Globo, SBT e Record enfrentaram quedas de audiência nos últimos anos, mas será que essa redução faria a TV aberta deixar de existir?
A forma de produzir TV mudou bastante de uns anos para cá, principalmente por causa da chegada dos streamings ao Brasil. Todas as emissoras, inclusive a Globo, enfrentaram uma queda brutal de audiência, mas existe uma série de motivos que pode ter levado a essa fuga do público da frente da telinha.
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Várias empresas começaram a desenvolver conteúdos próprios referentes a novelas, séries e até mesmo conteúdos jornalísticos na internet. Antes, era necessário acompanhar em tempo real uma novela para saber o que ia acontecer no desenrolar da trama. Agora, é possível assistir aos capítulos quando e onde quiser através dos celulares.
Chega até ser óbvio explicar o motivo da fuga de tantas pessoas de frente da televisão, mas é importante fazer várias ponderações sobre o que a TV ainda representa para o público brasileiro.
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Um dos maiores estranhamentos se deu pelos recordes negativos de audiência que a Globo enfrentou nos últimos três anos com seus folhetins. “Um Lugar ao Sol”, de 2021, representou a pior audiência de uma novela das 20h/21h em mais de 50 anos de história da faixa na tela da emissora carioca.
Recentemente, outras tramas também registraram números baixos e que não conquistaram o público. “Nos Tempos do Imperador” (2021), na faixa das 18h, e “Cara e Coragem” (2022), às 19h, também amargaram as piores médias de audiência das últimas décadas. Até “Malhação”, que era um formato consolidado, simplesmente deixou de existir.
A empresa Kantar Ibope, que faz a medição de todas as audiências da TV aberta e fechada, afirmou ao portal Na Telinha que as novelas têm seis vezes mais engajamento que o jornalismo. A importância dos folhetins é tão grande que vários canais se apoiam nesse tipo de produção, como a Record, que também faz altos investimentos nas tramas bíblicas.
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Uma pesquisa Inside Video, no entanto, garante que os números de audiência, mesmo com queda, representam uma quantidade gigantesca de pessoas sintonizadas na TV. Somente em 2021, foram cerca de 205.876.165 que assistiram à televisão linear no país, ou seja, aberta ou fechada.
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QUEDAS NAS PRODUÇÕES POR UM TEMPO
Com a pandemia, milhões de pessoas foram obrigadas a ficarem em casa e não saírem em hipótese nenhuma, já que o coronavírus ainda era uma grande incógnita e representava muito medo para todos. Isso fez com que as televisões fossem ocupadas por telespectadores, mas com um problema: o entretenimento simplesmente parou por meses.
Várias novelas, séries e programas não puderam ser gravados, fazendo com que as reprises tomassem conta da programação em pleno horário nobre. Ainda assim, “Fina Estampa”, de 2011, chegou a marcar mais de 30 pontos de audiência diariamente. O número é bem maior que as novelas inéditas que entraram no ar na retomada do mercado.
Assim que a vacinação começou, bares e outros eventos começaram a funcionar novamente, tirando o público que estava enclausurado dentro de casa para poder ter convívio social novamente. Isso fez com que vários canais tivessem quedas bruscas de audiência.
Um exemplo disso é possível ver em uma matéria da coluna de Ricardo Feltrin, do Splash, em abril de 2022. No período, a TV registrou uma queda de 11% em relação ao ano anterior. A Globo mesmo teve uma queda de 12%, caindo de uma média diária de 13,3 pontos para 11,6 em março do ano passado.
Outras emissoras se deram bem mal. A Record registrou queda de 9% e o SBT de 16%. A Band se safou e perdeu apenas 1% e a RedeTV! teve uma queda de 30%. A TV fechada também sofreu com uma redução de 24% do público que a acompanhou durante o auge da pandemia.
SERÁ QUE CHEGA LÁ?
A Globo desenvolveu o Globoplay, que a princípio teria algumas de suas novelas e programas clássicos disponibilizados diariamente, além do jornalismo que seria quase que em tempo real publicado na plataforma. O sucesso, proveniente de outras empresas como a Netflix, fez com que a platinada criasse produtos apenas para o streaming.
A emissora já possui sua primeira novela original, “Todas as Flores”, que é um verdadeiro sucesso entre o público e possui uma repercussão absurda nas redes sociais. Muitas pessoas trocaram os gastos com TV por assinatura para os streamings, que apesar de serem muitos, possuem até um preço mais acessível para uma parcela da população.
De acordo com dados da JustWatch, agora no início de 2023, o Globoplay se posiciona como a quinta empresa de streaming com mais audiência. Mesmo com todo o investimento, outras plataformas ficaram à frente, como a Netflix, a Prime Video, a Disney+ e a HBO Max. A empresa brasileira possui quatro vezes menos audiência que a primeira colocada.
Ainda que isso aconteça, os planos da Globo para transformar o serviço no maior do país estão a todo vapor. O streaming é o segmento do momento e o Globoplay possui um catálogo invejável, que vai desde suas novelas clássicas dos anos 1970 até sucessos de Hollywood, passando por novelas turcas e mexicanas. Conteúdo é o que não falta.
É importante parar para pensar que o Brasil ainda tem mais da metade da população em situação de vulnerabilidade. A pesquisa de ecnologias de Informação e Comunicação nos Domicílios brasileiros (TIC Domicílios) 2021 demonstra que 33,5 milhões de brasileiros sequer possuem acesso à internet.
Ainda que 82% (2021) da população use internet, não são todas as pessoas que possuem recursos para assinarem um, dois ou mais serviços de streaming. A TV aberta ainda é de graça e ainda é uma grande forma de entreter, principalmente em locais distantes das grandes metrópoles.
MUITA AUDIÊNCIA, MESMO NOS PIORES DIAS
A área rural possui cada vez mais acesso à grande rede de computadores e as facilidades do celular também cooperam para que exista uma fuga de telespectadores de frente da telinha. O que muita gente não pensa ainda é que, mesmo em seus piores dias de audiência, a Globo possui mais telespectadores que a melhor audiência de várias emissoras dos Estados Unidos.
Quem fez esse comparativo foi Antônio Fagundes, em 2019, durante uma coletiva de imprensa. “Você pega um ‘Game of Thrones’, que faz sucesso lá fora… Mas tem 16 milhões de espectadores. Isso aqui não quer dizer nada, nós temos 40, 60 milhões. Por mais que reclamem que a audiência está caindo, em lugar nenhum do mundo uma TV tem o ibope que a Globo tem. Então eu acho que a TV aberta ainda vai existir durante muito tempo e com muita força”, declarou.