A maioria dos telespectadores não sabe, mas a telenovela como você conhece hoje passou por várias fases até chegar ao “estilo brasileiro de ser”. Após a ideia ousada de Assis Chateaubriand ao implantar a TV no Brasil, no início da década de 50, quando o rádio era o principal meio de comunicação. essa paixão nacional começou a criar corpo. O formato da novela brasileira foi construído a partir de quatro itens: folhetim francês do século XIX, radionovelas, melodrama e soap operas.
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O folhetim surgiu durante a Revolução Industrial. Com a França ainda no processo de alfabetização, a imprensa e a literatura tornaram-se populares em 1836. O folhetim surgiu no Brasil em um período próximo, mas o país não acompanhou o desenvolvimento que ocorreu na França; Possui os chamados “ganchos de tensão”. Um acontecimento muito importante da narrativa é paralisado, aumentando o interesse e a expectativa do leitor que, para saber do desfecho, precisava comprar o jornal ou a revista – onde eram veiculados – no outro dia, com a continuação da trama.
Os temas dos folhetins, como o mocinho pobre que é rico e acaba descobrindo no decorrer dos capítulos, o pai que tenta encontrar o filho perdido, amores proibidos, entre outros, são constantemente utilizados nas telenovelas. Mesmo com essa possível continuidade de gênero (folhetim à novela), houve rupturas devido aos novos públicos, às novas tecnologias e objetivos diferentes.
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Em 1930, foi ao ar a primeira soap opera nos Estados Unidos, com narrativa prolongada e comercial, pois influenciava o consumo dos ouvintes. As radionovelas – com sucesso inicial em Cuba – chegaram ao Brasil na década de 40 e possuíam patrocínio de empresas de produtos para o lar, cujo público-alvo era as donas de casa. As radionovelas cubanas seguem a linha das soap operas, mas o diferencial é que elas possuem grande carga de drama e tragédias, sempre com enfoque ao amor.
O melodrama é um gênero teatral desenvolvido a partir do século XVIII, que possui influencia até os dias de hoje. Tal gênero ressalta determinada característica sentimental dos personagens, sejam eles mocinhos ou vilãos, com o objetivo de chamar atenção e comover quem está assistindo. Isso explica o “exagero emocional” das novelas latinas, como, por exemplo, as mexicanas – atualmente transmitidas pelo SBT, com sucessivas reprises que sempre alcançam bons números de audiência.
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Na década de 70 houve uma preocupação – partida não apenas das emissoras, mas também do mercado publicitário – em tornar as narrativas mais próximas da realidade. Assim, seria possível atingir maior parte do público e aumentar a quantidade de lucros. As telenovelas deveriam acompanhar as mudanças urbanas ocorridas na sociedade brasileira. Beto Rockfeller, que foi ao ar pela TV Tupi em 1968, é um grande marco dessa modernização narrativa. Em 1990 estreou Pantanal, com autoria de Benedito Ruy Barbosa, que era contratado da Globo. A novela foi um sucesso tremendo, assustando a todos. Anos depois Benedito retornou à emissora e escreveu novelas no mesmo “universo” que a anterior, como O Rei do Gado.
Em 1995, seguindo a modernização implantada pela emissora da família Marinho, foi inaugurado o Projac, o maior núcleo de produção televisiva da América Latina. Se hoje há superioridade da platinada no que diz respeito às telenovelas, foi tudo em razão desse longo processo não apenas narrativo, mas de muito investimento. As demais emissoras apenas nos últimos anos conseguiram entrar de vez no mercado e devem movimentar o setor. Convenhamos, isso é bom para ambas as partes: telespectador, profissionais e emissoras. Quanto mais concorrência, mais busca por qualidade haverá!
Por Marcos Martins (@MarcosMartinsTV)