Por força de lei, sobra propaganda e falta jornalismo em debate do SBT
02/09/2014 às 16h00
O SBT promoveu um debate no início da noite de ontem, dia 1º, e o formato acabou não agradando a todos. Em uma crítica especializada do jornal O Globo, a jornalista Patrícia Kogut, que avaliou o debate por completo, afirmou que houve um sofrimento por parte do telespectador que acompanhava.
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O jornalista Carlos Nascimento, que foi o mediador do evento, não podia fazer perguntas, apenas ditava o tempo de cada candidato. Os jornalistas do SBT, a Folha de S. Paulo, o UOL e a Jovem Pan fizeram perguntas pertinentes e importantes, apesar dos candidatos só responderem o que queriam.
Aos jornalistas, estava proibido até replicar, para evitar que o candidato fugisse da resposta. A réplica ficava poor conta de um outro candidato, estabelecendo um diálogo de surdos. O jornalista pergunta “y”, o candidato responde “x” e o outro candidato replica “w”, fazendo uma grande confusão.
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Mesmo com tantas regras e proibições, os candidatos acabam entregando aos eleitores quem são e o que pensam (e o que não pensam), servindo pelo menos para saber o que pensam e o que dizem, observando o gestual, os tiques, o nervosismo e uma declaração ou outra em meio à tantas perguntas.
A presidente Dilma Rousseff estava visivelmente nervosa, acompanhada de um caderno dividido em temas, mesmo sendo a única que poderia dispensar esse artifício, já que está na presidência há quatro anos e sabe (ou deveria saber) de cor seus feitos e números que seu partido promoveu no país.
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Quando um candidato lhe fazia uma pergunta, sua expressão demonstrava a concentração de quem tentava entender rapidamente o tema. Por exemplo, quando um candidato falava em “presídio”, ela folheava com angústia o caderno e, quando achava o assunto, e mostrava uma expressão de alívio.
O tédio tomava conta enquanto ela tentava ler as respostas ou as perguntas, sempre meio zangada, meio contrariada, visivelmente incomodada em estar ali. Aécio Neves, do PSDB, fazia esforço para parecer à vontade, causando um paradoxo. Em relação ao debate anterior, diminuíram os risos de deboche.
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Não tinha caderno, mas suas falas pareciam decoradas, sem a espontaneidade indispensável a uma percepção maior de sinceridade. Havia um certo formalismo de sua parte, no momento em que chamava os oponentes de “cara candidata”, num tipo de fala mais apropriado para a tribuna do Senado.
Marina Silva, que foi o alvo da vez, estava mais senhora de si. Falava esticando as frases, num palavreado que o homem comum tem dificuldades de entender, mas transmitia segurança e levava as questões a sério. Apesar de não responder exatamente o que se perguntava, foi a que menos parecia debochar.
Ao fim do debate, pôde se perceber o recado que cada candidato queria dar de si: Dilma se diz a mais experiente, a mais preparada, que evitou o caos que a crise internacional provocaria se ela não estivesse no poder, tendo ainda tirado milhões de brasileiros da miséria e melhorado saúde, educação e transportes.
Aécio diz que o governo foi o mais incompetente de todos os tempos, que os brasileiros querem mudança já, mas uma mudança segura, sem aventuras, com gente que sabe fazer. Marina quer se mostrar como aquela que representa o novo, que sabe o que é bom para o país, sabe reconhecer o que é bom no PT e no PSDB.
As definições são esteriótipos e não retratam a realidade, por não haver liberdade de se perguntar o necessário, apontando-se contradições e buscando respostas sincera, deixando os eleitores confusos, sem saber quem é quem. Como Kogut afirma, por força de lei, nos debates falta jornalismo, sobra propaganda.