Silvio Santos sempre se indispõe com o jornalismo de sua emissora, e não é de hoje! No fim dos anos 1990, foi criado um manual de telejornalismo pelo canal, o qual os profissionais do Jornalismo do SBT precisam seguir as orientações à risca e que contrariam preceitos básicos da profissão, a ponto de existir um documento que informa que “não há lugar para o jornalismo desvinculado dos interesses mercadológicos” na emissora e que o setor “não pode fugir das regras de administração” da rede de Silvio Santos.
O controverso manual não tem apenas este ponto sobre o veto aos conteúdos que possam interferir na relação do SBT com seus anunciantes, mas também, os profissionais recebem o alerta de que o jornalismo da emissora precisa ser otimista mesmo durante a cobertura de tragédias, que comumente costumam serem ignoradas pela programação do canal. “O tom do nosso Jornalismo deve ser otimista, precisando mostrar que mesmo nas situações mais trágicas é possível dar a volta por cima”, afirma o documento.
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Silvio Santos criou o manual de telejornalismo durante a gestão de Marcos Wilson, que era diretor do departamento entre 1988 e 1997. O jornalista foi o responsável pela implantação do Aqui Agora, que foi cancelado no final daquele ano, com um breve retorno em 2008 e eternamente cogitado para ganhar uma nova versão, além do TJ Brasil, concorrente direto do Jornal Nacional, que foi o primeiro telejornal do país a ter um âncora encarregado de comentar as notícias do dia, que ficou a cargo de Boris Casoy.
Silvio Santos assinou um documento em 1988 em que o SBT alertava aos seus funcionários que o departamento de Jornalismo da emissora precisava ter seriedade, isenção, apartidarismo e que deveria ter credibilidade com o público. A carta aborda 14 pontos contrariando doutrinas básicas da profissão.
A carta do empresário, no entanto, é contraditória com o manual criado pela própria emissora. O documento tornado público diz que o comunicador exige que o seu telejornalismo seja isento, mas o manual criado para o setor é explícito ao dizer que “não há lugar” no SBT para assuntos que contrariem os interesses de mercado da emissora — Rachel Sheherazade, perdeu espaço após se envolver em polêmicas com Luciano Hang, dono da Havan.
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Trecho do Manual vem a público
A reportagem do TV Pop teve acesso a um trecho do restrito manual de telejornalismo do SBT. Confira abaixo o texto de uma das páginas do manual:
“Modernidade – A TV é um veículo ágil e seu Jornalismo deve ser moderno, dinâmico e, até certo ponto, audaz.
Profissionalismo – Não há lugar para o Jornalismo desvinculado dos interesses mercadológicos. Por que fazer o melhor noticiário se ele não é consumido e vendido? O Departamento de Jornalismo é parte da empresa e não pode fugir das regras de administração do SBT.
Objetivos – Devemos estabelecer metas e objetivos que precisam ser entendidos, assimilados e cumpridos por toda a equipe.
Simplicidade – Não podemos complicar a vida do público, mas sim dar a ele todos os instrumentos que facilitem o dia-a-dia. A informação deve ser simples, transparente, clara e dinâmica;
Otimismo – O tom do nosso Jornalismo deve ser otimista, procurando mostrar que mesmo nas situações mais trágicas é possível dar a volta por cima. Também não agredimos o nosso público em seus costumes e crenças: o respeito ao telespectador é fundamental.
Humanismo – As matérias divulgadas no SBT não podem criticar o ser humano. Elas devem, sempre que possível, encontrar qualidades no ser humano e nas obras, realizações e ideias do ser humano.
Verdade – Damos a notícia exatamente como ela é. Exemplo: alguém só pode ser culpado de alguma coisa após ser condenado pela Justiça. O Jornalismo do SBT limita-se a dar a notícia correta. E quando erramos, por culpa ou engano, devemos imediatamente corrigir a notícia, dando-lhe a versão verdadeira e insistindo para que ela se sobressaia e seja de conhecimento do público.”