Renovado, Rafael Ilha fala sobre biografia e exalta Sônia Abrão: “Hoje ela faz o que parentes meus não fazem”

18/11/2014 às 21h40

Por: Marcos Martins
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Rafael Ilha mudou o seu visual
Após anos sob domínio das drogas, Rafael Ilha aparece renovado e fala sobre superação e novos projetos em entrevista exclusiva concedida ao TV Foco (Foto: Divulgação)

Após anos sob domínio das drogas, Rafael Ilha aparece recuperado e fala sobre superação e novos projetos em entrevista exclusiva concedida ao TV Foco (Foto: Divulgação)

A vida de uma celebridade, que arrasta multidões por onde passa, é recheada de altos e baixos. Isso não é novidade para ninguém, mas e quando essa celebridade enfrenta uma vida digna dos melhores filmes de drama, e é obrigada a abandonar tudo em razão de um grande problema? Esse é o caso de Rafael Ilha, ex-integrante do grupo Polegar. Desde pequeno, apesar de uma infância normal, o cantor reforçava a sua personalidade forte ao confrontar os outros meninos e até mesmo despertar a ira das vizinhas ao atirar pedras e fazer traquinagens. Em determinado momento, o pequeno Rafael já estava com grandes responsabilidades nas costas. Apesar de atleta excelente no futebol, a carreira artística teve peso maior na sua escolha. Daquele ponto em diante, o sucesso veio à tona.

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Após dezenas de comerciais, já havia virado o queridinho da publicidade infantil sendo um dos mais requisitados dentro do meio, mais tarde convidado até para apresentar programa de televisão – algo que exerceu com êxito. Esses foram alguns dos motivos para que o carioca recebesse uma proposta para ocupar as funções de vocalista e guitarrista na boy band Polegar, que faria sucesso absoluto com o público jovem por bastante tempo. A situação parecia estar dentro dos trilhos, até que uma das piores mazelas da sociedade moderna tomou conta do seu corpo: o vício em drogas. A partir daí, um futuro brilhante descia ralo a baixo. Tempos difíceis… Algo que culminou na sua saída do grupo. A dependência pelo crack aumentava a cada dia, e diversas internações viraram notícia nos veículos da grande mídia. Ao ser expulso de casa, ele chegou a morar por um bom tempo nas ruas.

Em 2000, segundo as suas próprias declarações na época, ele já estava livre do vício. Montou a própria clínica para viciados em drogas, casou-se e teve um filho, Cauã Ilha. Rafael ainda entrou em contato com a música gospel, e até hoje possui ligação bem pessoal com a religião. Aparentemente longe das polêmicas, novas complicações surgiram nos anos seguintes como porte ilegal de armas, tentativa de sequestro e atentado contra a própria vida. Desde esse período conturbado, o cantor conta com a ajuda de uma fada madrinha: Sônia Abrão. A relação dos dois é muito forte, seja pessoal ou profissional.

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Atualmente, o cantor fez um balanço de tudo o que já aconteceu e revela ser uma pessoa abençoada. “Além de ter dado a volta por cima, mostrei que é possível superar o vício. Sou parte de um número mínimo que consegue sair do inferno de lama que eu saí”, desabafou. Rafael Ilha já prepara o retorno aos holofotes, com a reunião do grupo Polegar para gravar um DVD comemorativo no próximo ano, lançamento da sua biografia, escrita pela amiga e jornalista Sônia Abrão, da RedeTV!, e também há expectativa para um filme sobre a sua história de vida, que deve sair do papel em breve.

Confira a entrevista na íntegra:

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Marcos Martins: Como foi a sua infância antes de ingressar na carreira artística?

Rafael Ilha: Tive uma infância normal. Joguei muito futebol, pulava em árvore, em rampa de madeira com a bicicleta, jogava bolinha de gude, “tacava” pedra na vizinha, brigava com os moleques na rua… Tive uma infância normal, mas sempre me destaquei no futebol. Joguei nos clubes Vitória (BA) e São Paulo (SP). Minha infância foi como a de qualquer outra criança.

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M.M.: Você começou a trabalhar muito cedo e, consequentemente, amadureceu antes do tempo previsto. De que forma isso prejudicou você?

R.I.: Realmente, por começar a trabalhar cedo, ainda mais no meio televisivo, com certeza amadureci mais rápido. Isso não me prejudicou em nenhum momento da minha vida. Sou um grande homem, de muita experiência, um grande pai e marido [ou pelo menos tento ser]. As pessoas me veem de um jeito grosso, mas não é verdade. Pelo contrário. Sou muito correto com relação a detalhes de família e comportamento. O amadurecimento “prematuro” não atrapalhou.

M.M.: De onde partiu o convite para integrar o grupo Polegar?

R.I.: Na época, eu estava em uma agência de publicidade de São Caetano do Sul (SP). Era a maior agência, onde tinha Simony e o pessoal do Balão Mágico, Trem da Alegria, Rodrigo Faro, Angélica, Gugu, Dominó… Todo mundo veio dessa agência. Na época, o Gugu me chamou para o escritório dele na Lapa (SP) porque começaria a criar um grupo que tocava. Fiz uma entrevista com ele e o diretor da empresa PromoArt, na época Carlinhos Muniz. Eles perguntaram se eu cantava e tocava algum instrumento [na época prometi que aprenderia rapidamente a segunda função]. Ali já fui um dos primeiros a entrar no Polegar.

Confira uma participação do grupo no “Domingão do Faustão”:

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M.M.: Há algumas semanas, o cantor Roy Rosseló, Ex-Menudo, afirmou no reality show “A Fazenda” que sofria abusos de um produtor do conjunto. Você já passou por alguma situação como essa ou de extorsão até mesmo física, com a rotina intensa?

R.I.: Pelo que o Roy falou, ele e os meninos eram obrigados a ter relações. Já fui cantado por produtores de TV e empresários, mas obrigar… Ninguém me obriga a nada há muitos anos. Graças a Deus, nunca passei por nada desse tipo. Se alguém tivesse a infelicidade de tentar comigo numa situação como essa, se daria mal. Eu, com 13, 14 anos, já era “encrenqueiro”. Pegaria um pedaço de vassoura ou qualquer coisa pesada e jogaria na cabeça do “figura”. [risos]

Eu não posso considerar extorsão física. O grupo fazia muito sucesso e, automaticamente, muitos shows [às vezes seis, sete por final de semana]. Era cansativo, mas fruto de trabalho que refletia em dinheiro. Não sei se era uma extorsão física. Houve extorsão na época que me envolvi com drogas. Estava no grupo e não podia terminar o meu tratamento, ficar internado da maneira como deveria [porque o grupo não sabia lidar muito sem mim]. Se era necessário três meses de internação, ficava um e meio, dois. Houve um pouco dessa falta de bom senso. Pensando bem, agora falando com você, faltou senso de humanidade.

M.M.: Quais eram as maiores dificuldades enfrentadas dentro do Polegar?

R.I.: Uma das maiores dificuldades do grupo era o cansaço. Todos muito jovens, e eu sou muito careta. Sentia muita falta de casa. Sou bastante caseiro. Gosto de ficar com a minha esposa namorando, passear com meu filho, fazer churrasco, cozinhar (…). Sou muito família. Essa era a pior parte porque, às vezes, eu ficava seis meses sem voltar para casa. O resto era besteira, ciuminho [sic]… “Ah, porque um canta e o outro não”. Coisas de moleque, e a maior dificuldade era essa.

M.M.: Você sente falta dessa época?

R.I.: Sinceramente, não sinto falta. Foi um dos degraus que subi na minha vida. Eu e o Rodrigo Faro fazíamos todos os comerciais de “jovenzinhos”. Quando aconteceu o Polegar, eu estava no dilema entre ser artista ou jogador de futebol. Já estava encaminhado no esporte e apareceu essa proposta.

M.M.: Como você resume esses anos dentro do grupo?

R.I.: Foi tranquilo. Para mim era um trabalho, não era curtição, aquela coisa de “Ai, eu vou curtir para caramba todo dia, todo final de semana”. Ganhava dinheiro, mas também sacrifiquei a minha adolescência. Perdi muita coisa. Queria transar, mas não podia ter uma namoradinha fixa porque viajava bastante. Não podia transar na época com fãs porque era menor de idade. Esse tipo de coisa era difícil.

M.M.: Na Record, você apresentou por algum tempo o programa “Casa Mágica” após deixar o Polegar. O que essa experiência acrescentou profissionalmente?

R.I.: Quando apresentei o programa na TV Record, foi muito bacana. Ele já existia. Começou com o Alan [Frank], tecladista do Polegar, e a Silvinha que na época era assistente de palco do Gugu, namorada, noiva, alguma coisa. [sic] Investiram muito dinheiro e o programa não estava se saindo bem. O pessoal da Record meio que “exigiu” que tirassem o Alan e me colocassem no lugar dele. Depois disso, o programa arrebentou. Era um dos primeiros lugares de ibope. Se não era primeiro, ficava depois da Globo. Tivemos prêmios, foi legal, e acabei namorando a Silvinha. [risos]

M.M.: Em qual período ocorreu o seu primeiro contato com as drogas?

R.I.: Meu primeiro contato aconteceu quando eu tinha por volta de 12/13 anos, ao frequentar matinês com os amiguinhos, danceterias, essas coisas. Conheci a bebida, a cerveja, maconha e a cola.

M.M.: A partir de qual fonte você conseguia essas substâncias?

R.I.: A fonte no começo eram os meus próprios amigos. Usava deles e com eles. Depois fui me informando e, às vezes, para pegar maconha visitava algumas favelas de São Paulo.

M.M.: Esse foi o motivo de você ter deixado o Polegar?

R.I.: Sim, as drogas foram o motivo. Estava muito comprometido e de “saco cheio”. A dependência química estava em um estágio avançadíssimo, e eu muito jovem. Falaram que se eu não parasse de usar drogas sairia do grupo. Respondi: “Então podem preparar a minha saída”.

M.M.: Como a sua família lidou com toda essa polêmica?

R.I.: Minha família sofreu bastante. Minha mãe, avó… As pessoas que me amavam foram as que sofreram mais. As drogas são isso: efeito dominó, cascata. Se destruísse apenas a vida e a saúde do dependente, era menos mal. Mas ela destrói a família e todos que estão em volta.

Há um documentário na internet sobre a trajetória de Rafael:

https://www.youtube.com/watch?v=PIchrHL70Ew

M.M.: Em 2002, você foi preso duas vezes, sendo uma delas por porte ilegal de armas. Foi um mal entendido?

R.I.: Fui preso por porte de armas, mas não foi um mal entendido. A polícia não havia achado a arma, e sim fui eu quem entregou porque mataram um funcionário meu que brigou com o vizinho. Esse vizinho foi até a porta da empresa e estava “apagando” os funcionários. O meu jardineiro foi assassinado ao sair do local. Fui atrás dos assassinos, e quando a polícia chegou reviraram tudo. Perguntaram se eu estava armado e eu confirmei. Em seguida, entreguei a arma.

M.M.: Nessa época que surgiu o interesse em fazer algo na música gospel?

R.I.: Meu contato com a música gospel aconteceu depois da minha última internação, em 2000. Fique internado no período de agosto desse ano até outubro de 2001. A Mara Maravilha, grande amiga, me visitou nessa clínica evangélica radical. Depois que saí de lá, comecei um trabalho gospel na gravadora dela.

M.M.: Como é o seu contato com a religião?

R.I.: Hoje o meu contato com a religião é muito pessoal. Tenho espiritualidade muito forte. Me sinto muito melhor orando sozinho no meu quarto, de olhos fechados, às vezes no carro… Tenho um contato muito pessoal e íntimo com Deus. Hoje não preciso ter uma bandeira da religião que frequento ou deixo de frequentar. Entro em qualquer casa que seja de Deus. Igreja católica, evangélica, messiânica… Tudo que louva o nome do senhor Jesus e de Deus, eu entro. Só não entro nessas coisas erradas, que mexem com demônio, “macumbaria” [sic]…

M.M.: Em outubro de 2009, você passou por apuros durante uma tentativa de suicídio. Aconteceu algo em específico que o fizesse tomar essas medidas drásticas ou simplesmente chegou ao ponto máximo que dava para suportar?

R.I.: Tive uma crise extrema de depressão, na qual tentei atentar contra a minha própria vida. Cortei meu pescoço e fui para uma clínica. Fiquei um mês e meio internado, tratei a depressão e não fiquei com sequelas. Foi a junção de uma série de fatores externos que me levaram a esse ponto.

M.M.: Há dois meses, o psicólogo Haroldo Lopes foi afastado do programa “A Tarde é Sua” por, supostamente, ter discordado da Sônia Abrão em relação a você, além de críticas à direção pelo Twitter. Esse foi o real motivo do afastamento de Haroldo?

R.I.: Em relação ao Haroldo, não tenho a mínima ideia. As pessoas estão equivocadas em relação ao caso. E outra coisa: se ele foi afastado, algum problema teve. A Sônia não é uma profissional infantil e iniciante, muito menos o Elias Abrão de pensar assim: “Não concorda com o que eu falo, então vá embora”. Os dois têm personalidade muito forte. Antes de qualquer coisa, são profissionais.

M.M.: Qual a sua relação com a Sônia Abrão hoje?

R.I.: Falar da Sônia é, ao mesmo tempo, muito fácil e muito difícil. Desde 2009, quando ela esteve na clínica para me visitar junto com o Elias e a Margareth [irmã da Sônia]… Com uma nova oportunidade de vida, de trabalho, de tudo. Até hoje, desde aquele dia, criamos um vínculo naturalmente muito forte. Se quiser arrumar confusão comigo, com minha esposa e meu filho, é só falar alguma coisa ruim da Sônia. Hoje ela faz o que parentes meus não fazem. Ninguém faz por mim o que ela tem feito nos últimos anos. É uma pessoa muito especial, que está o tempo inteiro nos nossos corações. Tem todo o respeito e admiração do mundo!

M.M.: Há algum sentimento de gratidão?

R.I.: Sim, e esse sentimento de gratidão será eterno. Ela pode amanhã me mandar embora da Câmera 5 [produtora], que vou ter o mesmo respeito e gratidão. As pessoas confundem aquela pessoa séria, aquele perfil, mas a Sônia é uma “mãezona”, amorosa e carinhosa. Se precisar tirar dela para dar para você, ela tira. Será eterno esse sentimento.

M.M.: Como foi reencontrar os integrantes do Polegar depois de tanto tempo?

R.I.: Foi super legal o reencontro, de forma séria, para um registro [a gravação do DVD de 25 anos após o carnaval]. Um show único! Depois os meninos sairão em turnê, mas provavelmente não estarei nesses shows por causa da divulgação da minha biografia. Algo muito importante, e me dedicarei plenamente a isso. Também me dedicarei a um programa que eu e minha esposa iremos fazer na internet [pela VaiTV]. Um programa de variedades que estávamos batalhando e agora ganhamos esse espaço de uma hora e meia, às quintas-feiras, das 22h30 até meia-noite. Tem agora biografia, Polegar, programa, neném a caminho, filme… Muitas coisas para começar o ano arrebentando.

O grupo retornou em edição do “Domingo Show”:

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M.M.: Antes de tudo, parabéns pelo bebê que a sua esposa Aline Kezh espera. A gravidez veio em boa hora?

R.I.: Veio apenas para confirmar o que todos observam o tempo inteiro. Para fechar com chave de ouro tudo o que estamos vivendo. Sempre após a tempestade, vem a bonança. Como falei para você antes, tenho um relacionamento bem estreito com Deus, o “patrãozão” mor. Estava até brincando com minha esposa, ao dirigir, e pensando: “Deus é bom demais comigo”.

Falei para ela que Deus tem abençoado tanto porque pensa “Meu, dei para o gato sete vidas. O cara teve nove overdoses com paradas cardíacas. Além de tudo fechou com o anjo da guarda e o anjo deixa de me dar informações. Então vou abençoar porque até hoje o anjo da guarda está ao lado do cara” [sic]. Sou muito crente do poder superior que, com certeza, manda tudo para as nossas vidas. As pessoas não entendem porque Deus é tão bom comigo. É porque sou “fechadão” com ele. [risos]

M.M.: Como vocês se conheceram?

R.I.: Ainda estávamos casados. Foi na fila de um desses restaurantes de peso no shopping. Ela estava na minha frente e nós reclamamos de uma comida e puxamos assunto. Depois me disse que era casada com um diretor de uma empresa de comércio exterior… Papo vai, papo vem, cada um foi para o seu lado. Ao final de 2012, nos reencontramos pelo Facebook. Há três meses havia me separado e o casamento dela estava falido. Nos reencontramos e no início do ano seguinte já estávamos juntos.

M.M.: O que Aline representa hoje na sua vida?

R.I.: Resumo assim: minha alma gêmea.

M.M.: É verdade que a sua história pode ganhar as telas de cinema?

R.I.: Exato, mas lançaremos primeiro o livro um pouco antes da Bienal, em São Paulo. Estamos vendo e provavelmente vai ganhar as telas de cinema e, com certeza, Meu Nome Não É Jhonny e outras produções vão ficar bem para trás, não vai dar nem para o cheiro [sic].

M.M.: Como está a biografia?

R.I.: Repleta de muita coisa que eu nunca falei na vida. Nota 10 o que a Sônia fez! Já estamos com 200 páginas apenas da biografia, e acho que umas 30, 40 de material fotográfico e esse mesmo número anterior de depoimentos de amigos. Faustão, Leonardo, Renato Aragão, Rodrigo Faro e outros bem próximos.

M.M.: Quais são as expectativas para o lançamento?

R.I.: Sônia, minha esposa e eu trabalhamos diretamente. Pelo ao menos uma ou duas vezes por semana estávamos nos reunindo para detalhes, sincronia de datas e notícias. A Sônia é muito detalhista. As expectativas são as melhores. Não tem como pensar se dará ou não certo porque já deu. Tenho certeza que será um sucesso, não apenas na parte literária como também na cinematográfica.

M.M.: Rafael Ilha por Rafael Ilha.

Guerreiro de fé. São Jorge puro e na veia. Não tenho dúvidas. Sou filho dele mesmo! É o meu protetor.

M.M.: Hoje você se considera um homem que deu a volta por cima?

R.I.: Com certeza! Além de ter dado a volta por cima, mostrei que é possível superar o vício. Sou parte de um número mínimo que consegue sair do inferno de lama que eu saí. Fumava sessenta, setenta pedras de crack por dia. Foram treze anos de dependência. Não tenho uma sequela sequer. Basta ver a imagem de quando fui preso pela primeira vez, a situação que eu estava, e o jeito que estou hoje. Na época que saí do Polegar eu tinha uma coisa e hoje tenho dez vezes mais em todos os sentidos. Maturidade, responsabilidade, “trampos” para fazer, preocupações com a família… Não tenho dúvidas de que dei a volta por cima. Infelizmente, sou um número mínimo, mas por fazer parte desse número mínimo, me considero forte.

O grupo também participou do programa “Mulheres”:

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M.M.: Como você reage ao ler mensagens raivosas pela internet o recriminando por tudo o que já aconteceu?

R.I.: Normalmente, essas mensagens raivosas vêm de pessoas ignorantes e com inteligência, cultura e instrução bem inferior à minha. Bem inferior. Não só isso, mas também de pessoas que possuem instrução e que para mim são pessoas ignorantes como as outras. Dependendo do que falam, mando logo para “aquele lugar” e já era. Quem pode olhar para o umbigo dos outros?

Uma mãe de família fala: “Ah, você usa drogas, um drogado”. [ironia] E ela? Quer dizer que lá atrás, quando seu marido estava trabalhando, ela “deu no coro” com o porteiro, mas hoje é uma mãe de família. Dedicada, vai à igreja, mas já traiu o marido. Já foi, em algum momento, minutos, uma vagabunda. Qual advogado pode falar para minha cara e falar que sou isso ou aquilo, se ele já foi corrompido, por exemplo. As pessoas não podem falar para as outras. Todo mundo já errou na vida, de outras formas, mas errou. Destratar mãe, pai, filho, atropelar bêbado uma pessoa… Ninguém pode falar nunca.

M.M.: Qual recado você deixa para o público não apenas recente, mas para aquele que acompanhou toda a sua trajetória?

R.I.: As pessoas perguntam: “Rafael, do que mais você se arrepende?”. A única coisa da qual me arrependo é de tudo que passei, escolhas de caminhos que quis para minha vida e trilhei. Me arrebentei, levantei, fiz os meus curativos… A única coisa da qual me arrependo na vida foram os quinze anos perdidos nas drogas. Esse é o meu maior arrependimento. É o que a droga faz: perder tempo, gastar dinheiro e te destruir.

Para as pessoas que não me conhecem e daqui para frente podem até pesquisar sobre minha história, não percam o tempo que perdi. É muito precioso e você não tem de volta, não pode comprar, não recupera. Não percam o mesmo tempo que eu perdi com essa coisa demoníaca que é a droga.

Por Marcos Martins (@MarcosMartinsTV)

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Autor(a):

Jornalista apaixonado pelos meios de comunicação, em especial a TV. (TWITTER e INSTAGRAM: @marcosmartinstv)

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