Por que Éramos Seis fracassa na Globo e ainda não repete sucesso da versão do SBT?
04/12/2019 às 19h55
Éramos Seis ainda não conseguiu empolgar o público e segue registrando audiência morna na Globo
A Globo surpreendeu muita gente quando anunciou a produção de Éramos Seis, novela baseada no romance homônimo de Maria José Dupré e que já havia ganhado três versões em duas emissoras: na extinta TV Tupi, em 1967 e 1977, e no SBT, em 1994.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Surpreendeu justamente o fato da Globo decidir produzir um remake de uma obra que antes foi exibida em outros canais, algo raro na emissora carioca. Isso ocorreu muito graças ao desejo de Silvio de Abreu, diretor de teledramaturgia, que foi autor da última versão da novela, no SBT, e sonhava ver a história produzida pela Globo.
A última versão de Éramos Seis é considerada a melhor novela da história do SBT. Além de registrar ótimos índices de audiência para a emissora de Silvio Santos, o folhetim surpreendeu pela qualidade da história. Não por acaso, é a única obra do SBT até hoje a vencer as categorias de melhor novela e melhor atriz (para Irene Ravache, que interpretou a protagonista Dona Lola) no Troféu Imprensa.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Com isso, muita gente ficou empolgada para acompanhar uma nova versão da história na Globo. Porém, Éramos Seis já está no ar há cerca de dois meses, ultrapassando a marca de 50 capítulos, e por enquanto, não empolga. A repercussão da história nas redes sociais ocorre apenas em momentos pontuais, e a audiência até aqui é morna, com uma média de 20 pontos na Grande São Paulo.
A Globo ainda aposta que a entrada da nova fase da história também possa representar uma virada positiva em termos de audiência, mas os números iniciais não chegam a empolgar. Mas afinal, diante da expectativa do público e do sucesso da última versão da história, o que pode justificar os baixos índices do folhetim até agora?
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
A primeira explicação para isso pode partir dos próprios problemas que a Globo enfrenta em sua programação e na faixa das 18h recentemente. Exibida antes, Malhação não consegue engrenar com suas últimas temporadas e vem entregando baixos índices para os folhetins das seis.
Ainda em relação ao horário, as duas últimas produções das 18h também não empolgaram e registraram baixa audiência, sendo que Espelho da Vida foi um verdadeiro fiasco, com uma média geral de apenas 17 pontos, algo que mantém a faixa em baixa.
LEIA TAMBÉM:
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
● Irreconhecível, mais velho e fora do país: Pablo, do Qual é a Música, vive nesta situação hoje
● Lembra dela? Atriz mirim de Alma Gêmea está irreconhecível, vivendo longe dos holofotes e com profissão comum
● Eterno Cirilo de Carrossel dá basta, assume sobre sexualidade e confessa “Eu sou”
O segundo fator diz respeito às próprias características de Éramos Seis. O folhetim apresenta uma trama extremamente simples, lenta e familiar, sem um grande vilão, agilidade ou viradas rocambolescas. A autora estreante Ângela Chaves segue à risca a obra original e aposta em um desenvolvimento mais cadenciado da história, algo que vem se tornando uma característica desse horário, mesmo sem a correspondência da audiência.
Tramas com essas características, focando em conflitos humanizados e desenvolvimento de personagens mais realista, são consideradas “modernas”, e que até rendem elogios da crítica especializada e de um público mais elitista ou intelectual nas redes sociais, mas não chegam a engajar a grande massa, visando bons resultados em termos de audiência.
+ Crise na Globo? Descubra os motivos por trás da misteriosa saída de grandes estrelas da emissora
Um exemplo claro dessa diferença de propostas e resultados são as novelas de Walcyr Carrasco. O autor se tornou o principal novelista da Globo justamente por alcançar grande audiência com suas últimas obras e em várias faixas, inclusive às 18h, com Êta Mundo Bom — que curiosamente foi o último grande sucesso do horário, em 2016.
Walcyr aposta em tramas rocambolescas, com vilões evidentes e caricatos, no maior estilo de folhetins mexicanos, que despertam a ira da crítica especializada e do público mais elitista e intelectual, mas que garantem bons índices de audiência, o que, no fim das contas, é o que sempre prevalece na televisão.
É impossível não fazer uma comparação e imaginar que a falta de vilões clássicos, agilidade e conflitos impactantes contribuem para o insucesso de Éramos Seis até aqui. Muitos acreditavam que tramas com características mais rocambolescas e absurdas já estariam defasadas, “ultrapassadas”, mas na audiência, o público mostra o contrário e evidencia sua preferência.
+ Pânico invade A Fazenda por duas vezes, leva notícias externas aos peões e causa pavor na Record
É preciso considerar o contexto da época, levando em conta o comportamento do público e da própria televisão. Em outras épocas, a história da novela Éramos Seis poderia se encaixar bem na Globo e cair no gosto do público, assim como ocorreu no SBT, e como ocorria na própria emissora carioca, por exemplo, com as histórias familiares e cotidianas de Manoel Carlos — que fracassaram em tempos recentes e provocaram até a aposentadoria do autor, em 2014, após Em Família.
No momento atual, as características da trama não parecem casar bem com o gosto popular, que demonstra preferência por histórias mais ágeis e exageradas, para assim ser possível alavancar essa faixa de horário, colocando um grande ponto de interrogação na cabeça da Globo sobre qual estilo investir.
Autor(a):
Renan Santos
Formado em jornalismo, fui um dos principais jornalistas do TV Foco, no qual permaneci por longos anos cobrindo celebridades, TV, análises e tudo que rola no mundo da TV. Amo me apaixonar e acompanhar tudo que rola dentro e fora da telinha e levar ao público tudo em detalhes com bastante credibilidade e forte apuração jornalística.