O analista James Akel, com longa e exitosa experiência na televisão brasileira, nos conta um pouco de sua convivência com estes 3 ícones. Desejamos ótima leitura:
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Sem dúvida, a história da TV marca a existência de três grandes nomes: Silvio Santos, Chacrinha e Flávio Cavalcanti.
Embora Silvio tenha sido o mais bem sucedido, com grande capacidade comercial, deixando um império para sua família, não foi o mais completo no palco.
Chacrinha teve uma vida de TV de muito sucesso e foi um personagem raro de grande carisma. Tive oportunidade de conhecer Chacrinha e conviver um pouco de tempo com ele em 1976 quando ele fazia seu programa na TV Record e eu era gerente de marketing de um grande anunciante dele. Todas as sextas a gente se encontrava no fim de tarde no hall do hotel Normandie em que ele se hospedava. Conversamos muito sobre TV e aprendi muito com a maneira de pensar dele.
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Naquele tempo não tinha pesquisa de audiência minuto à minuto que dá o parâmetro que o apresentador do programa precisa ter pra saber se aumenta ou reduz determinado tema, mas Chacrinha tinha isto dentro dele, assim como Flávio e Silvio, com uma capacidade incrível de entendimento sobre o que a dona de casa gostaria de ter no programa.
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Pena, nem sei porque, Silvio não reedita seus grandes shows que eram “Boa Noite Cinderela”, “Porta da Esperança” e “Show do Milhão”. Não tenho dúvidas de que se fizesse isto ele seria líder nos domingos contra quem quer que fosse.
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Mas show por show, o mais completo de todos foi, sem dúvida, Flávio Cavalcanti. Ele tinha grande show e grande jornalismo. Foi único ao somar show ao jornalismo de maneira inigualável, aliás única. Embora outra pessoa assinasse a direção era Flávio quem realmente comandava.
Alguém neste momento vai dizer que Hebe também somava com maestria o jornalismo. Sem dúvida a Hebe da TV Record foi uma rainha no palco e o maior nome feminino da história da TV, mas fora dele quem comandava era a Equipe A de Tuta, Manoel Carlos, Nilton Travesso e Raul Duarte. E muita coisa de Hebe no palco era criada naquele momento por Manoel Carlos que passava tudo pelo ponto eletrônico.
Flávio era rei no palco e fora dele. Tivesse tido Flávio a malícia comercial de Silvio, teria conseguido sua própria emissora na época do Regime Militar. Silvio nisto foi bem mais hábil e não foi traído por pessoas ao seu lado.
Flávio teve grandes decepções que o fragilizaram. A maior delas foi o presidente da Tupi, que era senador aliado ao governo militar, ter feito acordo com a Globo para prejudicar o “Programa Flávio Cavalcanti” para poder dar espaço para lançamento do “Fantástico”. Uma traição inominável justo contra Flávio Cavalcanti que perdeu uma casa que amava por ter dado como garantia bancária de uma dívida da própria Tupi.
Tivesse tido Flávio o vigor que teve Silvio e o Brasil teria uma emissora do padrão de uma CNN na área de jornalismo agregada aos show que ele sempre gostava de mostrar. O famoso juri de Flávio Cavalcanti, de uma classe e competência sem nada parecido, dava o realce necessário e agregava credibilidade ao programa. As polêmicas reportagens colocadas ali no palco ao vivo foram coisas que marcaram a história.
Seu prestígio era tão grande que mesmo quando a Tupi lhe tirou verba de produção, por incrível que pareça para beneficiar a Globo e o “Fantástico”, mesmo assim Flávio conseguia, através de seu amigo Marcos Lázaro, o maior empresário artístico da história do Brasil, cantores de nome sem custo numa época que as emissoras pagavam excelentes cachês aos grandes cantores.
Flávio era único, como único era Chacrinha e único é Silvio. Não podemos deixar de citar que foi Silvio que abriu as portas de sua emissora para que Flávio pudesse terminar sua vida no ar, sonho de todos os artistas. Temos a lembrança de Flávio e de Chacrinha e temos a presença de Silvio que ainda vai nos brindar por bom tempo nos mostrando a arte de fazer TV aberta.
Gênios não tem herdeiros, mas deixam a todos nós as lições e as marcas de paixão pela vida.