente) um lado partidário no Jornal Nacional. Mas William, em sua rede social, é livre (ou deveria ser) para expressar sua opinião sobre o que quiser. Afinal, ele está dando sua opinião e não a opinião da emissora que trabalha ou telejornal que comanda.
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Há vários gêneros jornalísticos, por sinal. Se não é sensato William Bonner expressar opinião no JN de forma tendenciosa (algo comum em telejornais brasileiros, que o diga certa jornalista do SBT), é totalmente adequado um jornalista especialista fazer comentários opinativos a respeito de economia em um telejornal no qual atua nessa função ou, por exemplo, opiniões sobre futebol em programas esportivos. Desse modo, nessas situações, depende do contexto em que se insere o profissional.
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Como tão bem dito pelo escritor, dramaturgo e cartunista José Carlos Aragão, é injusto e antidemocrático vetar ao jornalista o direito de emitir juízo próprio. Assim, fica o exemplo do áudio supostamente de Chico Pinheiro, tão repercutido esta semana. Se a conta de WhatsApp era dele e o grupo no qual ele supostamente teria enviado esse áudio não pertencia às suas funções enquanto âncora do Bom Dia Brasil, quem é a Globo para o proibir de conversar sobre assuntos políticos fora do ambiente de trabalho?
A solução é o discernimento de diretores de Jornalismo, de emissoras e de toda a população. Os artistas e jornalistas são livres assim como todos devem ser. As opiniões deles em suas redes sociais dizem respeito à vida privada e não à profissional. Nesse sentido, é necessária a maturidade suficiente para diferenciar profissional de pessoa, ou seja, não ficar achando que a opinião de Chico é a opinião da Globo. Menos.
Atualização às 20h00 (13/04):
Procurada para se posicionar sobre a suposta recomendação a seus funcionários, a assessoria da Globo confirmou a esta coluna que um e-mail por parte do diretor de Jornalismo da emissora, Ali Kamel, circulou para profissionais do Jornalismo, contendo uma recomendação (não uma proibição) a respeito de opiniões políticas em redes sociais. A assessoria informou ainda que o e-mail não circulou para artistas do Entretenimento.
Twitter: @Ligado_na_TV @JuniorDanyllo
Contato: [email protected]
As opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade do autor, não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do TV Foco
Autor(a):
Danyllo Junior
Escreve artigos de opinião sobre televisão desde 2009. Enfermeiro, Mestrando da UFRN, autor de livro - Morte Gêmea - e contos, e apaixonado pelos afins da televisão. Integra a equipe do TV Foco/iG desde maio de 2013, assinando atualmente a coluna semanal ‘Ligado na TV’, na qual lança seu olhar sobre o curioso universo televisivo. (e-mail: [email protected])